O ex-Presidente boliviano Evo Morales quer a ONU a mediar a crise política no país e admitiu pedir a intervenção da Igreja Católica e do papa Francisco, numa entrevista divulgada esta sexta-feira pela agência de notícias Associated Press.
“Tenho muita confiança na ONU”, declarou Morales, que expressou o desejo de ver aquele organismo mundial como “um mediador, não apenas um facilitador, talvez acompanhado pela Igreja Católica”. E, “se for necessário, o papa Francisco”, acrescentou.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, já enviou um representante à Bolívia para de forma a apoiar os esforços para se encontrar uma solução pacífica para a crise social e política. Morales afirmou ter sido deposto do cargo através de um golpe de Estado que o forçou a exilar-se no México.
Na Cidade do México, Morales sustentou que é o Presidente da Bolívia, já que o parlamento ainda não aceitou a demissão, apresentada no domingo a pedido de líderes militares, após semanas de protestos contra um reeleição que a oposição apelidou de fraudulenta.
“Se eles não aceitaram ou rejeitaram [a renúncia], posso dizer que ainda sou Presidente”, argumentou o homem que governou a Bolívia durante quase 14 anos. Morales admitiu regressar ao país se isso contribuir para a pacificação.
Evo Morales disse que também recebeu informações de que algumas tropas do exército boliviano planeiam rebelar-se contra os oficiais que pediram a renúncia, e frisou ter ficado “surpreso com a traição do comandante em chefe das Forças Armadas”, Williams Kaliman.
O ex-governante pediu calma e diálogo na Bolívia: “Quero dizer-lhes [aos apoiantes] que teremos de recuperar a democracia, mas com muita paciência e luta pacífica”.
90 dias para convocar eleições
A líder interina da Bolívia Jeanine Anez foi reconhecida por alguns países, mas enfrenta uma batalha árdua na organização de novas eleições.
A Constituição boliviana estabelece que um Presidente interino tem 90 dias para organizar uma eleição. A disputada ascensão de Anez, que até terça-feira era a segunda vice-presidente do Senado, foi um exemplo da longa lista de obstáculos enfrenta.
Os apoiantes de Morales, que detêm uma maioria de dois terços no Congresso, boicotaram a sessão convocada por Jeanine Anez na noite de terça-feira que servia para formalizar a reivindicação à Presidência, impedindo o necessário quórum.
“Evo: Amigo, o povo está contigo!“, gritaram manifestantes na cidade de Sacaba, na quinta-feira, apoiando o regresso de Morales. Os soldados impediram-nos de chegarem à cidade vizinha de Cochabamba, onde apoiantes e adversários de Morales estão em conflito há semanas. Muitos manifestantes acenaram com a bandeira nacional e a bandeira multicolorida ‘Wiphala’, que representa os povos indígenas.
A renúncia de Morales surgiu após protestos em todo o país por suspeita de fraude eleitoral na eleição de outubro, na qual o então governante alegou ter conquistado um 4.º mandato.
Uma auditoria da Organização dos Estados Americanos constatou irregularidades generalizadas no escrutínio. Grande parte da oposição a Morales foi desencadeada pela recusa do chefe de Estado boliviano em aceitar um referendo que o poderia proibir de concorrer a um novo mandato.
// Lusa