Familiares de professores que morreram surpreendidos com denúncia da Fenprof

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Rodrigo Antunes / Lusa

A Fenprof denunciou o caso de quatro professores que terão morrido a trabalhar. Mas as famílias foram apanhadas de surpresa pelo anúncio.

Alguns dos familiares dos quatro professores que, segundo a Fenprof, morreram a trabalhar e poderão ter sido vítimas do excesso de trabalho foram apanhados de surpresa pela denúncia da estrutura sindical e estão incomodados com a polémica provocada pela queixa.

Há duas semanas, a Fenprof pediu à Procuradoria Geral da República que investigasse a morte de quatro professores, num alegado contexto de cansaço extremo e burn out.

Mário Nogueira identificou os casos como sendo de uma professora de Manteigas, que “em plena sala de aula, fulminantemente, caiu para o lado”; outra professora do Fundão, que “estava a corrigir 60 provas aferidas, a lançar as notas dos seus alunos e a fazer vigilâncias de exames”, quando foi encontrada morta “em cima do teclado do computador em pleno lançamento das notas”; e um professor de Odivelas que “enviou por email, cerca da 1h00, os dados pedidos pela escola” e que terá morrido por volta dessa hora, em casa.

Mais tarde acabaria por ser tornado público um quarto caso, de uma professora da Escola Básica e Secundária de Fajões, em Oliveira de Azeméis, que morreu recentemente enquanto corrigia testes de avaliação.

A denúncia causou polémica, mas os próprios familiares não terão sido avisados do que iria acontecer. “Não fomos avisados de nada”, disse um deles ao Observador. Além disso, e apesar da Fenprof não ter revelado o nome dos professores, a identificação dos casos específicos foi imediata e alguns familiares ficaram revoltados com a exposição pública.

Uma das professoras tinha 50 anos e dava aulas de história na Escola Secundária Campos Melo, na Covilhã. Morreu em casa enquanto lançava as notas, há um mês. A responsável pela portaria da escola, que preferiu não ser identificada, recorda-se de a ver “sempre a correr de um lado para o outro”, a queixar-se do stress e da quantidade de coisas que tinha para fazer, entre reuniões, fotocópias e relatórios.

Mário Nogueira já tinha adiantando que esta docente “estava a corrigir 60 provas aferidas, a lançar as notas dos seus alunos e a fazer vigilâncias de exames”, acabando por “aparecer morta em cima do teclado do computador em pleno lançamento das notas”.

Ao Observador, a Câmara Municipal do Fundão explicou que a professora terá sido vítima de um AVC. “A FENPROF pode dizer o que quer, mas tudo acaba por cair no esquecimento”, disse o marido. E enquanto “não souber o resultado da autopsia” ao corpo da mulher, prefere não prestar declarações.

Já professora de inglês da Escola EB 2/3 de Manteigas, de 49 anos, “queixava-se de muitas dores de cabeça e má disposição”, segundo João Tilly, colega de trabalho. “Chegou a ir ao médico, mas não tinha tempo para fazer exames ou ir às consultas pela quantidade de serviço que tinha.”

No dia em que se sentiu mal, acabou por vomitar e desmaiar em sala de aula, na presença dos alunos. Foi levada pelo INEM para o Centro de Saúde de Manteigas e enviada para o Hospital da Guarda. De lá, os médicos telefonaram para o Hospital de Coimbra e perceberam que não havia vaga para a professora, que chegou já em coma ao Hospital de Viseu, acabando por morrer, vítima de um AVC hemorrágico.

Uma sobrinha da professora mostrou-se bastante surpreendida pelo facto de o caso ter sido tornado público. “Não fomos notificados de nada”, nem pela FENPROF, nem pela escola e nem pelo Ministério da Educação

O caso da Escola Secundária de Fajões, em Oliveira de Azeméis, é o de uma professora de inglês de 45 anos, que aparentava ter problemas de saúde.

Segundo Paula Lima, a colega saiu da escola tarde, por volta das 20h, após uma reunião de avaliações. Nesse fim-de-semana tinha o aniversário do marido, mas também se preparava para corrigir testes. Foi a trabalhar em casa que morreu de morte súbita. O marido, que também é professor e coordenador no Agrupamento de Escolas de Estarreja, recusou relacionar o trabalho com a morte da mulher em declarações ao Público.

O quarto e último caso denunciado pela Fenprof ocorreu em abril, na Escola Básica da Quinta da Paiã, concelho de Odivelas. Um professor do 1.º ciclo, com mais de 50 anos de idade, morreu durante a noite enquanto punha o trabalho da escola em dia, alegadamente na sequência de um ataque cardíaco.

Contactado pelo Observador, o diretor do Agrupamento de Escolas Brancaamp Freire, não confirma a morte do docente. Já a Câmara Municipal de Odivelas diz não ter conhecimento da situação.

Depois do anúncio, o sindicato diz que tem recebido dezenas de denúncias, relatos de colegas professores ou até mesmo de familiares que contam casos de exaustão extrema provocada pelo excesso de carga horária.

ZAP //

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1 Comment

  1. E depois há quem diga que os funcionários públicos são uns privilegiados e que os professores não fazem nada e só querem fazer Greves.

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