A menos de três meses da primeira volta das Presidenciais em França, muitos candidatos da extrema-esquerda à extrema-direita já percorrem o país em campanha eleitoral, faltando apenas que o Presidente Emmanuel Macron confirme a recandidatura.
“Oficialmente falta um candidato, Emmanuel Macron. Ele não parece querer fazer como François Hollande e não se candidatar, mas falta dizer”, disse Vitor Pereira, politólogo e professor na Universidade de Pau, em declarações à Lusa.
“Ainda havia a dúvida no lado da esquerda sobre Christiane Taubira e ela vai avançar. Não penso que haverá mais candidatos de relevo. O que pode acontecer agora é que muitos candidatos não consigam ter as assinaturas necessárias para constar nos boletins de voto”, acrescentou.
As eleições vão realizar-se em duas voltas, a 10 e 24 de abril, e os candidatos, que se multiplicam em todos os quadrantes políticos, terão de reunir 500 assinaturas de eleitos locais e nacionais que apadrinhem a candidatura.
Se para candidatos como Valérie Pécresse, do partido de direita Os Republicanos, ou Anne Hidalgo, do Partido Socialista, esta recolha é mais fácil devido à representação parlamentar e implementação local, para candidatos independentes como Éric Zemmour e mesmo Marine Le Pen este é um processo mais demorado.
Zemmour, a nova estrela da extrema-direita francesa, pode mesmo, segundo Vitor Pereira, utilizar esta regra para se afirmar ainda mais como “o candidato antissistema”.
“A grande surpresa é ter um candidato como Éric Zemmour, que não é um político profissional, é um jornalista de opinião que há muito tempo defende ideias mais de direita e conhecido por ter um discurso misógino. Sondagem após sondagem, ele continua acima dos 10%”, indicou o académico.
Outra surpresa é a fragmentação da esquerda, com muitos candidatos, mas nenhum que faça frente aos de direita.
“A grande mudança é o quase desaparecimento da esquerda. É uma explosão à esquerda, nenhum candidato tem um bom resultado, nenhum vai além dos 10% e são muitos. Nenhum pode sonhar chegar à segunda volta”, argumentou Vitor Pereira.
Numa sondagem do Ifop-Fiducial para o canal LCI, para a revista “Paris-Match” e rádio Sud, Macron – após uma diminuição de 0,5% depois de ter afirmado querer “chatear os franceses não vacinados” – continua a ser o candidato mais bem posicionado para ganhar a primeira volta com 25% das intenções de voto.
Logo a seguir, com 17% está Valérie Pécresse, seguida de perto por Marine Le Pen com 16% e Éric Zemmour com 14%.
Jean-Luc Mélenchon, da extrema-esquerda, é o candidato mais bem posicionada à esquerda com 9% e Yannick Jadot d’Os Verdes tem 6% da intenção de votos.
Entrada recentemente na arena das presidenciais, Christiane Taubira, antiga ministra da Justiça de Hollande, tem 4% e Anne Hidalgo, a candidata socialista escolhida através de primárias, está com 3,5% dos votos.
Mesmo se os franceses já disseram querer ver mais debate sobre questões económicas e sociais, Vitor Pereira considera que as questões identitárias e de segurança dominam as polémicas da pré-campanha.
“Fala-se muito de questões identitárias e segurança. O debate é muito fraco e pode ser uma eleição à volta de temas onde não se fala verdadeiramente do futuro, de questões económicas, sociais e ambientais”, explicou o politólogo, temendo que a falta de debate sobre as questões essenciais afaste os eleitores das urnas.
A declaração oficial de candidatura de Macron deve acontecer mais perto das eleições, de acordo com a tradição francesa dos que se recandidatam, ficando até lá por desvendar como é que o líder francês se vai apresentar ao eleitorado.
“Macron aparece quase sempre à frente e provavelmente ganha na segunda volta. Ele é como um camaleão, por ser uma pessoa que consegue adaptar o discurso em função do seu público. Mas ainda não sabemos qual é a versão que vamos ter. Será que vamos ter o Macron de 2017, de centro-esquerda, ou como Presidente, quando foi mais para a direita?”, questionou o politólogo.
A pré-campanha presidencial prossegue em França, com a maioria parte dos candidatos na estrada, adaptando as suas deslocações ao protocolo sanitário. Para já não existem medidas especiais para as reuniões políticas, já que a Constituição francesa impede a sua limitação.
// Lusa