Uma estatueta do século II apresentava características estranhas para a o estilo artístico da época. Acabou por ser uma importante descoberta.
Nas escavações arqueológicas no Monte da Cividade, em Braga, foi descoberta uma estatueta que data do século II com caraterísticas faciais intrigantes, descreve o LBV, incluindo exoftalmia (olhos salientes), exotropia (desvio dos olhos) e assimetria facial.
O mistério suscitou então mais um caso de iconodiagnóstico, ou seja, a descoberta de doenças que existiam noutros tempos com ajuda de objetos artísticos.
Esta estátua do período da Roma Antiga teria, segundo o estudo publicado no passado dezembro na revista Antropologia Portuguesa, síndrome de Crouzon, uma forma de disostose craniofacial.
Esta doença genética, causada por uma mutação, resulta no fecho prematuro das suturas cranianas e em deformidades faciais.
De acordo com os especialistas, o artista foi bastante habilidoso na representação das características físicas da doença.
Os investigadores sugerem também que a estátua pode representar uma sacerdotisa, possivelmente escolhida pelas suas caraterísticas físicas sob a influência de tradições xamânicas (espiritistas) que viam as deformidades como marcas divinas.
Associaram também a estátua, que segura uma serpente enrolada num bastão, à deusa Salus, o equivalente romano da grega Hygieia, o que sugere uma ligação aos cultos de saúde e de proteção comunitária em Bracara Augusta (antigo nome de Braga).
Existem outros casos históricos de síndrome de Crouzon, mas são muito raros. Existem características dessa doença descrições do faraó Tutankhamon ou de Péricles, o estadista de Atenas.
Estas representações artísticas refletem reações humanas a fenómenos inexplicáveis, explica o investigador Joseph Warkany, que acrescenta que Bracara Augusta é um exemplo excecional do contributo da arte para a história da medicina.
A estatueta está exposta no Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa.