Temos quatro tipos de imaginação, que criam os nossos mundos

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Quando é que imaginou pela última vez? Muito recentemente, é a resposta mais provável. Passamos entre um quarto a metade da nossa vida a sonhar acordados, de várias formas.

A nossa imaginação não é uma coisa só.

Segundo o New Scientist, as investigações mais recentes sugerem que existe em, pelo menos, quatro formas.

Imaginação reprodutiva

Imagine a imagem de uma maçã na sua mente. É verde ou vermelha? A sua pele brilha? Tem um pedúnculo? Consegue sentir o seu peso quando a roda suavemente? Tem um aroma? Se estas perguntas fazem sentido para si, criou uma “imagem sensorial” de uma maçã.

Este tipo de imaginação é conhecido como reprodutiva. Conhece as propriedades de uma maçã, por isso pode reproduzir sensações semelhantes às da maçã na ausência da coisa real.

A investigação sugere que, quando o fazemos, as regiões do cérebro que se ativam quando olhamos para uma maçã se ativam fracamente, dando à nossa imaginação a sua sensação visual. Sabemos isto porque a imagiologia cerebral demonstrou diretamente que os córtices visuais se ativam quando visualizamos coisas.

Além disso, formar uma imagem pode ter efeitos fisiológicos semelhantes aos de olhar para a coisa real. Por exemplo, se se imaginar a olhar para o sol, as suas pupilas contraem-se.

Imaginação criativa

Uma vez que podemos criar imagens das coisas na sua ausência, há muitas possibilidades de as manipular. Quando o fazemos, empurramos a nossa imaginação reprodutiva para o tipo produtivo, também chamado criativo.

Utilizamos este estilo de imaginação tanto em contextos banais, como em contextos inovadores.

A imagem parece ser um ingrediente frequente no processo de criação — mas não um ingrediente essencial. Se se pedir a uma pessoa com afantasia (alguém que tem dificuldade ou incapacidade de visualizar imagens na sua mente) que imagine uma maçã por detrás das pálpebras, não aparece nada. No entanto, essas pessoas também podem ser criativas, produzindo coisas novas e úteis, desde a mais recente tecnologia até peças musicais.

Imaginação percetiva

A nossa experiência de vigília depende do conhecimento do mundo sensorial que adquirimos com muito esforço — desde que aprendemos a ouvir, ver, cheirar e sentir o tato — em colaboração com a atividade incessante do nosso cérebro.

Tomemos a cor, por exemplo. Sentimos que as folhas são verdes, mas o “verde” não é uma propriedade objetiva da folha, como o é, por exemplo, a sua massa. Em vez disso, a forma como a folha reflete a luz que atinge os nossos olhos quando olhamos para ela produz aquilo a que chamamos coletivamente “verde”.

Como tal, a posição adotada pelos principais neurocientistas, incluindo Anil Seth da Universidade de Sussex, Reino Unido, é que a nossa experiência é uma alucinação controlada. “Percebemos o mundo não como ele é, mas como ele é útil para nós”, escreve Seth no seu livro seminal Being You: Uma nova ciência da consciência. Isto também é um tipo de imaginação em ação.

Imaginação cultural

Chegamos agora à imaginação oculta, ou cultural. Somos criaturas profundamente culturais, moldadas pelo nosso património durante a nossa vida individual e adaptadas à cultura pela nossa história evolutiva.

O nosso património cultural, desde o estilo de roupa que usamos até aos utensílios que utilizamos para preparar os alimentos e o tipo de casas em que vivemos, é o produto criativo cumulativo da imaginação humana, mas as suas origens imaginativas são muitas vezes invisíveis para nós.

A imaginação cultural é frequentemente específica de uma cultura. As crenças profundamente enraizadas, como a fé numa determinada divindade ou a ideia de que uma forma específica de gerir a sociedade é a melhor, são produtos da imaginação.

O mesmo acontece com as ideias profundamente prejudiciais, como a de que uma raça é superior às outras. Estas crenças culturais são, por vezes, confundidas com factos objetivos.

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A ciência da imaginação pode certamente contribuir de alguma forma para o bem social.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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