Não é só uma experiência espiritual: a biologia e a evolução podem explicar quase tudo, sugere um novo estudo.
As experiências de quase-morte, relatadas por pessoas que se aproximam do fim da vida, não são simplesmente experiências espirituais ou alucinogénias. Têm uma origem biológica, ligada à nossa evolução, explica um estudo publicado no fim de março na Nature Reviews Neurology.
A investigação sugere que estas experiências, que podem ser visões vívidas, sensações de saída do corpo ou até encontros com entidades sobrenaturais, relatadas por pessoas próximas da morte e em situações de risco de vida, são “episódios de consciência desligada”. E têm uma explicação biológica.
Baseando-se na Teoria Neurofisiológica Evolutiva Psicológica para a Compreensão da Experiência de Quase Morte (NEPTUNE), a equipa concluiu que as experiências próximas da morte são desencadeadas quando os níveis de oxigénio caem e o dióxido de carbono aumenta, o que nos leva a um estado de acidose cerebral, que conduz a uma série de reações neurológicas, incluindo um aumento da atividade neuronal em regiões do cérebro como a junção temporoparietal e o lobo occipital.
É nessa altura que são libertadas grandes quantidades de neurotransmissores como a serotonina, endorfinas, dopamina e GABA, substâncias químicas que desempenham um papel na formação da experiência.
A serotonina pode provocar imagens visuais vívidas; a dopamina pode ser responsável pelas sensações de realidade exacerbada; as endorfinas e o GABA são provavelmente responsáveis pela sensação de paz e calma, muito relatada por pacientes que dizem ter tido experiências de quase-morte, explicam os investigadores à Scientific American.
Mas a evolução também terá um papel nestas experiências, manifestando-se sob a forma de mecanismo de defesa numa altura em que já não é possível lutar ou fugir. A hipótese que os cientistas colocam em cima da mesa é que o cérebro dissocia-se e concentra-se no seu interior, como mecanismo de sobrevivência — o que até certo ponto explicaria porque é que as pessoas mais propensas à dissociação ou a sonhar acordados têm também mais probabilidades de passar por experiências de quase-morte.
Apesar de tudo, os autores do estudo reconhecem que alguns elementos comuns em experiências de quase-morte , como as experiências relatadas de precognição ( a capacidade de prever ou antecipar eventos futuros, de forma extra-sensorial), ainda são um mistério por explicar.