Falta uma semana para os britânicos decidirem se ficam ou saem da UE

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bisgovuk / Flickr

O primeiro-ministro britânico, David Cameron

O primeiro-ministro britânico, David Cameron

Os britânicos decidem dentro de uma semana se o Reino Unido continua como membro da União Europeia ou sai, num referendo que se espera participado e disputado e que ameaça turbulência económica e política em caso de “brexit”.

Os eleitores são chamados às urnas em 23 de junho para responder à questão “O Reino Unido deve permanecer como membro da União Europeia ou sair da União Europeia?“, assinalando uma de duas opções: “Permanecer na União Europeia” ou “Sair da União Europeia”.

A Comissão Eleitoral prevê uma participação eleitoral próxima dos 80%.

As sondagens, que até ao final de maio davam vantagem ao “Permanecer”, apontam agora para uma vitória do “Sair”, com uma vantagem de seis a sete pontos percentuais.

Um novo inquérito de opinião divulgado esta quinta-feira pelo instituto Ipsos MORI para o jornal Evening Standard mostra que 53% da população britânica apoia o “Brexit”, contra 47% que defendem a permanência do Reino Unido na União Europeia.

Na semana passada, sondagens da ORB, ICM e YouGov davam todas uma vantagem média de 6% aos apoiantes do Brexit.

Campanha eleitoral

O referendo nasceu na campanha eleitoral para as legislativas britânicas de 2015, de uma a promessa do primeiro-ministro conservador David Cameron em resposta a crescentes pressões da ala eurocética do seu partido e à popularidade do eurocético Partido da Independência do Reino Unido (UKIP).

Reeleito, Cameron anunciou que renegociaria a relação de Londres com Bruxelas antes do referendo, após o que, se as suas exigências fossem satisfeitas, faria campanha pela permanência.

O acordo alcançado ficou aquém dos objetivos de Cameron, segundo muitos observadores, mas permitiu consagrar algumas das ideias-chave.

Entre elas, a redução do abono para filhos de imigrantes a residir no país de origem, o “travão de emergência” que suspende a concessão de benefícios aos imigrantes durante quatro anos, a proteção dos serviços financeiros da City em relação à zona euro e o “cartão vermelho” que permite rejeitar legislação europeia a que se oponham 55% dos parlamentos nacionais.

Brexit

Do lado do “Sair” a campanha “Leave” é liderada por Nigel Farage, do UKIP (UK Independence Party), partido eurocético de direita que venceu as últimas europeias e obteve quase quatro milhões de votos nas gerais de 2015, e pelo ex-presidente da câmara de Londres e possível sucessor de Cameron na liderança do Partido Conservador, Boris Johnson.

Apoiam ainda o “Brexit” cerca de metade dos deputados conservadores, incluindo cinco membros do governo, alguns deputados trabalhistas e o Partido Democrático Unionista (DUP), da Irlanda do Norte.

Argumentam que a UE impõe demasiadas restrições às empresas e cobra demasiadas quotas sem dar grande coisa em troca, além de impedir o país de controlar as suas fronteiras e travar a entrada em massa de migrantes.

Opõem-se ainda ao princípio de uma integração europeia crescente que, consideram, levará à criação de uns “Estados Unidos da Europa”.

Juntaram-se à campanha pelo “Brexit” figuras como o fundador do Wikileaks Julian Assange, os humoristas John Cleese e Michael Caine, os músicos britânico Roger Daltrey e canadiano Bryan Adams e o jornal mais vendido no país, o The Sun.

Remain

Apoiam o “Permanecer” (“Remain”) David Cameron e 16 dos seus ministros, o Partido Trabalhista, os Liberais-Democratas, o Partido Nacionalista da Escócia (SNP) e o partido do País de Gales (Plaid Cymru), além de quase todos os restantes Estados membros da UE e os EUA.

Pelo “Permanecer” já se manifestaram também figuras públicas como o milionário Richard Branson, o arcebispo de Cantuária, o físico Stephen Hawking, o ator do filme “Senhor dos Anéis” Ian McKellen, o músico irlandês Bob Geldof ou o ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis.

Para estes, permanecer na UE é a melhor forma de assegurar o crescimento económico, pelo acesso ao mercado comum europeu e pela entrada de migrantes que contribuem maioritariamente para a sustentabilidade do sistema.

Por outro lado, permanecer na UE é também, asseguram, a melhor forma de garantir a segurança e a estabilidade no país, na UE e na NATO, num contexto global marcado pela ameaça do terrorismo em que a cooperação policial e judicial são instrumentos decisivos.

“Uma década perdida”

As questões económicas têm sido centrais na campanha, sobretudo as advertências para os riscos de uma vitória do “Sair”: governo, patronato e sindicatos, grandes e pequenas empresas, multinacionais e organizações internacionais (G7, G20, OCDE, FMI, BCE, OMC, entre outras) advertem que uma saída da UE levará à desvalorização da libra, aumento dos impostos, taxas alfandegárias, taxas de juro e preços, à estagnação e à perda de competitividade.

Uma década perdida“, alertou David Cameron, citando longas negociações para redefinir a relação com a UE.

“No mínimo sete anos”, disse o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, referindo a dissolução dos vínculos, a renegociação da relação e sua aprovação pelos restantes países membros e pelo Parlamento Europeu.

Para os que defendem a saída, três anos bastariam para completar o processo, segundo assegurou o deputado conservador Chris Grayling, para quem a retirada da UE se pode efetivar em finais de 2019 e a conclusão de um acordo comercial com os 27 até 2020.

ZAP / Lusa

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