Com a esquerda a espreitar e Macron a chegar-se à direita, adivinha-se uma repetição do duelo de 2017 em França

Philippe Wojazer / EPA

Macron é o grande favorito numa altura de grande incerteza na Europa, notando-se uma aproximação do chefe de Estado francês à direita.

Com a primeira ida às urnas marcada para 10 de Abril, Emmanuel Macron é o grande favorito para a reeleição nas presidenciais francesas, com as sondagens a apontarem para que o actual chefe de Estado recolha 30% das intenções de voto.

As sondagens antecipam que haja uma segunda volta e uma repetição das eleições de 2017, que colocaram Macron frente a frente com a candidata de extrema-direita Marine Le Pen, que tem 20% das intenções de voto nos inquéritos.

Apesar do burburinho inicial em torno de Éric Zemmour — um candidato também de extrema-direita e que foi muitas vezes comparado a Donald Trump — este não tem passado dos 10% das intenções de voto.

Le Pen e Zemmour têm posições semelhantes em vários temas, mas a primeira tem apostado na conquista dos eleitores da classe trabalhadora ao defender uma maior intervenção do Estado na economia, com um foco especial na luta contra a inflação e na defesa do poder de compra dos franceses.

Mais liberal, Zemmour defende uma luta contra o “Estado obeso”, mas, por enquanto, a retórica de Le Pen parece estar a ter mais resultados nas intenções de voto. O candidato também sofreu com o início da guerra na Ucrânia, devido à sua aparente proximidade a Putin, e, ao contrário de Le Pen (que contestou o acolhimento de sírios de 2017), defende limitações no acolhimento de refugiados ucranianos.

Perante uma esquerda que tem perdido gás nos últimos anos no panorama político francês, Jean-Luc Melénchon é a grande aposta nestas eleições e tem, aos poucos, subido nas sondagens, rondando agora os 15%, ainda com esperança de ultrapassar Le Pen e ser o adversário de Macron na segunda volta.

O partido França Insubmissa, de Melénchon, espera assim conseguir recentrar o debate em temas mais queridos da esquerda, como a distribuição de riqueza e o sindicalismo, num país onde o debate político está a ser ditado pela direita e pela extrema-direita e focado mais em questões como a imigração.

Macron chega-se à direita

Ao longo do seu mandato, Macron tem também adoptado políticas mais à direita, sejam elas a proposta de reestruturação do sistema nacional de pensões (que foi um dos motivos que alimentou a contestação nos protestos dos coletes amarelos) ou o maior aperto contra os muçulmanos, por exemplo, com a proibição do uso dos véus islâmicos em público.

Esta virada tem-lhe valido votos do eleitorado partido de direita mais tradicional, os Republicanos, tendo Macron sugado muitos eleitores a Valérie Pécresse, com uma sondagem do Le Monde a apontar que 40% dos membros deste partido já preferem o actual presidente.

Pécresse, que já foi alvo de críticas no próprio partido devido à sua simpatia pela facção mais radical dos Republicanos, também já saiu ao ataque e acusou Macron de ter copiado o seu programa eleitoral, especialmente com a proposta que obriga quem recebe o rendimento mínimo a cumprir 15 a 20 de horas de trabalho por semana.

Macron tem-se também afirmado como grande favorito devido ao contexto político. Perante uma guerra sem fim anunciado, uma pandemia que ainda não acabou e uma inflação que ameaça causar uma nova crise económica, os franceses preferem apostar num Presidente com o qual já sabem com o que contar do que arriscarem um agravamento da instabilidade ao elegerem um novo chefe de Estado.

Para além disto, já se antecipa uma elevada abstenção. De acordo com a sondagem do Le Monde, cerca de 30% dos eleitores podem não ir às urnas, sendo que este valor costuma rondar os 20% nas eleições presidenciais em França, tendo-se ficado pelos 22% em 2017.

A recusa de Macron em participar em debates com os adversários também não tem ajudado a suscitar mais interesse nos franceses, com o chefe de Estado a argumentar que nunca nenhum Presidente em funções participou nestes debates.

A primeira vez que um debate nestes moldes ocorreu foi antes da primeira volta em 2017, sendo que na altura o então Presidente François Hollande tinha anunciado que não ia ser candidato a um segundo mandato.

Adriana Peixoto, ZAP //

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