São pequenas “estrelas cerebrais” que armazenam as nossas memórias

 

Investigadores do Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, têm investigado os astrócitos, células em forma de estrela que vivem nos nossos cérebros e que agem como caixas de armazenamento microscópicas para todas as nossas memórias.

Este sistema de arquivamento exclusivo é acedido por um conjunto de neurónios, conhecidos como engramas, que gerem as “estrelas cerebrais”, regulando e recuperando as memórias.

Até agora, pensava-se que as redes neurais eram as únicas responsáveis ​​pela aprendizagem e pela memória, mas não é verdade.

“A ideia predominante é que a formação e a recordação de memórias envolvem apenas engramas neuronais que são ativados por certas experiências e mantêm e recuperam uma memória”, explicou Benjamin Deneen, citado pelo New Atlas.

“Descobrimos que estas células interagem intimamente entre si, tanto física quanto funcionalmente, e que isso é essencial para o funcionamento adequado do cérebro. No entanto, o papel dos astrócitos no armazenamento e na recuperação de memórias nunca tinha sido investigado”, acrescentou.

Nesta investigação, a equipa usou ratos que foram condicionados a sentir medo perante uma situação. Quando foram expostos a um ambiente completamente diferente, não tiveram a mesma resposta de medo.

Este condicionamento ao medo – um processo de aprendizagem – desencadeou um subconjunto de astrócitos que expressam o gene c-Fos, que desempenha um papel fundamental nos circuitos dessa região do cérebro.

“Os astrócitos que expressam c-Fos estão fisicamente próximos dos neurónios do engrama”, referiu o especialista Michael Williamson. “Descobrimos também que os neurónios do engrama e o conjunto de astrócitos fisicamente associados também estão funcionalmente conectados.”

No fundo, a ativação do conjunto de astrócitos estimula especificamente a atividade sináptica, uma comunicação astrócitos-neurónio que flui nos dois sentidos. Isto significa que só quando os ratos estavam num ambiente associado ao medo é que os astrócitos que expressam c-Foss foram ativados.

“Mas quando o conjunto de astrócitos no ambiente sem medo foi ativado, os animais congelaram da mesma forma, o que prova que a ativação dos astrócitos estimula a recuperação da memória”, adiantou, por sua vez, o cientista Wookbong Kwon.

Perante estes resultados, a equipa descobriu que os astrócitos ativados tinham níveis elevados de proteína NFIA e que, quando era suprimida, os neurónios falhavam em recuperar memórias do armazenamento.

“Quando eliminamos o gene NFIA em astrócitos que estavam ativos durante um evento de aprendizagem, os animais não conseguiram lembrar-se da memória específica associada ao evento de aprendizagem, mas conseguiram lembrar-se de outras memórias”, disse Kwon.

Estas descobertas, que surgem num artigo científico publicado na Nature, podem ter implicações importantes na pesquisa de condições nas quais a recuperação da memória é comprometida, como na doença de Alzheimer ou no transtorno de stress pós-traumático.

ZAP //

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