Filho pergunta à mãe se morrer dói. Tem 10 anos (mas um motivo forte para a pergunta)

Terá sido violado cinco vezes em 12 dias. Os três suspeitos devem escapar. Autoridades acusadas de abafar o assunto.

É uma história forte, triste. Parece ter excertos de filme ou novela, mas é real.

Uma criança de 10 anos terá sido violada cinco vezes em Kyzyl, no sul da Rússia. E as consequências foram bem visíveis.

O julgamento está a decorrer. São suspeitos três adolescentes que estudam no ensino secundário, em O-Shynaa; dois tinham 17 anos e um tinha 15 anos.

A vítima terá sido violada cinco vezes em apenas 12 dias, entre 10 e 21 de Janeiro de 2023, relatou a mãe da criança.

O portal Meduza explica que os suspeitos terão intimidado a vítima, a ameaçar para não contar nada.

Os pais souberam no dia seguinte ao último crime, no dia 22 de Janeiro.

Sobretudo porque a mãe, Isa, reparou que o comportamento do seu filho estava diferente: não comia, passou a estar distante, isolava-se no quarto mal chegava das aulas e deixou de fazer os trabalhos de casa.

Além disso, um momento saltou à vista da mãe: o filho começou a esconder as cuecas e só saía do quarto enrolado num cobertor.

A criança também começou a ter incontinência urinária e incontinência fecal.

A certa altura, o filho chegou a perguntar à mãe se morrer é algo que dói.

A mãe não percebeu logo o que se estava a passar – tinha muitas preocupações com crianças ainda mais pequenas – mas, mal percebeu, pegou no filho e foi logo à polícia, onde a criança foi interrogada durante 9 horas.

Abafar o assunto

A família alega que as autoridades locais estão a tentar abafar o assunto, a “arrumar” o caso.

Não havia psicólogo no interrogatório, durante a qual a criança estava sempre a chorar. Na altura dos exames médicos, apesar da dor evidente, o médico disse à polícia que estava tudo bem com a criança, que nada tinha acontecido. Num hospital local, foi recusada; não teve autorização para ser internada por parte da investigação.

Mesmo dentro de (outro) hospital, apesar de estar sempre a piorar, recebeu alta e teve de sair.

Só no final do mês é que os pais conseguiram abrir um processo criminal. Os suspeitos foram detidos e ficaram em prisão domiciliária.

Há um contexto por detrás deste aparente abafamento: os adolescentes suspeitos são filhos de famílias com estatuto na zona. Pediram à mãe para ela “não lavar roupa suja em público”.

Por ordem superior, e após a ajuda de uma figura pública na Rússia, a criança foi enviada para a capital Moscovo. O caso chegou à Duma, onde um deputado avisou que a criança não recebeu assistência médica e psicológica adequada.

“Parece que os investigadores têm algo a temer. Estiveram dois meses a proteger os suspeitos“, alegou o deputado Alexander Khinshtein.

Dois meses depois do caso, a Comissária para os Direitos da Criança na região, Saizana Tovuu, demitiu-se (embora não seja certo que a decisão esteja relacionada com o processo).

Ameaças

O irmão de um dos suspeitos terá dito à família da criança que, se o irmão fosse preso, ele iria disparar sobre todos eles.

Outros familiares dos suspeitos, conta a mãe da criança, também conseguiram fazer publicações nas redes sociais, simulando que eram dela: insinuavam que a mãe é alcoólica, que ela e o filho mentiram sobre o caso, que não sabe cuidar dos filhos.

E também terão contado outra história nas redes sociais: que a criança foi violada, sim, mas pelo seu pai. Um vizinho contou isso à polícia – mas mais tarde soube-se que apresentou esse relato em troca de dinheiro.

A mãe da criança acredita que os acusados vão escapar deste caso sem qualquer punição: “Os pais dos violadores são ricos, os familiares e amigos têm ligações. Dizem abertamente que gastaram milhões em subornos, que todos estão do seu lado. Têm familiares e conhecidos em todas as estruturas e órgãos, desde a administração da aldeia até ao Governo da República”,

ZAP //

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