Segundo uma pesquisa da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, quando um adulto faz contacto visual com um bebé, as ondas cerebrais sincronizam-se, o que favorece a comunicação e a aprendizagem.
Um artigo sobre a pesquisa, que também contou com a colaboração de cientistas da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, e da Universidade de East London, no Reino Unido, foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Quando um pai ou uma mãe e uma criança interagem, vários aspectos do comportamento podem sincronizar, incluindo o olhar, as emoções e os batimentos cardíacos. Neste estudo, os cientistas decidiram aprofundar-se numa sincronia menos estudada: a da atividade cerebral.
As ondas cerebrais refletem a atividade em grupo de milhões de neurónios, e estão envolvidas na transferência de informações entre regiões do cérebro. Estudos anteriores já mostraram que, quando dois adultos estão a conversar, a comunicação é mais bem-sucedida se as ondas cerebrais estão em sincronia.
Os investigadores realizaram um teste baseado nessa premissa para explorar se os bebés podem sincronizar as ondas cerebrais com os adultos também, e se o contacto visual pode influenciar isso.
Primeiro experimento
A equipa examinou os padrões de ondas cerebrais de 36 crianças (17 numa primeira experiência, e 19 na segunda) usando eletroencefalografia, e compararam essa atividade cerebral com a de um adulto a cantar canções infantis.
Na primeira experiência, a criança observou um vídeo de um adulto a cantar. O adulto – cujos padrões de ondas cerebrais já tinham sido gravados – estava a olhar diretamente para a criança, ou a evitar o seu olhar enquanto cantava, ou com a cabeça virada, mas a fazer contacto visual com a criança.
Conforme previsto, os cientistas descobriram que as ondas cerebrais dos bebés estavam mais sincronizadas com as dos adultos quando o olhar do adulto se encontrava com o do bebé. Curiosamente, o maior efeito de sincronização ocorreu quando a cabeça dos adultos estava virada, mas ainda faziam contato visual.
Os investigadores acreditam que isso se deve ao facto de que o contacto visual parece altamente deliberado e, portanto, fornece um sinal mais forte para a criança de que o adulto pretende comunicar com ela.
Segunda experiência
Na segunda experiência, um adulto real cantou para o bebé, enquanto olhava diretamente para a criança ou enquanto evitava o seu olhar. Desta vez, as ondas cerebrais foram monitorizadas ao vivo para ver se os padrões estavam a ser influenciados pelos do bebé ou o contrário.
Como resultado, tanto os bebés como os adultos ficaram mais sincronizados com a atividade cerebral um do outro quando o contacto mútuo dos olhos foi estabelecido.
Isso ocorreu mesmo que os adultos tivessem a oportunidade de ver os bebés o tempo todo, ainda que não fizessem contacto ocular direto, e os bebés mostraram-se interessados em olhar para o adulto mesmo quando estes evitavam o seu olhar.
De acordo com os cientistas, isso demonstra que a sincronização de ondas cerebrais não é apenas devido ao contacto visual, mas sim a intenção partilhada de comunicar.
Comunicação
Para medir a intenção dos bebés de comunicar, a equipa observou a quantidade de vocalizações (sons) que faziam aos adultos.
Conforme previsto, os bebés fizeram um maior esforço para comunicar, emitindo mais vocalizações, quando o adulto fez contacto ocular direto. Os bebés também faziam vocalizações mais longas se apresentavam maior sincronia cerebral com o adulto.
“Quando o adulto e a criança se olham, eles estão a sinalizar a sua disponibilidade e intenção de comunicar”, sugere a principal autora do estudo, Victoria Leong.
“Achamos que ambos os cérebros adultos e infantis respondem a um sinal de olhar ao ficar mais em sincronia com o parceiro. Esse mecanismo poderia preparar pais e bebés para comunicar, o que também tornaria a aprendizagem mais efetiva”, conclui a cientista.
ZAP // HypeScience / MedicalXpress