Farida foi uma das muitas mulheres yazidis que, em 2014, foi capturada pelo Estado Islâmico, tendo sido usada e vendida como escrava sexual. Esteve, esta quarta-feira, em Portugal para lutar pelo reconhecimento formal do genocídio contra esta minoria étnica.
Farida Khalaf vivia em Kocho, na zona iraquiana de Sinjar, quando, em agosto de 2014, o Estado Islâmico atacou a sua aldeia e levou todos os habitantes yazidis, a minoria étnica perseguida pelo grupo terrorista. O pai e o irmão mais velho foram mortos. A jovem, na altura com 18 anos, ficou em cativeiro, foi vendida, espancada e violada.
Esta quarta-feira, conta o Expresso, Farida regressou a Portugal. Em 2017, foi uma das convidadas das Conferências do Estoril, onde contou o terror vivido às mãos do Daesh. Agora, foi ouvida por duas comissões parlamentares na Assembleia da República e ali deu a conhecer o seu objetivo.
Farida quer que todos os Governos reconheçam formalmente o genocídio contra os yazidis e que todos os envolvidos sejam condenados por crimes contra a Humanidade no Tribunal Penal Internacional (TPI).
“Tento ser a voz dos que ainda estão em cativeiro”, afirma, citada pelo semanário, referindo-se às cerca de três mil pessoas que, quatro anos depois do ataque, ainda estão nas mãos dos terroristas ou continuam desaparecidas.
Desde os partidos de esquerda aos da direita, os deputados presentes concordaram por unanimidade que é fundamental aprovar uma resolução conjunta nesta matéria.
“Tudo faremos para podermos consagrar ao nível da totalidade da Assembleia da República que seja aprovada uma posição para vir a reconhecer estes crimes como crimes cometidos contra a Humanidade, como um genocídio”, assegurou o deputado do PSD, José Cesário, coordenador da comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas.
Já o bloquista Maria Manuel Rola afirmou que “tem de haver uma voz forte em relação a estes crimes” e espera que venha a existir “um reconhecimento por parte do Parlamento português dos crimes cometidos contra a Humanidade e que tenham o respetivo seguimento”.
A deputada centrista Vânia Dias da Silva afirmou que do seu partido “podem esperar todo o apoio” e garantiu que “estará para muito breve uma resolução sobre o genocídio e o reconhecimento da perseguição do povo yazidi”.
Segundo o semanário, a jovem yazidi faz desta a sua luta pessoal e não se importa com as recentes ameaças de morte que levaram a que a sua segurança tivesse de ser reforçada. “Não me importa, não vou parar”, afirma.
Farida não é o seu nome verdadeiro mas é aquele que tem de usar para se proteger dos terroristas que conseguiram chegar à Europa, onde agora vive, depois de ter conseguido escapar e uma rede de tráfico humano lhe ter carimbado o passaporte. Vive na Alemanha, onde voltou a estudar, e tem casamento marcado para breve.
No Parlamento, esteve acompanhada de Teresa Violante, diretora das Conferências do Estoril, e dos representantes oficiais em Portugal da Organização Yazda.
De acordo com o jornal i, a responsável acredita que o recurso ao TPI “não é fácil” mas explica que esta é “a instância própria à luz do direito internacional para julgar, para avaliar, para indagar, para inquirir” sobre este momento trágico da história.
Depois da passagem pela Assembleia, Farida espera agora que Portugal se junte ao Reino Unido, França e Canadá, países que já reconheceram formalmente o genocídio dos yazidis.