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Extrato tóxico usado em flechas venenosas pode ser o futuro da contracepção masculina

Não há escassez de pesquisa científica para tentar encontrar uma forma eficaz e segura de contraceção masculina, mas duvidamos que exista alguma droga candidata com um historial tão mortal como esta nova descoberta.

Uma equipa de cientistas norte-americanos identificou um produto químico que pode servir como contracetivo masculino num extrato de planta de guerreiros africanos e que era tradicionalmente usada por caçadores como um veneno que pára os corações nas suas flechas. O estudo foi publicado no início do mês no Journal of Medicinal Chemistry.

Uma equipa de investigadores da Universidade de Minnesota e a Universidade de Kansas disse que o ouabaína, uma substância tóxica derivada de dois tipos de plantas africanas – e também produzida em mamíferos em quantidades mais baixas – pode servir de base para uma pílula masculina que funcione.

Na sua forma original, ouabaína pode ser encontrada em raízes, caules, folhas e sementes das plantas Acokanthera schimperiStrophanthus gratus do leste de África – uma descoberta feita por guerreiros etiopianos há mais de dois milénios.

Tal como os seus homólogos do Quénia, Tanzânia, Ruanda e Somália, os caçadores e guerreiros da Etiópia extraíam substância venenosa fervendo a planta e mergulhando as pontas das setas no líquido concentrado que restava.

Alguns milhares de anos depois e os cientistas europeus no século XVIII descobriram que o extrato agia como glicosídeo cardíaco – um composto que aumenta a força da batida do coração enquanto reduz a taxa de contrações.

Por causa disso, em doses muito baixas, a ouabaína foi usada preventivamente para tratar condições como a hipertensão e arritmia, apresar de ser considerada uma substância perigosa e, atualmente, não ser aprovada para uso nos EUA.

Apesar disso, este veneno perigoso pode estar prestes a regressar à medicina – pelo menos numa forma mais segura – graças ao potencial do extrato de afetar a fertilidade masculina.

Estudos anteriores mostram que a ouabaína consegue travar a fertilidade no homem, mas por causa da capacidade da substância de “confundir” os nosso corações, nunca foi considerada suficientemente segura para ser utilizada como contracetivo.

Agora, a equipa de investigadores fez experiências em ratos, do sexo masculino, para demonstrar que, depois de adulterar o arranjo molecular do extrato, um análogo da ouabaína modificado continua a conseguir travar a fertilidade dos animais, apesar de ser não tóxica, não afetando o coração ou outras partes do corpo.

Ao remover um grupo de açúcar do produto químico e substituir o seu grupo lactona por um grupo triazole, a ouabaína o derivado de ouaína quando administrado a ratos foi anulado nas células de esperma dos animais e reduziu a mobilidade dos espermatozóides (capacidade de nadar).

Ele visa o esperma, ligando-se fortemente a uma subunidade nas células chamadas Na, K-ATPase α4, interrompendo a mobilidade espermática suficientemente para produzir infertilidade masculina.

É um resultado promissor que fornece outra via de pesquisa para uma pílula masculina humana, especialmente porque a pesquisa até agora sugere que o efeito é reversível – a redução da motilidade observada nos animais não foi permanente.

Ainda estamos muito longe dessa substância modificada ser testada em humanos, mas se o teste futuro oferecer resultados igualmente positivos, isso pode acontecer um dia – caso em que o futuro do controlo da natalidade pode estar nas flechas venenosas do passado.

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