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Estudo da UP mostra números de uma violência que médicos portugueses rejeitam

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Práticas durante e após o parto, em hospitais públicos e privados, foram analisadas pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.

São práticas que não são recomendadas pela Organização Mundial de Saúde, mas que continuam a verificar-se em muitos países. Portugal é um deles.

E é em Portugal que se registam valores mais elevados da denominada violência obstétrica, comparando com a maioria dos países europeus.

Um estudo publicado na revista The Lancet Regional Health – Europe centrou-se nos cuidados maternos e neonatais durante o primeiro ano de pandemia.

Por exemplo, uma episiotomia (corte no períneo) é uma prática frequente em Portugal. Desde 2018 é uma das práticas não aconselhadas pela Organização Mundial de Saúde – a não ser que haja sofrimento fetal ou materno em que o parto tenha de ser acelerado. 40,7% das inquiridas que vivem em Portugal relataram que foram sujeitas a episiotomia durante um parto vaginal espontâneo, enquanto a média europeia é menos de metade: 20,1%.

Agora, outro estudo sobre este assunto, e dentro do mesmo projecto europeu, foi publicado na mesma revista, mas desta vez dirigido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.

Os dados são relativos ao período entre Março de 2020 e Outubro de 2021. E, como seria de esperar, o foco é Portugal. 1.847 mães portuguesas responderam ao inquérito.

As conclusões, partilhadas pelo jornal Público, mostram que é mais provável uma mulher ser vítima de violência obstétrica no Centro de Portugal.

A percentagem da já mencionada episiotomia (uma rotina em Portugal) foi quase igual ao estudo anterior: foi utilizada em 39,3% dos partos vaginais não instrumentados. Ou seja, quando não foram utilizados fórceps ou ventosa. A percentagem sobe muito na região Centro: 59,8% dos partos tiveram uma episiotomia; no Norte desce para o mínimo nacional de 31,8% – mesmo assim, uma percentagem muito elevada.

Já a manobra de Kristeller – colocar pressão manual no fundo do útero no período expulsivo – foi utilizada em praticamente metade (49,7%) dos partos instrumentos em Portugal. A região Centro volta a destacar-se, com 66,7% de partos com manobra de Kristeller, enquanto o número mais baixo (34,8%) verificou-se em Lisboa e Vale do Tejo. Esta manobra também é desaconselhada pela Organização Mundial de Saúde e a Ordem dos Médicos admitiu que é “má prática” e “perigosa” para mãe e feto.

São números sempre relacionados com violência obstétrica – uma designação dura e rejeitada pela Ordem dos Médicos portuguesa.

Há quase um ano e meio, a Ordem dos Médicos disse em comunicado que “não se deu como provada nenhuma situação de violência obstétrica praticada por médicos em Portugal” e que não há “práticas de intervenções sem indicação médica ou sem consentimento informado”.

A violência obstétrica envolve práticas como a falta de consentimento informado da mulher à aplicação de instrumentos durante o parto, a realização de episiotomias por rotina, a aplicação da manobra de Kristeller ou maus tratos verbais e emocionais.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

2 Comments

  1. A mim a enfermeira chefe de serviço no HSFX em Lisboa na noite de 5.1.2015 para 6.1.2015 deu-me um benuron para as dores, depois de ter feito uma cesariana e disse que me aguentasse, pois gravidez não era doença! Conclusão, passei a noite inteira sem dormir, cheia de dores e a chorar, até que na manhã seguinte e já com ataques de pânico derivados das dores e de não dormir, apereceu a enfermeira-chefe seguinte que me deu uma injeção para as dores, em que passados 30 minutos eu estava óptima! Esta violência da inveja de determinados funcionários nos hospitais nunca é relatada, mas deveria!!! Obrigada e Cptos a todos.

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