197 em 577 deputados: moção de censura rejeitada no Parlamento graças à abstenção dos deputados da União Nacional.
O governo do primeiro-ministro conservador francês, Michel Barnier, superou nesta terça-feira a sua primeira moção de censura, apresentada pela coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP), graças à abstenção dos deputados da extrema-direita União Nacional (RN).
A moção de censura só foi votada por 197 dos 577 deputados da Assembleia (câmara baixa do parlamento), longe da maioria absoluta que poderia derrubar o governo de Michel Barnier, nomeado pelo Presidente Emmanuel Macron há pouco mais de um mês.
A NFP, maioritária na Assembleia Nacional com 193 votos, só conseguiu atrair alguns deputados regionalistas e alguns dissidentes da coligação macronista, que protestam também contra a “negação do resultado” das eleições legislativas de julho, em que a coligação de esquerda venceu sem atingir uma maioria absoluta.
Contudo, a moção de censura não foi apoiada pelos dois partidos que apoiam Michel Barnier, os 166 deputados macronistas e os 47 da direita moderada, nem pelos 142 deputados da extrema-direita de Marine Le Pen, que foram decisivos no fracasso da iniciativa.
O RN, que obteve mais votos nas eleições legislativas, embora seja apenas o terceiro em número de deputados, alertou que o seu apoio a Michel Barnier será “exigente” e não descarta a hipótese de apresentar a sua própria moção de censura no futuro.
Mas o partido garantiu que hoje toma a decisão “responsável” de não contribuir ainda mais para o desgoverno do país.
“Optámos por não cair no caos, por não censurar imediatamente Michel Barnier e dar-lhe a oportunidade de desenvolver um projeto (…). Se não nos convier, censuraremos”, afirmou o deputado e vice-presidente do RN, Sébastien Chenu.
Para os deputados de esquerda, o governo Barnier, “na sua composição e orientação, é uma negação dos resultados das últimas eleições legislativas”, segundo a moção que apresentaram na sexta-feira.
Michel Barnier, antigo comissário europeu, contestou a ideia de que o seu governo era ilegítimo, considerando que a sua “maioria relativa” era a “menos relativa” possível no Palais-Bourbon (Assembleia), que desde as eleições legislativas de julho se dividiu em três blocos, nenhum dos quais tem maioria absoluta.
“Vocês informaram-me, mesmo antes de eu abrir a boca, antes de formar o meu governo”, que “iam censurar-me”, disse o chefe de governo aos deputados, lamentando uma moção de censura ‘a priori’.
O primeiro-ministro ultrapassou assim a 35.ª moção de censura dos dois mandatos de cinco anos de Macron, antes de apresentar na próxima quinta-feira o seu projeto orçamental para o próximo ano, que será o verdadeiro teste do real apoio que tem na Assembleia.
Também na semana passada, durante a apresentação das suas linhas de governo, Barnier alertou para a delicada situação orçamental do país e pediu “responsabilidade” aos diferentes partidos, para evitar que se agrave.
Olivier Faure, líder do Partido Socialista, integrante da coligação de esquerda, aproveitou o momento para convidar Barnier a “avançar com base nas (alterações)” que os socialistas vão apresentar sobre o projeto de orçamento para 2025.
// Lusa