Estudo mostra que estamos à beira de um “desastre climático irreversível”. Emissões de combustíveis fósseis aumentaram para “um recorde histórico”.
O agravamento dos sinais vitais da terra indica uma nova fase “crítica e imprevisível” da crise climática, que precisa de uma ação decisiva e rápida, concluíram cientistas de um consórcio internacional liderado pela Universidade de Oregon (EUA).
“Estamos à beira de um desastre climático irreversível”, afirmaram os investigadores num relatório anual sobre o estado do clima, publicado nesta terça-feira na BioScience.
De acordo com os peritos, grande parte da estrutura da vida na Terra está em perigo.
Apesar dos avisos e das consequências que foi possível prever no último meio século, as emissões de combustíveis fósseis aumentaram para “um recorde histórico”, referiram no documento.
Os cientistas sublinharam que os três dias mais quentes ocorreram em julho deste ano e que as atuais políticas estão a conduzir a Terra a um pico de aquecimento de aproximadamente 2,7 graus Celsius até 2100.
“Tragicamente, estamos a falhar em evitar impactos sérios (…) Trouxemos o planeta a condições climáticas nunca testemunhadas por nós ou pelos nossos antepassados”, alertaram.
A equipa, dirigida por William Ripple, da Oregon State University, identifica as áreas em que são necessárias mudanças: energia, poluentes, natureza, alimentação e economia.
No ano passado, verificaram-se temperaturas recorde também no mar, assim como o verão extra tropical mais quente do Hemisfério Norte, em 2000 anos.
“As emissões de dióxido de carbono causadas pelo homem e outros gases com efeito de estufa são os principais impulsionadores das mudanças climáticas. Em 2022, a combustão global de combustíveis fósseis e os processos industriais foram responsáveis por cerca de 90% dessas emissões”, sustentaram.
Segundo Ripple, uma grande parte da própria estrutura da vida no planeta está em perigo: “Já estamos no meio de uma convulsão climática abrupta, que põe em risco a vida na Terra de uma forma nunca vista pelos humanos”.
Em 35 sinais vitais monitorizados anualmente pela equipa, 25 estão em níveis recorde.
No relatório são registados alguns “desastres climáticos”, como os incêndios florestais no Chile, que este ano mataram pelo menos 131 pessoas e destruíram mais de 14.000 casas, ou as chuvas intensas em África que causaram inundações severas, nas quais morreram centenas de pessoas. Mais de 700.000 pessoas foram atingidas por este fenómeno.
Enquanto isto, muitas regiões da Ásia viveram “ondas de calor devastadoras”.
Só em Myanmar (antiga Birmânia) morreram 1.500 pessoas por insolação. Na Índia, as temperaturas atingiram os 50 graus em algumas áreas e as doenças relacionadas com o calor causaram 60 mortes.
A população humana está a aumentar a um ritmo de 200.000 pessoas por dia, e o número de animais ruminantes – mamíferos com cascos, como bovinos, ovinos e caprinos, que produzem gases com efeito de estufa e cuja criação exige muita energia – aumenta cerca de 170.000 por dia.
// Lusa