Sporting parece estar em ano de regresso ao topo do futebol. Mas outros clubes dominadores, ou desapareceram, ou andam discretos. “Felizmente não subimos à I Divisão”, admite o presidente do HC Sintra.
“Donos disto tudo” pode ser visto como uma expressão exagerada; mas em alguns dos casos mencionados neste artigo, os referidos clubes foram mesmo donos dos principais campeonatos das respetivas modalidades, devido ao número de títulos que conseguiram. Outros foram “donos efémeros”.
Futebol dominado pela capital
Até aos anos 80 do século passado, Lisboa dominou o futebol nacional masculino. Na grande maioria das épocas da primeira divisão masculina, a pergunta era: o campeão vai ser o Benfica ou o Sporting? Basta verificar que, até 1989, o Benfica conquistou 28 dos seus 37 títulos e o Sporting conquistou 16 dos seus 18 troféus.
O Sporting ficou para trás nessa contagem. Deixou de ser dominador desde 1982. Nos últimos quase 40 anos o futebol masculino adicionou somente dois campeonatos ao currículo do clube (2000 e 2002). Na última década atravessou crises sérias, momentos mediáticos de violência e, antes, ficou num modesto sétimo lugar na I Liga, a sua pior classificação de sempre. Está há 19 anos sem ser campeão – o maior hiato de sempre – mas, provavelmente, vai voltar ao topo daqui a umas semanas.
Em Lisboa mora também o Belenenses, que foi campeão uma vez (1946), além de ter estado na luta pelos primeiros lugares em várias outras épocas. Mas entretanto já desceu de divisão, já regressou ao escalão nacional e mais recentemente até se “dividiu” em dois. No dia da elaboração deste artigo, ocupa o 10.° lugar da I Liga.
O Boavista foi campeão nacional em 2001. Mas, na mesma década, desceu “na secretaria” ao terceiro escalão nacional. Passou por anos complicados mas, também “na secretaria”, voltou a jogar com os grandes. Tem lutado para não descer de divisão, tal como acontece na época atual (é último classificado).
De Sintra vinham as dominadoras do futebol feminino: a Sociedade União 1.º Dezembro, mais conhecida como 1.º Dezembro, foi campeã nacional entre 2002 e 2012. Um registo incrível de 11 títulos consecutivos, acrescentando um anterior, em 2000. Ficou também para os livros a marca de 140 jogos seguidos sem derrotas, no campeonato. No entanto, em 2014, minutos antes do último jogo do campeonato, o presidente avisou as jogadoras que a equipa iria deixar de jogar devido a problemas económicos.
Hóquei: “Manter o que temos”
Na mesma cidade mora o Hockey Club de Sintra, que (provavelmente muitos adeptos não sabem) é um dos clubes com mais títulos na história de um dos campeonatos mais antigos em Portugal: o hóquei em patins. O HC Sintra tem quatro troféus, sendo superado apenas por Benfica, FC Porto, Paço de Arcos e Sporting.
O último título foi há mais de seis décadas, em 1959. Agora a equipa está na II Divisão nacional masculina e nem convém subir em breve, admitiu ao ZAP o presidente Francisco Leitão: “Gostaríamos muito de voltar à primeira divisão desde o ano 2013, ano em que assumi a presidência do clube. Por duas vezes disputámos uma liguilha que, em caso de vitória, dar-nos-ia a subida; o que felizmente não aconteceu, pois os nossos atletas não são remunerados e seria muito difícil conseguir manter uma equipa nessas condições. A prioridade é criar uma formação consistente e a longo prazo tentar algo de «maior». Para já, temos de nos manter com o que temos”.
Francisco Leitão considera que o HC Sintra “caiu” na modalidade por causa de erros de gestão de direções anteriores: “A partir de 2002, o clube iniciou um ciclo de grandes dificuldades económicas, por erros enormes de gestão que ainda hoje estamos a sofrer”.
Na II Divisão está também o quase vizinho Paço de Arcos, que é o terceiro clube com mais campeonatos: oito, cinco deles consecutivos. Mas todos esses feitos foram alcançados entre 1941 e 1955. Na época passada estava na I Divisão mas, num campeonato que nem chegou ao fim por causa do coronavírus, ficou no 12.º lugar e desceu ao segundo escalão.
O hóquei em patins, vertente feminina, teve duas equipas que foram claramente “donas disto tudo” – ambas da Nortecoope, na Maia. Duas formações da Nortecoope: primeiro, o Centro Desportivo Nortecoope venceu todos os campeonatos entre 2001 e 2005; as cinco edições seguintes, entre 2006 e 2010, foram vencidas pela Fundação Nortecoope – equipa que deixou de existir precisamente em 2010, pouco depois de ter sido novamente campeã. “Não sabemos o que andamos aqui a fazer. A decisão foi emocionalmente muito difícil, com grandes danos, mas não há competição e os calendários não estão bem feitos”, disse na altura o presidente Joaquim Faria.
