A Agência Espacial Europeia, da qual Portugal faz parte, lançou, esta terça-feira, uma nova campanha para recrutar astronautas, que visa aumentar a presença de mulheres nas suas fileiras, abrindo também uma vaga experimental para uma pessoa com deficiência física.
O processo de candidatura estará aberto de 31 de março a 28 de maio, mas a organização com sede em Paris já revelou alguns pormenores da campanha classificada como histórica, uma vez que até agora só ocorreram três processos seletivos, o último dos quais em 2008.
Atualmente, sete pessoas compõem o contingente europeu de astronautas, seis homens e uma mulher – da Dinamarca, Alemanha, França, Itália e Reino Unido –, embora o britânico Tim Peake esteja de licença desde outubro de 2019.
“Precisamos de mais para garantir a continuidade e ter uma transferência suave de conhecimento do antigo para o novo”, disse numa videoconferência o diretor-geral da Agência Espacial Europeia (ESA), Jan Worner.
A agência quer contratar “entre quatro e seis pessoas” para integrar a sua equipa permanente de astronautas e até 20 que farão parte da reserva para participar de voos ou projetos pontuais.
Dentro dessa reserva, e no âmbito do Projeto de Viabilidade do Parastronauta, irá selecionar uma pessoa com deficiência física, que no futuro também deverá ser capaz de integrar missões espaciais.
Os requisitos são elevados: “Temos de ser honestos, esperamos que apareçam milhares de pessoas. As hipóteses de sucesso são baixas“, admitiu a italiana Samantha Cristoforetti, atual astronauta da ESA, no mesmo encontro virtual.
Os candidatos, oriundos de um dos 22 países membros da ESA ou de um estado associado, devem ter completado um mestrado ou equivalente em matemática, engenharia, informática ou medicina, entre outros setores, e ter três anos de experiência profissional, além de saberem inglês e uma segunda língua.
“Todas as candidaturas dos aspirantes qualificados são bem-vindas, independentemente do género, orientação sexual, raça, crenças, idade e outras características”, acrescentou a organização espacial.
O trabalho, como é reconhecido pelos participantes, é fora do comum, embora o primeiro passo ainda requeira o envio de um currículo, uma carta de motivação ou um certificado médico aeronáutico.
“O espaço é um ambiente hostil. É preciso viver num lugar pequeno, em condições de gravidade zero e adaptação dramática e estar preparado para ficar longe da família e dos amigos, mesmo quando não se está em missão”, disse a coordenadora do Programa de Pesquisa e Cargas Úteis da ESA, Jennifer Ngo-Anh.
Com o programa Parastronauta inicia-se também numa nova era, em que se estuda as condições e tecnologias que garantem missões seguras também a pessoas com deficiência e em cooperação com outros parceiros comerciais e internacionais da ESA.
“Neste momento estamos no ponto zero. A porta está fechada para as pessoas com deficiência. Com este projeto-piloto temos a ambição de abri-la e dar um passo, de zero a um”, enfatizou a agência.
Entre os possíveis candidatos, estão pessoas com alguma deficiência nos membros inferiores, uma diferença pronunciada na altura das pernas ou uma estatura reduzida, inferior a 1,3 metros.
O novo contingente será anunciado em outubro de 2022 e o seu treino será dividido em três etapas, com duração mínima de três anos, a primeira delas na sede dos astronautas europeus, na cidade alemã de Colónia.
Embora trabalhem com os astronautas agora no ativo e as suas primeiras missões tenham como alvo a Estação Espacial Internacional, Marte e a Lua também fazem parte dos projetos em que se podem envolver no futuro.
E o seu trabalho não será apenas científico: “Eles são os embaixadores mais visíveis do programa espacial europeu. Devem ter uma paixão por partilhar os seus conhecimentos antes, durante e depois de uma missão”, concluiu o coordenador do Programa de Investigação.
// Lusa