As entrevistas do psiquiatra norte-americano Leon Goldensohn aos nazis julgados em Nuremberga em 1946 foram publicadas em Portugal pela primeira vez e revelam não só o passado mas também o que “terá motivado” os crimes dos nacional-socialistas contra a humanidade.
Leon Goldensohn (1911-1960), formado em medicina e especializado em psiquiatria nasceu e estudou em Nova Iorque, alistou-se para combater na Europa e encontrava-se destacado no Hospital Geral de Nuremberga no final do conflito quando foi chamado para prestar serviço como psiquiatra da prisão onde se encontravam detidos os líderes nazis julgados durante o primeiro semestre de 1946.
“Hoje ao fim da tarde, Goering estava na cela a fumar o seu longo cachimbo de caçador e com ar bastante deprimido quando lá entrei com o sr. Triest”, escreve Goldensohn no dia 28 de maio de 1946 sobre um dos encontros com a segunda figura do regime nazi, comandante-em-chefe da Força Aérea, presidente do Reichstag (Parlamento).
Durante as entrevistas, Hermann Goering recorda o irmão Albert, com quem não tinha contacto; a I Guerra Mundial (1914-1918) e o Tratado de Versailles que justifica como causa do nacional-socialismo e demora-se nos elogios a Adolf Hitler justificando que o ódio contra os judeus fica a dever-se, em parte, à “má influência” do ministro da Propaganda, Joseph Goebbels que se suicidou no dia 01 de maio de 1945, em Berlim.
“Não acho que vou nem para o céu nem para o inferno, quando morrer. Não acredito na Bíblia, nem em muitas coisas em que as pessoas religiosas creem. No entanto, venero as mulheres e penso que não é nada desportivo matar crianças”, diz Goering ao psiquiatra quando se refere ao holocausto.
Além de afirmar que desconhecia “em concreto” o genocídio de milhões de judeus – apesar de ter autorizado pessoalmente a construção de campos de concentração para “prisioneiros comunistas russos” – Goering afirma também que a vasta coleção de arte, fruto de pilhagens, não foi um roubo nem os saques foram ilegais.
“Eu adoro a arte pela arte e, como já disse, a minha personalidade exigia que eu estivesse rodeado dos melhores espécimes do mundo da arte”, explica Herman Goering acrescentando que na década de 1930 o regime manteve-se muitas vezes aberto ao exterior, sobretudo à cultura norte-americana.
“Hitler não se interessava por literatura mas publicaram-se mais policiais, em especial ficção americana, do que em qualquer período anterior. Até a ficção americana não policial vendia bastante, por exemplo, o livro ‘E Tudo o Vento Levou’ e outros ‘bestsellers’ semelhantes” (pag 170), diz o marechal, condenado à morte mas que acabou por conseguir suicidar-se na cela da prisão de Nuremberga.
As entrevistas de Goldensohn aos protagonistas do nazismo julgados em Nuremberga, nomeadamente a frieza de Rudolf Hess, tenente coronel das SS e comandante do campo de Auschwitz na Polónia.
“Para incinerar duas mil pessoas precisávamos de cerca de 24 horas com os cinco fornos a trabalhar. Em geral, conseguíamos cremar entre 1.700 a 1.800 pessoas. Desta maneira a cremação estava sempre atrasada porque, como pode ver, era muito mais fácil exterminar com gás do que cremar, que levava muito mais tempo e dava mais trabalho”, explica Hess que foi enforcado em 1947.
Destacam-se também as entrevistas a Wilhelm Frick, ministro do Interior (condenado à morte); Walther Funk, ministro da Economia (libertado em 1957); Julius Streicher, editor do jornal antissemita Der Sturmer (condenado à morte); o ministro dos Negócios Estrangeiros Joachim von Ribbentrop (condenado à morte); o marechal de campo Wilhelm Keitel (condenado à morte); o austríaco Ernest Kaltenbrunner, do Departamento Central de Segurança (condenado à morte) e Hans Fritzche do Ministério da Propaganda (considerado inocente de crimes de guerra), entre outros líderes da Alemanha nazi.
O livro “Entrevistas de Nuremberga” (584 páginas), foi editado pela Tinta da China e inclui um enquadramento do historiador Robert Gellately sobre a criação e funcionamento do tribunal internacional que julgou os criminosos do nacional socialismo, em Nuremberga, no final da II Guerra Mundial.
/Lusa
Há lapso da vossa parte neste quando referem:
“Rudolf Hess, tenente coronel das SS e comandante do campo de Auschwitz na Polónia”
Pois o comandante de Auschwitz chamava-se Rudolf Hoess, págs 369 do livro aqui citado
Rudolf Hess foi o nº 2 do partido nazi, pág 191 do mesmo livro
Portanto, duas pessoas distintas e nomes diferentes
Cumprimentos
CSilva