Estranhos poços da Idade da Pedra deixam arqueólogos perplexos

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Hugh Gatt / MOLA

Os “poços de Linmere”, como são conhecidos, podem ter até 5 metros de largura e 1,85 metros de profundidade

Um grupo de arqueólogos encontrou 25 grandes poços espalhados no interior de Inglaterra. Datam da mesma época que os encontrados em Stonehenge e já são uma das descobertas pré-históricas mais importantes dos últimos tempos.

Os poços foram descobertos em Linmere, Bedfordshire, durante duas escavações realizadas em 2019 e 2021, respetivamente.

Através de datação por radiocarbono foi possível perceber que estas estruturas datam entre 8.500 e 7.700 anos atrás – exatamente no final do período Mesolítico (entre 9.000 e 6.000 anos atrás).

Este é um período relativamente obscuro na história britânica, uma vez que existem poucas provas ou indícios sobre como seria a vida nesta época.

As poucas evidências que existem apontam para ferramentas de pederneira e restos de animais massacrados. Muito pouco para reconstruir aquilo que seria o modo de vida na Grã-Bertanha mesolítica.

Os “poços de Linmere”, como são conhecidos, são poços arredondados com lados muito íngremes. Podem ter até 5 metros de largura e 1,85 metros de profundidade, embora alguns tenham um fundo ainda mais alargado. Para os construir seria necessário um grande esforço e mão-de-obra.

Curiosamente, estes poços parecem estar dispostos em várias linhas retas que podem ter até 500 metros de comprimentos. Embora outros poços mesolíticos já tenham sido descritos, estes têm uma particularidade interessante – parecem agrupar-se em torno de antigos canais ou riachos.

“Os poços mesolíticos de Linmere são uma descoberta muito empolgante”, afirma Joshua Pollard, professor e especialista na Universidade Southampton. “Embora existam outros poços grandes e enigmáticos cavados por caçadores recolectores em várias partes da Grã-Bretanha, inclusive em Stonehenge, os poços de Linmere são impressionantes devido ao seu número e à grande área que cobrem.”

Alguns destes poços continham ossos de animais, uma importante fonte de informação sobre a vida contemporânea. Os ossos aparentam pertencer a várias espécies, incluindo martas, veados, javalis e auroques, uma espécie de gado selvagem.

Os ossos de auroques sugerem que estes animais eram utilizados como fonte de alimentação. Além disso, foi a partir das suas ossadas que se conseguiu datar a idade dos poços por radiocarbono.

“Foi incrível para toda a equipa trabalhar num local tão importante para o período Mesolítico”, afirma Yvonne Wolframm-Murray, Diretora de Projetos do Museu de Arqueologia de Londres (MOLA) e que participou na descoberta em conjunto com a Albion Archaeology.

“Estas descobertas demonstram a importância da datação de carbono aliada ao trabalho de campo. Sem estes, não teríamos percebido o enorme significado desta descoberta”, acrescenta a investigadora.

Hugh Gatt / MOLA

Ninguém sabe por quem motivo estes poços foram constrídos

O razão pela qual estes poços foram construídos é ainda uma incógnita, mas já há várias especulações. Uma das teorias aponta que estes poderiam ter sido usados para armazenar alimentos, embora tal seja pouco provável.

Os caçadores recolectores da Grã-Bretanha mesolítica eram nómadas e, por isso, não faria sentido construir poços desta envergadura para guardar alimentos.

Outra teoria afirma que os poços teriam alguma ligação com rituais espirituais. Em particular devido ao seu alinhamento e à sua localização particular, junto a fontes de água.

Nos próximos tempos, os investigadores vão analisar se o arranjo dos poços está alinhado com algum evento celeste, como o solstício. Através das ossadas recolhidas será ainda possível extrapolar informações que permitirão reconstruir a paisagem da época.

Para já, as evidências sugerem a existência de carvalhos, aveleiras e pinheiros, dada a presença de um determinado tipo de pólen encontrado nas escavações.

Patrícia Carvalho, ZAP //

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1 Comment

  1. Os poços eram usados para caçar, se o buraco for fundo o suficiente, muitos dos animais que caem não conseguem sair, uma espécie de armazém. Depois é só ir matando e comendo.

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