Surpreendentemente, a enzima PGK1 desempenha um importante papel na produção de energia química nas células cerebrais.
Cientistas da Weill Cornell Medicine, nos Estados Unidos, descobriram que aumentar a atividade da enzima PGK1 pode ajudar o cérebro a resistir aos défices de energia que podem causar a doença de Parkinson.
Esta enzima é responsável pela produção de energia nos ramos de sinalização de saída – axónios – dos neurónios dopaminérgicos afetados na doença de Parkinson.
Segundo o EurekAlert, isto significa que mesmo um aumento modesto na atividade da PGK1 pode ter um efeito desproporcional na restauração do fornecimento de energia neuronal em condições de baixo combustível.
Este efeito pode prevenir a disfunção e a degeneração do axónio, uma característica observada em modelos animais com Parkinson.
“As nossas descobertas mostram que a PGK1 pode realmente fazer uma grande diferença na doença de Parkinson, de uma forma que não prevíamos”, referiu o investigador Timothy Ryan. “Estou muito otimista de que esta linha de pesquisa tem o potencial de produzir novos tratamentos para tratar esta doença.”
O Parkinson atinge neurónios produtores de dopamina, enfraquecendo as suas sinapses, acabando por matá-los.
Durante várias décadas, estudos científicos apontaram para uma falha no fornecimento de energia neuronal como um fator para a doença, mas os cientistas ainda não tinham encontrado um bom alvo.
Estudos recentes mostraram que a terazosina, um medicamento aprovado pela Food and Drug Administration para a próstata, aumenta a atividade de produção de energia da PGK1 e proporciona efeitos benéficos em modelos animais com Parkinson.
No entanto, esses mesmos estudos mostraram que a capacidade da terazosina de aumentar a atividade da PGK1 foi bastante fraca. Um estudo posterior, realizado em humanos, provou, contudo, que o medicamento reduziu significativamente o risco de desenvolver a doença.
Na nova investigação, a equipa da universidade norte-americana realizou ensaios sensíveis que elucidaram o papel da PGK1 como produtor de energia nos neurónios.
Esse papel é tão importante que mesmo um pequeno aumento na atividade da PGK1 é suficiente para manter os axónios a funcionar quando os níveis de glicose, que a enzima ajuda a converter em unidades básicas de energia química, são baixos.
Os investigadores também descobriram que a proteína DJ-1, cujo comprometimento por mutação é outra causa genética conhecida do Parkinson, é uma “acompanhante” que protege os neurónios, evitando a agregação de proteínas prejudiciais.
Para Ryan, os resultados sustentam que um défice de fornecimento de energia nos neurónios de dopamina mais vulneráveis – devido ao envelhecimento, fatores genéticos e ambientais – é um fator geral precoce da doença, e que aumentar moderadamente a atividade de apenas uma enzima, a PGK1, pode ser suficiente para reverter esse défice e bloquear o progresso da condição.
O artigo científico foi recentemente publicado na Science Advances.