O Exército tailandês anunciou a imposição de lei marcial “para preservar a lei e a ordem”, no meio de uma crise política no país.
O anúncio, feito no canal de televisão controlado pelos militares, o Exército também “proíbe todos os meios de comunicação de divulgar ou distribuir quaisquer informações ou fotografias prejudiciais à segurança nacional”.
Os militares insistiram que a medida não se trata de um golpe de Estado.
A lei marcial ocorre depois de uma longa crise política e meses de crescentes tensões entre o governo e a oposição, com protestos que deixaram 28 mortos e centenas de feridos.
O assessor-chefe de segurança do primeiro-ministro interino disse que o governo não tinha sido consultado sobre a decisão do Exército.
Um porta-voz do Exército disse que a imposição da lei marcial não terá impacto sobre o governo interino, que permanece no cargo.
Jonathan Head, correspondente da BBC em Banguecoque, disse que o movimento do Exército – que foi justificado como medida para impedir “grupos mal-intencionados de usar armas de guerra” – foi uma surpresa.
O jornalista explicou que o Exército deixou claro que passa a ser responsável pela segurança e a presença de tropas nas ruas deverá ser muito mais comum.
As tropas tomaram medidas para impedir partidários camisas vermelhas pró-governo de se reunirem no seu lugar habitual nos arredores de Banguecoque.
Os militares tailandeses tomaram o poder pela última vez em 2006.
“Não há necessidade de pânico”
Um anúncio num canal de televisão militar disse que a lei marcial foi imposta “para restaurar a paz e a ordem para as pessoas de todos os lados”.
“O público não precisa entrar em pânico, e pode viver suas vidas normais”, disse o anúncio.
A Tailândia está mergulhada no caos político, com a oposição a exigir que o poder seja entregue a uma administração não-eleita designada para reescrever a Constituição.
O comunicado dos militares foi assinado pelo chefe do Exército Prayuth Chan-Ocha, citando uma lei de 1914, que lhe permite intervir em tempos de crise. A decisão foi tomada porque as manifestações populares entre rivais políticos “poderiam afetar asegurança do país e dos cidadãos”.
Na segunda-feira o primeiro-ministro interino Niwatthamrong Boonsongphaisan insistiu que o seu governo não iria renunciar, resistindo à pressão dos manifestantes anti-governo.
No início de maio, um tribunal ordenou que a primeira-ministra Yingluck Shinawatra e vários ministros renunciassem.
Correspondentes dizem que o impasse na segunda maior economia do sudeste da Ásia piorou desde que Shinawatra dissolveu a Câmara baixa do Parlamento em dezembro e um tribunal ordenou a sua saída e a remoção de nove ministros no início de maio por abuso de poder.
O país está sem um governo funcional desde dezembro e ainda não foi capaz de elaborar o orçamento do Estado deste ano.
Instabilidade arrasta-se há anos
A imposição da lei marcial pode acabar por enfurecer os apoiantes do governo, particularmente se for vista como um golpe de Estado, de acordo com os correspondentes.
O Exército realizou pelo menos 11 golpes de Estado desde o fim da monarquia absoluta em 1932.
Os protestos contra o governo começaram na capital tailandesa no ano passado, com manifestantes a bloquear várias partes da cidade.
Em resposta, Yingluck Shinawatra convocou eleições gerais antecipadas em fevereiro, nas quais o seu partido era visto como o vencedor provável. No entanto, os manifestantes interromperam a votação e a eleição foi, mais tarde, anulada.
Os partidários de Shinawatra acreditam que os tribunais são tendenciosos contra ex-primeira-ministra e posicionam-se a favor da elite urbana no centro do movimento de protesto.
A Tailândia tem enfrentado uma luta pelo poder desde o golpe militar de 2006, que depôs o primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, irmão de Yingluck.
ZAP / Lusa / BBC