Andebol: campeãs em Lagos, até que “faltou dinheiro”
O andebol feminino estava a ser dominado pela Madeira SAD, com 11 títulos seguidos, até que apareceu o Clube Desportivo da Escola Secundária Gil Eanes, bicampeão em 2010 e 2011. “Andámos sempre nos lugares cimeiros na I Divisão, no novo milénio, estávamos sempre a lutar com a Madeira SAD pelo título. Ficávamos sempre no segundo lugar porque no jogo da final a Madeira SAD levava a melhor, eram melhores do que nós”, recorda ao ZAP o presidente Mauro Dias dos Santos.
Então o que mudou para chegarem ao título? A contratação de Aleksander Donner, despedido pelo Benfica (equipa masculina) na altura. O presidente conta: “Num dia, num torneio, falámos com ele, apresentámos o nosso projeto e ele achou interessante e mudou-se aqui para o Algarve a meio de 2008/09. Tínhamos boas jogadoras, algumas da seleção nacional. Na época seguinte foi ele quem preparou a equipa toda, com alguns reforços, e fomos campeãs. No ano seguinte, embaladas, e apesar da saída do Donner, o plantel era quase igual e fomos campeãs novamente”.
Até que a crise financeira daquela altura afetou o país. O Gil Eanes deixou de ter apoios financeiros por parte das empresas e, sobretudo, por parte da autarquia: “A Câmara Municipal de Lagos contribuía muito para o nosso orçamento anual. Em abril de 2012, quando íamos assinar o contrato-programa, já com toda a despesa feita, a autarquia disse que não ia assinar contrato-programa com nenhum clube. Não deu um cêntimo aos clubes. Ficámos bastante mal e tivemos de acabar com a equipa sénior. Não havia dinheiro”.
A equipa sénior feminina regressou em 2019, quando já havia uma boa base de jovens jogadoras da formação do clube, e está na II Divisão nacional. Para já, confirma Mauro Dias dos Santos, a prioridade não é regressar ao primeiro escalão: “Não queremos subir já. Para já, estamos a preparar o terreno para um eventual regresso à I Divisão. Queremos chegar lá e, claro, se surgir a oportunidade… Mas não foi o objetivo traçado para estes dois anos”.
Basquetebol: Santarém quer “recuperar” atletas
A Associação Desportiva Ovarense foi dominadora do basquetebol masculino entre 2006 e 2008, com um tricampeonato (cinco títulos, no total). Ainda foi à final em 2009 mas depois desapareceu do topo da modalidade. Atravessa uma “espiral negativa”, admitiu o novo treinador Pedro Nuno, no início deste ano. A Ovarense ocupa o 12.º e antepenúltimo lugar e ainda corre o risco de descer à Proliga.
Na vertente feminina, o início deste século viu o Santarém Basket ser campeã nacional duas vezes (2002 e 2004), entre outros troféus. “Foi um percurso positivo, tem a ver com quem liderava o clube na altura: o clube estava entregue a treinadores, que treinavam e também faziam parte da direção. Houve investimentos, patrocínios e apareceu essa onda de sucesso. Foi um tempo bom”, explica ao ZAP o presidente José Daniel Oliveira.
Até 2011 o Santarém Basket contou sempre com seniores femininas. “Mas depois deixámos de ter. A pouca visibilidade do basquetebol, nesta zona não é fácil encontrar apoios… O número de patrocínios foi descendo ano após ano, a maioria das atletas eram juniores e fomos aguentando, até que deixou de ser possível. Não havendo patrocinadores, não é possível ter equipas seniores“, analisou José Daniel Oliveira.
O clube de Santarém continua sem ter uma equipa sénior feminina e o presidente sublinhou que esse regresso não é prioritário: “Muito menos num momento em que não sabemos o que o futuro nos reserva em tempo de pandemia, pelo que a nossa preocupação principal será recuperar os nossos atletas para o basquetebol, logo que sejam retomadas as atividades desportivas. Até porque, sem formação, não conseguimos chegar às seniores”.
Voleibol a Norte
No voleibol masculino, o Castêlo da Maia dominou o campeonato entre 2001 e 2004. Foi tetracampeão – os únicos títulos do seu palmarés. Depois nunca mais terminou a época nos dois primeiros, tendo algumas presenças no pódio. Nesta época terminou a fase regular no oitavo posto e depois ficou longe da presença nas meias-finais.
O Boavista venceu a maioria dos campeonatos femininos (cinco) entre 1987 e 1995 – ao qual se seguiu um domínio claro…do Castêlo da Maia. Entretanto o Boavista desapareceu dos títulos e quase das finais: a última final foi em 2004. Já fechou a fase regular da presente temporada, no penúltimo lugar; mas ainda pode ficar no último posto.
Futsal em Matosinhos
Entre as modalidades coletivas principais em Portugal, o campeonato de futsal é o mais recente. Os adeptos mais jovens podem pensar que Benfica e Sporting foram sempre os campeões nacionais masculinos. Mas certamente os menos jovens recordam os bicampeões Correio da Manhã e Miramar (clubes que já não existem).
O último clube campeão nacional, antes deste domínio dos maiores clubes de Lisboa, foi o Freixieiro. Um único título no currículo, em 2002, seguido por anos no escalão principal, mas agora está na II Divisão – e não estava em lugar de luta pela subida quando o campeonato foi interrompido.