A pandemia de covid-19 expôs a vulnerabilidade da população ao aumento de algumas doenças crónicas nas últimas três décadas, situação que em Espanha ameaça reduzir a esperança média de vida, superior a outros países ocidentais.
Um extenso estudo publicado na quinta-feira na Lancet revelou que o crescimento de doenças não transmissíveis, que causam mais de 175 mil mortes por ano em Espanha, em conjugação com a pandemia de covid-19, coloca em risco os avanços na saúde nos últimos anos, noticiou esta sexta-feira o agência Lusa.
O aumento, entre outros, da hipertensão, da hiperglicemia, do índice de massa corporal (IMC) e da hipercolesterolemia, juntamente com o final da diminuição das mortes por doenças cardiovasculares em alguns países, parecem indicar que “o mundo pode estar a aproximar-se de uma inflexão no que diz respeito à esperança de vida”.
O relatório explicou que a principal causa de morte por doenças não transmissíveis (DCNT) em 2019 em Espanha foi a doença isquémica do coração, que causou 53.600 mortes, seguida do acidente vascular cerebral, com 37.100.
Já a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) vitimou 31.200 pessoas, enquanto o Alzheimer e outras demências, bem como o cancro de pulmão, causaram 29.200 e 24.500 mortes, respetivamente.
Segundo os dados recolhidos pelo grupo de especialistas os cinco principais fatores de risco que causaram uma diminuição da saúde em Espanha, no ano passado, foram a hipertensão sistólica (que causou cerca de 72.100 mortes), tabagismo (69.900), glicose plasmática de jejum elevada (54.500), hábitos alimentares (42.900) e IMC elevado (42.000).
O estudo, desenvolvido pelo Institute for Health Metrics and Assessments (IHME) da Universidade de Washington, analisou 286 causas de morte, 369 doenças e lesões e 87 fatores de risco em 204 países e territórios.
Os autores consideram que os resultados dão pistas sobre o estado de saúde da população mundial para lidar com a pandemia de covid-19.
“Pela primeira vez, vemos que o número de casos de doenças cardiovasculares em vários países parou de diminuir e, de facto, há alguns onde aumentou nos últimos anos”, explicou o diretor do IHME, Christopher Murray, frisando que não se prevê a queda da esperança de vida nos países mais pobres, visto que “fenómeno parece agora exclusivo dos mais ricos”.
“É por isso que acreditamos que estamos num ponto crítico em países desenvolvidos onde, se não gerirmos estes fatores de risco de forma mais proativa, pode não ocorrer mais progresso e, talvez, registar-se uma queda na esperança de vida”, alertou.
O estudo destacou que a esperança de vida dos espanhóis tem aumentado tal como a média mundial e que entre 1990 e 2019 passou de 67,2 para 73.5 anos, respetivamente. Nas últimas três décadas, a expectativa de vida saudável – número de anos que se espera que uma pessoa tenha boa saúde – também aumentou de forma constante.
No entanto, este indicador não progrediu à mesma velocidade que a esperança de vida em geral, nos 198 dos 204 países avaliados, o que sugere que a população vive atualmente com mais problemas de saúde. Em Espanha, a expectativa de vida saudável atingiu os 71,3 em 2019, face aos 68,5 anos da Europa Ocidental e 63,5 anos da média mundial.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de um milhão e noventa e três mil mortos e mais de 38,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
// Lusa
Coronavírus / Covid-19
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