Samuel Little é, possivelmente, um dos maiores serial killers da história dos EUA, ao ter matado mais de 90 mulheres. No entanto, foi ele que teve de confessar todos os crimes.
A prática era quase sempre a mesma: procurava mulheres junto de bares ou discotecas. Raptava-as e, no banco de trás do carro, batia-lhes. Por vezes, tinha relações sexuais com as vítimas. Por fim, estrangulava-as até à morte.
Durante semanas, o homem com atualmente 78 anos, de cabelos brancos e cadeira de rodas foi levado quase diariamente para uma sala onde relatava pormenorizadamente o que fez: como escolhia cada uma das mulheres, o que lhes fazia e onde deixava os corpos. Lembrava-se dos nomes e das caras de cada uma delas.
Não mostrou qualquer sinal de remorso. Por vezes, ria-se enquanto contava os crimes que cometeu. “Vi malvadez poucas vezes ao longo da minha carreira. Ao olhá-lo nos olhos, diria que é pura malvadez”, disse Tim Marcia, detetive da polícia de Los Angeles, em declarações ao The New York Times.
Little já cumpria prisão perpétua pelos homicídios de três mulheres nos anos 1980, quando decidiu confessar o envolvimento em dezenas de outros casos. Até agora, as autoridades encontraram ligações a pelo menos 30 assassinatos, em 14 estados norte-americanos.
“Quando terminarmos a investigação, acreditamos que Samuel Little será um dos mais prolíficos serial killers da história americana”, sublinhou Bobby Bland, advogado de Ector County, no Texas.
Até agora, Gary Ridgway era o homem com mais condenações por homicídio: 49. Mas as autoridades acreditam que, caso a confissão seja verdadeira, Samuel vai ser o serial killer com mais crimes provados na história recente dos EUA.
Os crimes agora confessados por Samuel têm cerca de 50 anos, tendo acontecido uns anos antes dos três homicídios pelos quais foi entretanto condenado.
A polícia nunca desconfiou que Little fosse o autor destes crimes, uma vez que os homicídios ocorreram em locais muito distantes uns dos outros.
Há ainda o facto de quase todas as vítimas de Little serem mulheres pobres, com vícios de droga e álcool, ou seja, um perfil de pessoa que raramente era dada como desaparecida e em que, na época, eram investidos poucos recursos.
O que levou Samuel Little a confessar
Depois de tantos anos, Little simplesmente confessou. O porquê: já estava preso para o resto da vida, não tendo nada a perder.
Além disso, sabe-se que queria mudar de prisão. Queria deixar a penitenciária de Los Angeles para ir para a prisão de Ector County, no Texas. Terá sido essa a negociação que o fez admitir a culpa.
Foi no começo de 2018 que James Holland, um agente texano, conseguiu a confissão de Little. Segundo os vários investigadores que interrogaram o homem ao longo dos últimos meses, Samuel gostava da atenção e da oportunidade de discutir ao detalhe cada uma das opções que tomou ao matar cada uma das suas vítimas. A cada entrevista, dava mais pormenores e mais nomes.
“É assustadora a clareza com que se lembra de alguns detalhes daquela altura. Recorda-se dos rostos e dos nomes”, contou Michael Mongeluzzo, um dos detetives que interrogou Samuel.
As autoridades acreditam que eram motivações sexuais que moviam Samuel Little. “O estrangulamento era a forma como conseguia gratificação sexual”, apontou um dos investigadores. Little nega ser um violador, apesar de vestígios do seu sémen terem sido encontrados nos cadáveres da vítima.
Perguntaram-lhe como passou tanto tempo sem ser apanhado. “Posso ir ao meu mundo e fazer aquilo que quero. Não vou ao vosso mundo”, terá respondido Samuel Little, referindo-se aos bairros onde cresceu e viveu toda a vida, onde a pobreza, a dependência de droga e os crimes por resolver são comuns.
Detalhes sobre a sua infância são desconhecidos. Little disse que a sua mãe era uma “senhora da noite”. Investigadores acreditam que o norte-americano nasceu atrás das grades, durante uma das detenções da sua mãe.