Fenómeno extremo de vento no sul do país. IPMA analisa possível tornado

Enric Fontcuberta / EPA

A tempestade Nelson está a afetar o estado do tempo em Portugal, com eventos extremos de vento a provocar danos e desalojados em Silves e no estuário do Tejo. O fenómeno, que do ponto de vista técnico pode configurar um tornado, está a ser analisado pelo IPMA.

A chuva intensa e vento forte e causados pela passagem tempestade Nelson, deixaram provocaram esta quinta-feira inundações, danos e deslocados, com especial incidência no sul do país, onde há registo de centenas de ocorrências.

Um fenómeno extremo de vento no concelho de Silves destruiu duas casas pré-fabricadas, deixando duas pessoas deslocadas, e causou quedas de árvores de grande porte que danificaram viaturas, disse hoje à Lusa a Proteção Civil.

Este evento, que começou pelas 18:20 de quinta-feira na freguesia de São Bartolomeu de Messines, no concelho de Silves, no distrito de Faro, atingiu ainda oito casas, causando danos sobretudo na cobertura.

O evento causou também a queda de postes de telecomunicações e energia, explicou Pedro Araújo, oficial de operações na Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).

As duas pessoas deslocadas foram acolhidas por familiares, referiu ainda, num balanço à Lusa, pelas 00:30, sobre as últimas 24 horas de mau tempo em Portugal continental.

Antes, com início pelas 13:30 de quinta-feira, outro fenómeno extremo de vento atingiu o estuário do Tejo, com períodos de vento muito intenso, que provocaram danos em Almada, Moita e Montijo, no distrito de Setúbal, e precipitação mais intensa a norte do Tejo, na Grande Lisboa, em concelhos como Lisboa, Vila Franca de Xira, Oeiras ou Cascais, detalhou Pedro Araújo.

Entre as ocorrências, destacam-se danos num restaurante em Almada, em coberturas de casas em Sarilhos Grandes (Montijo) e Sarilhos Pequenos (Moita), quedas de árvores e postes de energia e comunicação

Possível tornado

Este fenómeno na zona de Lisboa está a ser analisado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), pois poderá configurar do ponto de vista técnico um tornado.

Segundo adiantou à Lusa o meteorologista Alessandro Marraccini, “por volta das 14h, uma célula convectiva que fazia parte do sistema frontal que atravessou a costa portuguesa durante a tarde, apresentava uma atividade bastante vigorosa e atravessou a região sul de Lisboa”.

“Pouco depois, começaram a chegar-nos testemunhos de fenómenos extremos do evento, sobretudo fotografias, onde parecia haver uma nuvem, uma nuvem em forma de funil, mas que não parecia atingir o rio Tejo”, precisou o meteorologista.

Embora não garanta que se tratou efetivamente de um tornado, possibilidade que o IPMA ainda vai avaliar nos próximos dias, Marraccini admite que, pela informação disponível, o fenómeno testemunhado “terá sido mesmo um tornado”.

Também esta quinta-feira, pelas 14:38, um acidente que envolveu quatro viaturas provocou 13 feridos ligeiros e um assistido, lembrou o comandante da ANEPC.

O acidente levou ao corte do trânsito no sentido sul-norte da A13, entre Salvaterra de Magos e Almeirim, no distrito de Santarém, tendo a circulação sido restabelecida pelas 17:30.

Entre as 00:00 e as 23:59, Portugal continental registou 662 ocorrências, com a maioria a serem quedas de árvore (285), inundações (154), quedas de estruturas (118) e limpezas de via (72).

Estas ocorrências afetaram sobretudo a Grande Lisboa (215), Algarve (58) e Lezíria do Tejo (48), incidindo no litoral Norte e Centro e no Algarve.

Entre as 18:00 de segunda-feira e as 23:59 de quarta-feira, tinham-se registado 601 ocorrências. Na quarta-feira, o dia também foi de “grande instabilidade”, mas as ocorrências localizaram-se sobretudo na região da Grande Lisboa, frisou Pedro Araújo.

“As estações meteorológicas de Lisboa registaram a maior quantidade de precipitação. Estamos a falar de diferenças muito acentuadas, ou seja, houve locais onde nem sequer as estações registaram precipitação e as de Lisboa tiveram valores muito elevados, quase a atingir o nível laranja de precipitação”, explicou.

