Mais de 400 mil mortes além das esperadas podem ocorrer nos Estados Unidos (EUA) até o final do ano devido à covid-19, sugeriu um novo estudo. A estimativa inclui pessoas que morreram por causa do vírus e aquelas que morreram por causa das interrupções nos cuidados de saúde causadas pela pandemia.
No estudo, publicado segunda-feira na JAMA e citado pelo Live Science, foram analisados dados sobre as mortes que ocorreram nos EUA entre março e agosto de 2020. Os autores utilizaram esses dados para estimar o excesso de mortes, ou seja, o número de mortes além o que seria esperado com base nas tendências históricas.
Os investigadores descobriram que, nesse período, houve um aumento de 20% nas mortes nos EUA além do esperado, representando 225.530 em excesso. Destes, dois terços foram atribuídos diretamente à covid-19, devendo-se o restante a outras doenças.
Algumas das mortes não causadas por covid-19 podem estar associadas a infeções não diagnosticadas, enquanto outras relacionam-se com interrupções causadas pela pandemia – como as idas às consultas médicas, por exemplo -, apontou o estudo, liderado por Steven Woolf, da Virginia Commonwealth University School of Medicine.
Os autores identificaram um aumento significativo nas mortes por doenças cardíacas durante o pico de casos de covid-19 na primavera.
Com base neste estudo, que aponta para mais de 225 mil mortes em excesso no período indicado, o número total de mortes além das estimadas em 2020 será provavelmente superior a 400 mil, defenderam os investigadores.
“Essas mortes refletem o custo humano da grande pandemia de 2020″, ultrapassando “em muito o número de mortes nos EUA durante alguns conflitos armados, como a Guerra da Coreia e a Guerra do Vietname, e se aproximam do número de mortes na Segunda Guerra Mundial”, apontaram os autores.
As descobertas confirmaram ainda que as contagens oficiais das mortes por covid-19 nos EUA foram subestimadas. De acordo com dados da Johns Hopkins University School of Medicine, o país ultrapassou as 200 mil mortes pelo vírus a 22 de setembro. Este estudo revelou, porém, que o excesso de mortes ultrapassou esse nível um mês antes dessa data.
“O efeito das mortes por covid-19 na saúde mental será profundo”, escreveu um grupo de investigadores da NYU Grossman School of Medicine, liderado por Naomi Simon, diretora do programa de Transtornos do Luto Complicado e Ansiedade, num artigo que acompanha o estudo.
O artigo observou que “cada morte por covid-19 deixa cerca de nove membros da família em luto”, o que significa milhões de pessoas enlutadas no país. Além disso, “o stress e a rutura social causados pela pandemia aumentaram a depressão e a ansiedade em todo o mundo e estão a afetar muitos indivíduos com transtornos psiquiátricos e transtornos preexistentes causados por abuso de substâncias”, referiu o grupo no texto.
Noutro artigo, os investigadores Lisa Cooper, da Johns Hopkins University School of Medicine, e David Williams, da Harvard T.H. Chan School of Public Health, sublinharam o efeito desproporcional da covid-19 nas comunidades negras.
Em meados de agosto, a taxa de hospitalização por covid-19 era cinco vezes maior entre os negros norte-americanos em comparação com a população branca, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças. Já a taxa de mortalidade era duas vezes maior.
“A pandemia de covid-19 agravou ainda mais as disparidades na saúde, sociais e económicas nas comunidades negras”, escreveram os investigadores. “Os efeitos de 2020 serão sentidos nos próximos anos, no entanto, medidas podem ser tomadas para interromper o curso e reduzir os danos”, frisaram.
Coronavírus / Covid-19
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