Os pêlos são uma característica marcante dos mamíferos, mas vários desses, tais como as baleias, as toupeiras e os humanos, têm notavelmente menos. A razão pela qual temos menos pêlos no corpo do que a maioria dos outros mamíferos há muito que permanece um mistério.
Para encontrar a base genética associada à quantidade reduzida de pêlos, cientistas da Universidade de Saúde de Utah e da Universidade de Pittsburgh identificaram as sequências codificadoras e não codificadoras que evoluem a taxas significativamente diferentes em mamíferos sem pêlos em comparação com os mamíferos peludos.
Na investigação, na qual são identificados vários genes e áreas genómicas cruciais para o desenvolvimento de pêlos, a equipa descobriu que os humanos parecem ter os genes para uma pelagem completa.
O estudo, publicado recentemente na eLife, demonstra que a natureza utilizou a mesma tática em mamíferos de vários ramos evolutivos pelo menos nove vezes. Para se desligarem de um conjunto comum de genes necessários para ter pêlos, os antepassados dos rinocerontes, toupeiras, golfinhos e outros mamíferos sem pêlo trilharam o mesmo caminho.
“Adotámos a abordagem criativa de utilizar a diversidade biológica para aprender sobre a nossa genética. Isto está a ajudar-nos a identificar regiões do nosso genoma que contribuem para algo importante”, disse Nathan Clark, geneticista da Universidade de Saúde de Utah, que realizou grande parte da investigação.
Os cientistas utilizaram o método baseado em taxas de evolução, o RERconverge, para analisar o genoma em mais de 62 espécies de mamíferos, utilizando 19.149 genes e 343.598 regiões não codificadas conservadas.
A análise revelou que muitos mamíferos sem pêlo tinham acumulado mutações em muitos dos mesmos genes. Estes incluem genes que codificam a queratina e elementos adicionais que constroem a haste capilar e facilitam o crescimento.
O estudo revelou também que as áreas reguladoras do genoma parecem ser igualmente significativas. Estas áreas afetam indiretamente o processo, ao invés de codificar as estruturas que produzem o cabelo. Controlam a quantidade, o local e o momento em que os pêlos são produzidos quando genes específicos são ativados.
“Há muitos genes sobre os quais não sabemos muito. Pensamos que podem desempenhar um papel no crescimento e na manutenção do pêlo”, indicou Amanda Kowalczyk, outra das autoras do estudo.
“À medida que os animais estão sob pressão evolutiva para perderem pêlo, os genes que o codificam tornam-se menos importantes. É por isso que eles aceleram a taxa de alterações genéticas permitidas pela seleção natural. Algumas alterações genéticas podem ser responsáveis pela perda de pêlo. Outras podem ser danos colaterais depois do pêlo parar de crescer”, explicou Nathan Clark.