Uma nova pesquisa sugere uma explicação geológica para as “luzes fantasma” vistas em Summerville, na Califórnia, que pode ajudar a detetar falhas tectónicas e dar mais informações sobre o risco de sismo.
Durante décadas, uma luz misteriosa que flutua sobre os carris dos caminhos-de-ferro perto de Summerville tem sido associada a uma lenda fantasmagórica. Os habitantes locais dizem que é a lanterna de um espírito inquieto à procura do seu marido decapitado. Mas pode a ciência explicar este estranho fenómeno?
A sismóloga Susan Hough, do Serviço Geológico dos EUA, acredita que a luz de Summerville pode ser uma ocorrência natural conhecida como “luzes de terramoto“, um fenómeno raro e mal compreendido, por vezes associado à atividade sísmica.
As luzes de terramoto manifestam-se de várias formas, tais como esferas brilhantes, faíscas ou pilares luminosos. Estes fenómenos têm sido relatados em todo o mundo, muitas vezes adicionando uma aura sobrenatural devido à sua raridade e à falta de uma explicação científica clara. As hipóteses vão desde a ignição de gases subterrâneos até descargas elétricas causadas por movimentos tectónicos.
Hough e Roger Bilham, um geofísico da Universidade do Colorado em Boulder, têm investigado a falha responsável pelo terramoto de Charleston de 1886, um dos maiores eventos sísmicos do sudeste dos EUA. Summerville, a cerca de 40 quilómetros de Charleston, tem sido um ponto focal da sua investigação.
O interesse de Hough pela Luz de Summerville começou depois de ler sobre ela num boletim informativo do Serviço Geológico dos EUA sobre “ciência assustadora”. A sua investigação revelou que a luz foi observada pela primeira vez nos anos 50 ou 60, coincidindo com terramotos próximos de magnitude 3,5 a 4,4.
A investigadora teoriza que pequenos tremores na área podem ter libertado gases que podem inflamar-se ao interagir com a eletricidade estática ou a fricção das rochas. As linhas de caminho de ferro não utilizadas na zona também podem ter desempenhado um papel importante, uma vez que os carris de aço e a sucata antiga podem gerar faíscas em determinadas condições.
“Os carris antigos nem sempre foram removidos quando foram instalados novos carris”, observou Hough. “As pilhas de sucata ao longo dos carris podem facilmente contribuir para este fenómeno.”
Embora intrigante, a teoria de Hough ainda não foi comprovada. Estudos futuros poderão envolver detetores de gás e sondas geológicas para procurar falhas pouco profundas e medir as emissões de gás na região, indica o Interesting Engineering.
“Existem muitas falhas no leste dos EUA, mas identificar as ativas é um desafio”, explicou Hough. “Talvez estas ‘luzes fantasma’ ajudem a realçar os ambientes que produzem luzes de terramoto e iluminam as zonas de falhas“.
Hough partilhou as suas descobertas na Seismological Research Letters, esperando que inspirem mais investigação sobre estas luzes misteriosas e a sua ligação à atividade sísmica.