Militarmente, a China hoje é uma força que não pode ser subestimada, mas uma guerra comercial teria consequências nefastas em todo o mundo.
A China reagiu com a fúria expectável ao anúncio do pacto Aukus, um acordo histórico de segurança que une Austrália, EUA e Reino Unido e que se destina a enfrentar a expansão militar chinesa na região do Indo-Pacífico. Os detalhes foram revelados na segunda-feira (13/3) em San Diego, na Califórnia.
Através do pacto, os australianos terão o seu primeiro submarino nuclear fornecido pelos EUA e serão, no mínimo, três. A partir de 2027, submarinos norte-americanos e britânicos ficarão estacionados em algumas cidades da Austrália.
“Estão a entrar num caminho perigoso“, “não estão a considerar as preocupações da comunidade internacional” e até “arriscar uma nova corrida armamentista e de proliferação nuclear” são apenas algumas das acusações feitas por Pequim ao trio de aliados.
Desde que a presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, fez sua controversa visita a Taiwan no ano passado, a China não expressava uma desaprovação tão intensa a respeito de ações ocidentais.
A China, a nação mais populosa do mundo, com o maior exército e a maior marinha do mundo, diz que está a começar a sentir-se “encurralada” pelos EUA e seus aliados no Pacífico ocidental.
Em resposta, o presidente Xi Jinping anunciou recentemente que a China aceleraria a expansão de seus gastos com Defesa e nomeou a segurança nacional como a principal preocupação dos próximos anos.
Não é de admirar que o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, tenha falado esta semana sobre uma década perigosa no horizonte e a necessidade de o país se preparar para enfrentar os crescentes desafios de segurança. Então, como chegamos a esse ponto? O mundo está a aproximar-se de um conflito catastrófico no Pacífico entre a China e os EUA e os aliados?
Um entendimento errado do cenário
O Ocidente fez uma leitura incorreta da China. Durante anos, assistiu-se a um entendimento ingênuo nos ministérios das Relações Exteriores de que a liberalização econômica chinesa levaria inevitavelmente a uma abertura da sociedade e a uma maior liberdade política.
À luz desse raciocínio, à medida que empresas multinacionais ocidentais estabelecessem joint ventures no país e centenas de milhões de cidadãos chineses começassem a desfrutar de um padrão de vida mais alto, o Partido Comunista Chinês (PCC) certamente diminuiria o controle sobre a população, permitiria algumas reformas democráticas ligeiras e tornar-se-ia integrante da chamada “ordem internacional que respeita regras“. Mas tal não aconteceu.
Sim, a China tornou-se um gigante econômico, uma parte vital e integral da cadeia de fornecimento global e o parceiro comercial mais importante para diferentes países de todo o mundo.
Mas a nova posição não foi acompanhada por uma mudança em direção à democracia e à liberalização. Pequim, na verdade, tomou um caminho que alarmou os governos ocidentais e muitos de seus vizinhos, como Japão, Coreia do Sul e Filipinas.
Qual caminho? A lista é longa, mas aqui estão os principais pontos de discórdia entre a China e o Ocidente:
- Taiwan: a China prometeu diversas vezes tomar a ilha autônoma e pela força, se necessário. O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que os EUA viriam em defesa de Taiwan, embora a política oficial dos EUA não se comprometa com uma ação militar;
- Mar do Sul da China: nos últimos anos, a China usou sua poderosa marinha para colonizar partes dessa área marítima, reivindicando-a como seu próprio território, em violação do direito internacional;
- Tecnologia: a China vem recebendo cada mais acusações de coletar secretamente grandes quantidades de dados pessoais, bem como de roubar propriedade intelectual para obter vantagem comercial;
- Hong Kong: Pequim esmagou com força a democracia na ex-colônia britânica, impondo longas sentenças de prisão a ativistas;
- Muçulmanos Uigures: dados de satélite e relatos de testemunhas oculares apontam para o internamento forçado de até 1 milhão de muçulmanos uigures em campos na província de Xinjiang.
Militarmente, a China hoje é uma força que não pode ser subestimada. Nos últimos anos, o Exército Popular de Libertação, que comanda as forças militares chinesas, fez enormes progressos em tecnologia e inovação, bem como no poderio militar.
Os mísseis hipersônicos Dong Feng da China, por exemplo, podem viajar cinco vezes mais a velocidade do som e são armados com um explosivo potente ou um ogiva nuclear.
Tudo isto está a fazer a 7ª Frota da Marinha dos EUA, que atua no Oceano Pacífico e no Índico e tem base em Yokosuka, no Japão, parar para pensar sobre a sua capacidade militar face às numerosas baterias de mísseis da China em terra.
A China também organizou um programa de rápida expansão de seus mísseis balísticos nucleares com o objetivo de triplicar o número de ogivas ao mesmo tempo que constrói instalações subterrâneas para armazenar esse armamento em zonas remotas do país.
Ainda assim, estes sinais não significam que a China quer começar a guerra. Quando se trata de Taiwan, Pequim prefere exercer uma pressão suficiente para que a ilha capitule e se submeta sem que a China dispararem um único tiro.
Sobre Hong Kong, os uigures e a propriedade intelectual, o Partido Comunista Chinês sabe que, com o tempo, as críticas perdem força porque as relações comerciais com a China são importantes demais para o resto do mundo.
Portanto, embora as tensões tenham crescido muito agora e possam aparecer novos incidentes dentro desse conflito, ambos os lados — China e Ocidente — sabem que uma guerra no Pacífico seria catastrófica para todos.
Apesar da retórica enraivecida, a escalada do conflitoe não interessa a ninguém.
ZAP // BBC
Guerra comercial? A muito que estão em guerra, iniciada pelo Tramp e não resolvida ou revista pelo Bidé.