Só no Brasil, 14% dos internautas já perderam dinheiro em esquemas fraudulentos. Ficam quatro dicas para identificar esses crimes.
Os crimes de pirâmide financeira ou “Esquema Ponzi” são muito antigos, e desde os anos 1950 o Brasil possui mecanismos legais que preveem atos ilícitos dessa natureza. Contudo, a tecnologia e as novas modalidades de investimentos têm conseguido maquiar atividades ilegais em negócios que parecem legítimos. E como reconhecemos um esquema em pirâmide financeira atualmente?
Segundo a pesquisa “Fraudes em Investimentos no Brasil”, conduzida pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 14% dos internautas brasileiros afirmam já terem perdido dinheiro em esquemas fraudulentos.
Em resumo, uma pirâmide financeira se apresenta como um modelo comercial que seduz os clientes com ofertas urgentes e imperdíveis. Embora pareça o contrário, nunca é sustentável, e depende do recrutamento progressivo de outras pessoas para continuar a criar a ilusão de ganhos reais. Esse tipo de crime voltou com força nos últimos anos, principalmente com a chegada de apps de investimentos e diferentes criptomoedas, que têm sido usados não somente para aumentar a “maquiagem” do negócio ilícito como também ajuda a apagar os rastros dos pagamentos.
“É importante mencionar que a ascensão das criptomoedas e a falta de regulamentação associada aos criptoativos em geral, faz com que esse tipo de fraude prospere nesse ecossistema, por isso é importante que as pessoas estejam atentas a qualquer proposta ou investimento muito bons para serem verdade”, destaca Mario Micucci, Pesquisador de Segurança de Computadores da empresa de segurança ESET.
Como funcionam os esquemas de pirâmide?
Os golpes de pirâmide são um esquema de negócios que aparecem como uma oportunidade de obter um grande retorno económico. Toda a conversa costuma acontecer numa rede baseada na confiança, na qual os novos participantes que a ingressam, iludidos com a ideia de formar parte de um modelo comercial atrativo, devem investir dinheiro e captar novos investidores que queiram fazer parte de uma comunidade aparentemente seleta.
Assim, o “lucro” obtido nesse modelo vem do dinheiro dos novos participantes, e não de um investimento legítimo ou a venda de um produto. A pirâmide também costuma aparecer na variação chamada de “Esquema Ponzi”, que tem uma construção semelhante, com a única diferença sendo o fato de o dinheiro realmente estar sendo destinado a um investimento — que só serve como fachada.
Em ambos os modelos chega um momento em que a rede cresce muito e fica difícil atrair novos investidores, chegando a um ponto em que as pessoas não podem sacar dinheiro quando querem e os criadores da rede desaparecem. “Em 2022, 11 pessoas foram acusadas pelo seu papel na criação de um esquema Ponzi e pirâmide chamado Forsage, que fingia ser uma plataforma descentralizada de contratos inteligentes. Essa fraude recrutou participantes para depositar criptomoedas e levantou mais de 300 milhões de investidores”, recorda Minucci.
Como identificar esquemas de pirâmide?
Na América Latina existem vários exemplos recentes de pirâmide financeira, como o caso do Single Grain no Chile em 2022. Nesse caso, os golpistas ofereciam um aplicativo no qual as pessoas tinham que investir dinheiro e convidar outras a participar. O app oferecia grande rentabilidade, por isso era muito atrativo. No entanto, acabou por se revelar uma fraude milionária.
No Brasil, o “Rei do Bitcoin” conseguiu atrair 7 mil vítimas e deu um golpe de R$ 1,5 bilhão. Ele foi condenado pela Justiça Federal do Paraná a oito anos e seis meses de prisão, em regime fechado, por crimes contra o Sistema Financeiro Nacional e estelionato. Na Argentina, o criador da Geração Zoe está preso, acusado de realizar um esquema em pirâmide enquanto a justiça investiga centenas de denúncias.
Para saber como identificar esses esquemas, a ESET tem algumas dicas:
- Esse tipo de esquema é baseado na confiança. Quando as pessoas percebem que aqueles que estão envolvidos, recebem o que foi prometido e são pessoas de confiança, como familiares ou amigos, elas ficam imediatamente tentadas a participar. Tendo em conta que se ninguém for pago, os golpistas conseguiriam pouco dinheiro, a estratégia é pagar os primeiros investidores até que a rede cresça o suficiente, pois eles mesmos serão os responsáveis por compartilhar essa oportunidade de negócio com sua rede de contatos, assim que verificam que as promessas são reais. Para os criminosos é muito lucrativo pagar os primeiros, aumentar a bolha o mais rápido possível e desaparecer com o dinheiro de muitos. Mas não há garantias de pagamento;
- Outro dos pontos notáveis desses golpes são os altos lucros prometidos em períodos de tempo muito curtos, o que gera uma grande tentação;
- No caso dos esquemas Ponzi, geralmente não há informações sobre onde o dinheiro está a ser investido e como a lucratividade do negócio é gerada;
- Por último, estes esquemas fraudulentos não se deterioram progressivamente. O sistema começa a funcionar até que um dia os criadores da bolha desaparecem e o sistema para de funcionar. Isso, logicamente, é difícil prever.
“Os golpistas sempre procuraram atrair investidores inexperientes para esses esquemas e, atualmente, estão a tentar aproveitar o interesse em criptomoedas também. Observe que eles podem até usar a imagem de figuras públicas para te convencer. Por isso, é importante se manter informado, alerta e desconfiado quando os benefícios são muito bons”, conclui Micucci.
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