O Exército do Zimbábue anunciou na madrugada desta quarta-feira que capturou o Presidente do país, Robert Mugabe, um dos mais velhos chefes de Estado do mundo e o homem que está há mais tempo no poder num país de África.
No que parece ser o primeiro golpe militar no país desde a chegada de Mugabe ao poder – primeiro em 1980 como primeiro-ministro, desde 1987 enquanto Presidente –, o Exército tomou a televisão estatal, ZBC.
A partir da redação, dois soldados em uniforme anunciaram ao início desta quarta-feira que “a situação no país avançou para outro nível“. Rejeitando que haja um golpe militar em curso, os representantes das forças armadas garantiram que Mugabe e a sua família “estão a salvo” e que “a sua segurança está garantida”.
O secretário-geral do partido da oposição no Zimbabué, o Movimento para a Mudança Democrática (MDC-T), Douglas Mwonzora, afirmou esta quarta-feira que perante a tensão vivida no país estão “seguros de que o exército está em processo de tomar o comando”.
Numa entrevista telefónica a partir do Zimbabué com o canal sul-africano ANN7, Mwonzora reiterou: “Esta é a definição padrão de um golpe de Estado. Se isto não é um golpe, o que será?”.
Mwonzora acrescentou que o partido governante, a União Nacional Africana do Zimbabué – Frente Patriótica (ZANU-PF) “está em fase de negação, mas já não tem o controlo“.
O exército do Zimbabué desmentiu na madrugada de hoje que esteja em curso um golpe de Estado militar, garantindo que o Presidente, Robert Mugabe, se encontra em segurança, depois de uma noite de agitação na capital, com soldados armados e veículos militares nas ruas da capital e o registo de pelo menos três explosões.
A propósito da mensagem que um porta-voz do exército leu na televisão nacional esta noite, em que descartou que estivesse a ocorrer um “golpe militar”, Mwonzora considerou que “é um comunicado normal quando os militares intervêm”.
“Há muito ressentimento contra (o Presidente) Robert Mugabe e a sua esposa (Grace)”, sublinhou o político da oposição, que pediu aos cidadãos que “tenham cuidado”, já que a “situação é anormal”.
Embora o secretário-geral do MDC-T tenha dito que “é a hora de salvar o país”, também afirmou que “não será permitido um derramamento de sangue“. O mesmo canal de televisão contactou um porta-voz do ZANU-PF, Kennedy Mandaza, que se encontrava na África do Sul, e que apenas disse que “está a seguir de perto o desenvolvimento da situação no Zimbabué”.
A conversa telefónica com Mandaza caiu após ser questionado pelo paradeiro do Presidente Mugabe, que segundo o canal sul-africano SABC, poderá encontrar-se sob prisão domiciliária.
A tensão no Zimbabué começou a aumentar na tarde de terça-feira, depois de vários tanques terem sido vistos em direção a Harare, um dia depois de o chefe das forças armadas do país, o general Constantino Chiwenga, ter condenado a demissão do vice-presidente do país, e advertido de que seriam tomadas “medidas corretivas” se se mantivesse a purga de veteranos no partido de Mugabe (de 93 anos e no poder desde a independência do Zimbabué, em 1980).
O ZANU-PF disse que as palavras de Chiwenga sugeriam uma “conduta de traição” destinada a “incitar à insurreição e ao desafio violento da ordem constitucional”.
A atual crise no Zimbabué surge após a destituição, na semana passada, do vice-presidente Emmerson Mnangagwa, de 75 anos, que era apontado como sucessor de Mugabe, tal como a primeira-dama Grace Mugabe.
Mnangagwa há muito considerado o delfim do Presidente, foi humilhado e demitido das suas funções e fugiu do país após um braço-de-ferro com a primeira-dama, Grace Mugabe.
Para Sydney Sekeramayi, ministro da Defesa do zimbabué, há forças que usam as redes sociais para espalhar informações que favorecem a oposição, afrontando o governo “legitimamente eleito”.
“Usa-se a internet na tentativa de destruir os governos eleitos legitimamente, através das redes sociais”, acrescentou durante o seu discurso.
África do Sul contra qualquer alteração inconstitucional de regime no Zimbabué
Numa declaração da presidência sul-africana lê-se que Zuma está “muito preocupado” com a situação e expressou a esperança de que os desenvolvimentos no Zimbabué não “levem a uma alteração inconstitucional do Governo”.
Zuma exortou ainda as autoridades e o exército zimbabueano a “resolverem amigavelmente o impasse político” atual.
Em declarações à agência Lusa, o secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, disse que as informações que as autoridades portuguesas dispõem indicam que se trata de “acontecimentos circunscritos à dimensão política e aos atores políticos do Zimbabué” e que “não está a alastrar à restante comunidade”.
“No entanto, todos os cuidados devem ser tomados, nomeadamente nas deslocações ao centro da cidade, evitando zonas de grande concentração de pessoas”, afirmou o responsável.
ZAP // Lusa