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Mário Caetano: frio, retiros e empresas que nem imaginam a fuga de talentos que vem aí

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Cortesia / Media em Movimento

Mário Caetano

Coach fala com o ZAP sobre o primeiro retiro no gelo realizado em Portugal: as pessoas querem sentir-se realizadas e estão aí os empreendedores da nova era.

Era gestor e, no ano em que foi promovido, demitiu-se. Há 14 anos que Mário Caetano é coach. Já ajudou mais de 100 mil pessoas e uma das formas mais recentes de ajuda foi um encontro com o frio: um retiro na Serra da Estrela, em Novembro do ano passado, que originou o documentário Spiritual Mindset – Derrubando os limites da mente, apresentado neste mês. O frio é apenas o veículo de uma mensagem muito importante, explica. E o negócio de retiros “explodiu”.

ZAP – A tua relação com o frio… Explicas no documentário que, mais novo, sentias que precisavas de molhar a cara com água fria. E vi-te de tronco nu numa expedição na Polónia, no meio do gelo. Porque dizes que o frio era uma parte de ti que estava solta?
Mário Caetano – A paixão é algo arrebatador porquê? Porque a pessoa encontra no outro algo que lhe falta. É um processo totalmente inconsciente. E foi isso que me aconteceu em relação ao frio: apaixonei-me, encontrei algo que me faltava. Cruzei-me com a neve só depois dos 40 anos…

ZAP – Nunca foste à Serra da Estrela quando eras criança?
Mário – Nunca, nunca, nunca. Frio, neve… Nada. As experiências vêm até nós quando estamos preparados, o grande mestre aparece quando estamos preparados. O frio apareceu quando eu estava preparado para o receber. E veio através do livro Iceman, do Wim Hof: em Agosto de 2018 estava com a minha companheira numa viagem sob mais de 40 graus, parámos numa bomba de gasolina na A2 e ela viu o livro; pensou que aquilo era a minha cara mas não o trouxe porque estava muita gente na fila; mas eu senti algum impulso e disse-lhe “Vai lá buscar, está muita gente, mas vai lá!”. Li o livro em dois dias – ao terceiro dia inscrevi-me numa expedição para a Polónia, que aconteceu em Janeiro de 2019. Aí tive uma sensação incrível de conexão, apaixonei-me pelo frio, era uma parte que me faltava, que ressoou de uma forma crua, até.

ZAP – O retiro serviu também para combater crenças. Quais?
Mário – Várias: não vás com o cabelo molhado para o frio, o frio pode fazer-nos morrer (claro que pode, tal como a água, fogo, terra…mas também nos pode dar vida), água gelada a seguir à refeição pára a digestão…isso é um mito. Andei durante 40 anos a acreditar nisso. Tinha de estar na praia debaixo do guarda-sol durante três horas porque tinha comido uma sandes e não podia ir à água. E isto não faz nenhum sentido. A crença é um programa e esse programa pode ser limitador ou possibilitador. Têm-nos passado a crença de que a exposição de ideias, o empreendorismo, é algo danoso. Acontece em todos os meios. A ciência tem-nos mostrado que tem havido até protecção em demasia do nosso corpo, o que conduz ao enfraquecimento o sistema imunitário.

ZAP – O ser humano não cresce se estiver sempre a proteger-se.
Mário – O ser humano sofre se estiver sempre a proteger-se. O ser humano procura sempre a felicidade, mas o que é que acontece? As pessoas sofrem tanto porque escondem a sua essência: não arriscam, não seguem os seus sonhos.

ZAP – O retiro na Serra da Estrela, no ano passado: seis dias, 14 pessoas que queriam encontrar o rumo para a sua vida, passaram por várias situações adversas como uma imersão no gelo, exposição ao frio e ao vento…
Mário – Foi o primeiro retiro no gelo em Portugal.

