O ex-presidente do Sudão, Omar al-Bashir, destituído e preso em abril sob pressão da população e dos militares, foi indiciado por “corrupção”, anunciou hoje a agência noticiosa oficial Suna.
“O Ministério Público anunciou ter terminado todos os inquéritos relacionados com a ação emitida contra o Presidente deposto Omar al-Bashir pelos procuradores anticorrupção”, indicou a Suna. Al-Bashir foi acusado de “posse de divisas estrangeiras, de ter adquirido riquezas de forma suspeita e ilegal e de ter ordenado o estado de emergência”.
Al-Bashir, que não é visto em público desde que foi preso, já havia sido acusado em maio de incitamento e envolvimento na morte de manifestantes.
A prisão de Al-Bashir não acalmou o movimento de contestação, que exige ao Conselho militar que assumiu o poder — e já reprimiu os protestos com um balanço de mais de 100 mortos —, que o transfira para os civis. Entre as reivindicações dos manifestantes inclui-se ainda o julgamento de Al-Bashir e dos principais responsáveis do seu regime.
“Esta é uma medida difícil para os generais que comandam o Sudão, porque esta é a mesma pessoa que serviram por um período significativo”, disse à Al Jazeera Awol Allo, professor de Direito na Universidade de Keele.
“Eles capacitaram o seu governo, lutaram a seu favor. E agora, para a mesma ordem política se virar e responsabilizar esse indivíduo é a coisa que torna isto complicado“, acrescentou.
Em 21 de abril, o chefe do conselho militar, general Abdel Fattah al-Burhane, afirmou que o equivalente a mais de 99,8 milhões de euros foi recolhido em dinheiro líquido na residência de Al-Bashir em Cartum.
Posteriormente, a 2 de maio, o procurador-geral do Sudão, Al-Walid Sayyed Ahmed, ordenou o interrogatório do antigo homem forte do país “em virtude das leis sobre branqueamento de dinheiro e financiamento do terrorismo“, segundo a Suna.
“A razão pela qual al-Bashir foi acusado de corrupção é porque o conselho militar de transição está a tentar desviar a atenção da sua própria corrupção. Quanto mais eles conseguirem desviar a culpa para al-Bashir e declararem que são o novo dia, mais se torna possível para eles imaginarem a criação de uma junta militar permanente”, disse Eric Reeves, investigador do Sudão na Universidade de Cambridge.
ZAP // Lusa