As leis sobre o aborto nos Estados republicanos se tornaram tão restritivas que uma menina de 10 anos, abusada sexualmente, teve que viajar do Ohio para o Indiana de forma a poder realizar o procedimento. A jovem estava grávida de seis semanas e três dias.
Após os juízes de maioria conservadora do Supremo Tribunal dos Estados Unidos (EUA) terem, em junho, revertido a decisão Roe v. Wade, que vigorava desde 1973 e garantia o direito ao aborto durante os dois primeiros trimestres da gravidez, vários Estados já adotaram essa medida.
Segundo o Indianapolis Star, o aborto passou a ser proibido no Ohio após as seis semanas de gravidez. Ao abrigo dessa nova lei, não foi permitido que a jovem realizasse o aborto naquele Estado. Mas também no Indiana, onde acabou por fazê-lo, poderá deixar de ser possível recorrer ao procedimento.
“É difícil imaginar que dentro de algumas semanas não teremos capacidade para prestar esse cuidado [médico]”, disse àquele jornal Caitlin Bernard, a obstetra-ginecologista que trabalha em Indianápolis que atendeu a jovem.
Esta história provocou indignação em todo o país. Ativistas e defensores do aborto argumentam que o Governo não pode afirmar estar concentrado na proteção da vida quando obriga as vítimas de abuso infantil a manter a gravidez.
No domingo, a deputado republicana Kristi Noem, do Dakota do Sul, defendeu as leis do aborto, incluindo as praticadas nesse Estado, no qual a criança de 10 anos seria obrigada a manter a gravidez e a ter o bebé.
“Não acredito que uma situação trágica deva ser perpetuada por outra tragédia”, disse à CNN. “Podemos fazer mais para ter a certeza de que estamos realmente a viver uma vida onde cada vida é preciosa, especialmente as vidas inocentes que foram estilhaçadas, como a da rapariga de 10 anos”, afirmou.
As proibições de aborto em alguns Estados são absolutas, sem exceções para as vítimas de violação, incesto ou abuso.
Para os críticos, este caso não somente expõe o extremismo do Partido Republicano, como sublinha a urgência de utilizar o poder federal para restabelecer o acesso à interrupção voluntária da gravidez.
Embora a administração de Joe Biden se tenha comprometido a manter algumas medidas de acesso ao aborto, os críticos apontam para uma “falta de ação”, apontou o The Independent. Muitas das principais figuras do partido têm apenas apelado aos eleitores para comparecer às eleições em novembro.
“A menina de 10 anos em Ohio merece alguém que lute por ela”, escreveu no sábado a ex-senadora do Ohio, Nina Turner, no Twitter. “Portanto, não, não estou bem com a resposta federal do Partido Democrata, sobre simplesmente “votar em novembro”. Os residentes no meu estado não podem esperar até novembro e as crianças de 10 anos de idade não podem votar”.