Droga no pénis das vítimas e “recrutador de homens”. O que se sabe sobre as festas de sexo do ex-CEO da A&F

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Mike Jeffries abusava de jovens modelos que recrutava para festas de sexo privadas, acusam 15 vítimas. Rede internacional de tráfico sexual seria gerida com fundos da “marca dos miúdos fixes”. Namorado e “recrutador de homens” também foram detidos.

Michael S. Jeffries, ex-CEO da Abercrombie & Fitch, enfrenta a partir desta terça-feira sérias acusações de ter gerido uma operação internacional de tráfico sexual durante o seu tempo na empresa de moda.

As acusações surgem depois de uma investigação do FBI ter revelado que Jeffries, juntamente com dois associados, recorreu a coerção, a fraude e à força para explorar sexualmente dezenas de homens durante vários anos.

Jeffries, que dirigiu a empresa de vestuário entre 1992 e 2014, foi detido juntamente com o seu parceiro, Matthew Smith, e um terceiro cúmplice, James Jacobson.

Um total de 15 homens afirmam ter sido coagidos a praticar atos sexuais, na sequência de promessas de progressão na carreira, incluindo empregos de modelo na Abercrombie & Fitch.

“Usava o seu poder dinheiro e influência” para recrutar homens

Jeffries, atualmente com 80 anos, e o parceiro Smith, hoje com 61 anos, terão usado o terceiro detido, Jacobson, como recrutador de homens entre 2008 e 2015. A sua função era prometer dinheiro e oportunidades profissionais, diz a acusação.

Jacobson tinha a tarefa de identificar e pagar a homens para praticarem atos sexuais com ele, antes de selecionar aqueles que viajariam para eventos exclusivos em Nova Iorque, nos Hamptons e noutros locais do mundo para praticarem atos sexuais comerciais com Jeffries e Smith.

Jeffries “estava a usar o seu poder, a sua riqueza e a sua influência para traficar homens para o seu próprio prazer sexual e o do seu parceiro romântico”, disse Breon S. Peace, procurador do caso, citado pelo The New York Times.

Muitos destes eventos eram secretos: os participantes assinavam acordos de confidencialidade, sem que lhes fosse dado tempo suficiente para ler ou fazer cópias.

As vítimas incluíam adolescentes com 19 anos, manipulados para acreditarem que a participação nestes eventos poderia promover as suas carreiras. Eram também ameaçados: se não fizessem o que lhes era exigido, haveriam consequências.

Algumas das vítimas eram obrigadas a consumir álcool, Viagra e relaxantes musculares. A BBC revela que, em algumas ocasiões, o casal instruía funcionários a injetar drogas no pénis das vítimas de modo a induzir uma ereção nos jovens.

Eram então, segundo a acusação, pressionadas a praticar atos sexuais sem o seu consentimento (por vezes entre si), mas não antes de passarem pelas mãos de um funcionário responsável pela depilação —uma experiência já descrita como “desumanizante” pelas vítimas.

As vítimas seriam impedidas de abandonar os eventos sem a aprovação de Jeffries ou Smith. Todos os homens terão sido pagos após os atos sexuais.

Empresa acusada de ignorar abusos

A Abercrombie & Fitch distanciou-se do escândalo.

Um porta-voz da empresa recusou-se a comentar as recentes detenções, mas a empresa já tinha expressado estar “chocada e enojada” com as acusações feitas contra o seu antigo diretor executivo.

Após as primeiras revelações, a empresa lançou uma investigação interna e contratou uma empresa de advogados externa para avaliar a situação.

Para além das acusações criminais, Jeffries enfrenta um processo civil de ação coletiva. Os queixosos acusam a empresa de permitir a operação de tráfico ao ignorar a conduta de Jeffries e ao permitir-lhe o acesso aos fundos da empresa, que foram alegadamente utilizados para financiar estas atividades.

Se forem condenados, Jeffries, Smith e Jacobson enfrentam graves consequências legais. As acusações de tráfico sexual implicam uma pena mínima de 15 anos e podem resultar em prisão perpétua. Os arguidos são também acusados de prostituição interestadual, o que pode resultar numa pena de prisão até 20 anos. Espera-se que Jeffries e Jacobson sejam acusados a 25 de outubro.

As equipas jurídicas de Jeffries e Smith recusaram-se a comentar as acusações em pormenor, mas disseram que vão abordar as alegações em tribunal, “quando for apropriado”.

A passagem de Jeffries pela Abercrombie já tinha sido marcada por controvérsia. Quando se demitiu em 2014, a empresa estava a debater-se com o declínio das vendas e acusações de discriminação que deixaram a marca numa situação difícil. Recentemente, regressou, “menos sexy”, com receitas acima dos mil milhões.

 

No ano passado, uma investigação da BBC já tinha revelado uma ação judicial coletiva, que acusava Jeffries de explorar jovens, abusando da sua posição na empresa.

O “recrutador” de jovens, Jacobson, respondeu às acusações iniciais e confirmou que estas festas aconteciam, mas que tudo era consensual. Quem participava “chegava de olhos abertos” e informado do que iria acontecer, defendeu-se — algo que muitos dos homens que denunciaram o magnata negam.

Tomás Guimarães, ZAP //

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