Uma equipa “morta” escreveu um hino ao futebol em Anfield — entre gafes e golpes de génio

Peter Powell / EPA

O extremo brasileiro Vinícius Júnior.

O Real Madrid “atropelou” o Liverpool, em Anfield. “É o fim de uma era” para o Liverpool, avisa o ex-futebolista Thierry Henry.

Fez-se história em Anfield na passada noite de terça-feira. Um capítulo negro dos anais do Liverpool, que nunca antes tinha sofrido uma derrota por mais de quatro golos diante dos seus adeptos. O Real Madrid foi a Inglaterra derrotar os reds por 2-5 na primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões.

Ninguém anteciparia uma derrota destas dimensões, mesmo que a equipa de Jürgen Klopp não esteja no seu melhor momento de forma. Aliás, o Liverpool foi o primeiro a mostrar as garras. Não só as exibiu, como também desferiu dois golpes, ainda muito cedo na partida.

O primeiro foi do ex-benfiquista Darwin Núñez, logo ao quarto minuto de jogo. O uruguaio levou os adeptos da casa à loucura com um toque de calcanhar de excelência, que enganou Thibaut Courtois.

O guarda-redes seria destaque dez minutos depois. Depois de um atraso atabalhoado, Courtois vacilou face à pressão de Mohamed Salah. O internacional belga decidiu mal e acabou por se atrapalhar com o esférico, deixando-o à mercê do avançado egípcio.

“Tive algum azar e estraguei tudo. Tinha a bola sob controlo e queria passá-la imediatamente, mas vi que o Salah tinha parado, então mudei de ideias e tentei trocar a bola para o pé direito, mas ela bateu no meu joelho”, explicou Courtois depois do jogo.

Depois tudo mudou e Vinícius Jr. entrou em ação a serviço dos madrilenos. Em poucos minutos, o jovem canarinho marcou dois golos, igualando a partida aos 36 minutos.

O primeiro foi uma obra-prima, com Vini a desenvencilhar-se de um par de adversários e a atirar forte, fora do alcance de Alisson. Já o segundo fez lembrar a gafe de Courtois. Num lance semelhante ao do segundo golo dos reds, Vinícius Jr. pressionou o guardião adversário, que chutou contra o adversário, levando a bola a ressaltar para a baliza.

“Deu-nos ânimo e depois o Alisson teve um momento parecido com o meu. De resto, já todos sabem que somos fortes no contra-ataque. Nunca nos deixamos derrotar, reagimos sempre. Aqueles dois golos rápidos ajudaram-nos a reagir. Estivemos tranquilos mentalmente e, quando estamos em alta, jogamos bem”, disse ainda Courtois, na flash interview.

No regresso dos balneários, o Real Madrid não tirou o pé do acelerador e consumou a reviravolta no marcador logo aos 47 minutos. Éder Militão respondeu da melhor forma a um cruzamento de Luka Modric e colocou os forasteiros pela primeira vez na liderança.

As machadadas finais chegaram aos 55 e 67 minutos de jogo. Foi a vez de Karim Benzema mostrar a sua qualidade. O primeiro golo do francês contou com um ressalto em Joe Gómez e o segundo, como descreve o jornal Marca, foi um daqueles golos que fazemos nos videojogos.

“Quando se sabe que é um jogo vital e está-se a perder 0-2, quer-se mais. Um golo pode mudar qualquer jogo e foi o que aconteceu com Vinícius Júnior. Aproveito para agradecer aos nossos adeptos, foram o nosso 12.º jogador. Vamos precisar deles novamente na segunda mão e precisamos de fazer um grande jogo no Bernabéu”, disse Benzema no final do encontro.

A vitória esmagadora do Real Madrid vem de encontro às declarações de Luka Modric, esta semana, em entrevista à BT Sport. O croata recordou a caminhada do Real Madrid para a conquista da Liga dos Campeões da temporada passada.

“Davam todos os adversários como favoritos contra nós e colocavam-nos de parte. Diziam que o Real estava morto, que o Modric se devia retirar, que o Kroos estava acabado. Isso mexeu connosco e quisemos provar que estavam errados”, disse o médio. O mesmo aplica-se nesta temporada.

“É o fim de uma era”

Na conferência de imprensa que se seguiu ao jogo, Carlo Ancelotti mostrou-se satisfeito com o desfecho da partida, mas garante que a eliminatório ainda não está fechada.

“Vencer assim não é fácil, acima de tudo pela forma como o jogo começou. Perdemos confiança e fomos conquistando pouco a pouco o controlo do jogo. Fomos eficientes na frente com o Vinícius Júnior, que teve um desempenho incrível. Mas isto é apenas a primeira parte da eliminatória e, para já, caiu para o nosso lado, mas vamos ter de pensar que na segunda mão. Vamos ter de sofrer e trabalhar no duro para seguir em frente”, disse o técnico do Real Madrid.

“O Liverpool tem uma grande equipa e fez-nos sofrer na primeira parte. Por isso é que digo que, infelizmente, a eliminatória ainda não está fechada. Não pensem nisso”, acrescentou.

O treinador do emblema inglês mostra-se esperançoso para a segunda mão, na capital espanhola.

“Nós ainda queremos ganhar o jogo em Madrid. Já falei com os rapazes de que é uma grande pancada mas uma derrota apenas é uma derrota se não aprenderes nada acerca dela”, disse Jürgen Klopp, em declarações à estação televisiva beIN Sports.

O capitão do Liverpool, Jordan Henderson, confessou que “é difícil aceitar o que se passou”, mas sublinhou que a equipa tem de se “erguer rapidamente” para os jogos que seguem da Premier League.

Em análise à partida, o antigo internacional francês Thierry Henry afirma que “é o fim de uma era” e que “o Liverpool precisa de se reinventar”. O antigo jogador do Liverpool, Jamie Carragher, falou em “vergonha” e numa “noite desastrosa”.

Daniel Costa, ZAP //

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