Na quinta-feira, o mau tempo gerou ocorrências por mais zonas do continente, como Porto, Coimbra, Lisboa e Faro.

Pedro Araújo sublinhou que as recomendações da Proteção Civil para a população se mantêm, devido ao estado de alerta especial de nível azul até às 23:59 deste domingo, pela possibilidade de ocorrerem pontualmente situações resultantes do mau tempo em alguns pontos de Portugal continental.

“Há sempre a possibilidade de poderem acontecer precipitações mais intensas e acompanhadas de trovoadas e rajadas de vento, sendo também que a sua probabilidade vai diminuindo ao longo do tempo”, frisou o comandante da ANEPC.

A tempestade Nelson está a afetar o estado do tempo em Portugal continental, onde até ao domingo de Páscoa, a “precipitação será uma constante”, de acordo com o IPMA.

“Esta precipitação pode ser acompanhada de trovoada e queda de granizo, com maior probabilidade nos dias 29 e 30. Prevê-se queda de neve nas serras da região Norte e na Serra da Estrela, principalmente nos pontos mais altos desta elevação”, alertou.

Mais e piores fenómenos extremos

O vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) disse hoje à Lusa que, devido às mudanças climáticas, Portugal deve preparar-se para mais e piores fenómenos extremos como que o causou inundações em Lisboa na quinta-feira.

“Sempre houve inundações, mas nos anos mais recentes há uma frequência e uma maior severidade”, disse José Carlos Pimenta Machado, à margem do Fórum e exposição internacional de cooperação ambiental de Macau 2024.

O vice-presidente da APA recordou que, entre o final de outubro e o início de novembro, “em 15 dias choveu mais no rio Lima do que chove em dois anos no Algarve”.

“O risco aumentou, por isso temos que viver com o risco e aumentar os projetos de proteção”, sublinhou Pimenta Machado. “Prevenção e muito ordenamento do território, é mesmo a nossa grande aposta”, acrescentou.

Temos que preparar as cidades, territórios e infraestruturas para esta nova realidade, para viver com picos de precipitação, longos períodos de seca e ondas de calor”, disse o dirigente.

Pimenta Machado considera que Lisboa “está a fazer o seu caminho e bem”, dando como exemplo a implementação do plano geral de drenagem, que vai “drenar as zonas de mais vulnerabilidade”.

O plano, no valor 130 milhões de euros, prevê a construção de dois túneis de drenagem do excesso de água das chuvas para o rio Tejo, um com cinco quilómetros entre Campolide e Santa Apolónia e outro de um quilómetro, de Chelas ao Beato.

O dirigente sublinhou ainda a importância de “criar mais zonas verdes para aumentar a infiltração, aumentar as bacias de retenção”, e deu como exemplo a Praça de Espanha, que “já foi testada este ano e funcionou muito bem”.

Pimenta Machado mencionou também o plano para construir a barragem de Girabolhos, em Seia, para “permitir minimizar as cheias” na zona do Baixo Mondego.

Pelo contrário, sublinhou o vice-presidente da APA, o Algarve continua a atravessar “a pior seca de sempre”, apesar das recentes chuvas.

Quatro mortos nas costas de Espanha

Quatro pessoas morreram depois de terem caído ao mar em três acidentes nas costas atlântica e mediterrânica de Espanha, disseram os serviços de emergência espanhóis na quinta-feira.

As mortes ocorreram quando as autoridades espanholas emitiram avisos de ventos fortes e chuvas generalizadas em muitas partes do país.

A polícia espanhola indicou que um menor de idade de nacionalidade marroquina e um adulto alemão morreram na costa mediterrânica, perto da cidade de Tarragona, no leste do país. O adulto alemão entrou na água para tentar salvar o jovem marroquino e ambos morreram, disse a Guarda Civil.

Também um homem e uma mulher morreram depois de caírem no oceano Atlântico na costa norte de Espanha, informaram os serviços de emergência da região das Astúrias. A agência noticiosa espanhola EFE citou as autoridades locais, dizendo que o homem era de nacionalidade britânica.

O serviço de meteorologia de Espanha emitiu avisos na quinta-feira para ventos fortes em várias zonas da península, incluindo a costa das Astúrias, onde podem ocorrer ondas até sete metros de altura.

A chuva levou algumas cidades a cancelar as procissões da Semana Santa previstas para quinta-feira.

ZAP // Lusa

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