ZAP – Os participantes falaram em libertação, choraram, falaram em plenitude. O frio traz o quê?
Mário – O frio é apenas o veículo. A mensagem é: arrisca-te, enfrenta os teus sonhos, conecta-te, mostra-te, liga-te a pessoas que estão na mesma frequência. O frio é um acelerador, acelera o processo de entrada no flow. O que faço enquanto missão de vida é ajudar as pessoas a descobrirem o seu propósito de vida: seguir os seus sonhos, arriscar, sabendo que há um preço a pagar. As pessoas, quando se encontram, encontram a tal plenitude que referiste. É um estado de presença total, que se alcança quando conseguimos ultrapassar a mente ordinária. A mente ordinária é aquela que nos quer sempre proteger, uma mente domesticada: é quem nós aprendemos a ser, não é quem nós somos. Podemos chegar lá através da meditação, inspiração, da nossa profissão…

ZAP – Profissão?
Mário – Claro, claro! A nossa profissão é a extensão de quem nós somos. É através desta que nos realizamos, onde gastamos 70% ou 80% do nosso tempo. Se estamos numa profissão que não nos realiza, estamos a passar ao lado da vida, a gastar muito da energia que nos foi dada. Se passamos a estar numa profissão que nos realiza, estamos sempre entusiasmados, estamos dispostos a arriscar, a inovar. Se a tua profissão está alinhada com o teu propósito, a tua profissão torna-se num veículo para experienciares a realização que tanto procuras.

ZAP – Em relação aos participantes no retiro: havia portugueses e estrangeiros, pessoas com diversas profissões como arqueóloga, empresário, fotógrafo, agente da GNR…
Mário – Sim.

ZAP – E as idades?
Mário – Não temos jovens a frequentar este retiro. Esta uma experiência para a pessoa se encontrar. Um jovem com 20 e tal anos, a caminho dos 30, quer é divertir-se, não pensa no sentido da vida. Não são todos, mas a grande maioria não pensa nisso.

“Isto não é só fechar os olhos, respirar e já está. É preciso trabalho”

ZAP – A pandemia está relacionada com este teu projecto. Sabemos que, por causa da paragem criada pelo coronavírus, muitas pessoas pararam e perceberam que queriam seguir outro rumo na sua vida. Neste tipo de experiências, procuram o quê? Muito da demanda acaba por estar relacionada com o contexto laboral?
Mário – Há um factor comum nos participantes: mudança. Várias pessoas são empreendedoras e querem encontrar um sentido maior para o que fazem. O agente da GNR, por exemplo, demitiu-se. Mudou a sua vida, tomou uma decisão. As pessoas querem um maior compromisso, maior sentido, nos seus projectos laborais. Este tipo de retiros ajuda as pessoas a ganharem entusiasmo e clareza, a sentirem-se vivas. E não têm obrigatoriamente de romper com todo o seu passado; pode passar pelo romper, mas também pode ser intensificar algo que existe na tua vida. E há aqui uma coisa importante: a fuga de talento das empresas. Porque as pessoas, mais do que nunca, equacionam se as regras da empresa estão de acordo com as suas regras. E, indo mais fundo, perguntam: “O que estou aqui a fazer faz sentido? Faz sentido continuar a fazer isto?” Na maioria das vezes, a resposta é “não”. Qual é o propósito? Se o propósito não existe, desligam-se, saem. Por isto, o negócio dos retiros explodiu…

ZAP – Sim, já previa isso.
Mário – E isto é só o início! As empresas não estão preparadas para a fuga de talentos que vem aí. Ao longo de décadas as empresas optaram por estratégias rápidas de motivação; não adoptaram estratégias de transformação. Tinham medo de que as pessoas começassem a pensar por elas próprias, a reflectir mais – porque, se o fizessem, poderia originar a saída dos trabalhadores. Queriam motivá-las, mas até ao limite de “não vamos além disto, senão eles percebem que querem trabalhar noutro lado”. Agora as empresas estão a correr atrás do prejuízo. Estamos a assistir a um desmembramento de empresas que pensávamos que nunca cairiam. Vamos assistir à mediocridade nos serviços devido à fuga de talentos e, por outro lado, ao surgimento de nichos e de micronichos, com pessoas que deixaram de se identificar com as empresas onde trabalham e criam a sua empresa. São os empreendedores da nova era. Existem milhões de pessoas que se demitiram nos EUA e está a acontecer o mesmo em termos mundiais. Nas empresas é necessária coragem, já, para trabalhar o propósito de cada trabalhador. As pessoas querem sentir-se realizadas, plenas, querem fazer algo que faça sentido, que deixe o seu legado, a sua marca.

ZAP – E, com a pandemia, há mais pessoas a procurar retiros como este.
Mário – O negócio dos retiros explodiu mundialmente! Em Portugal os espaços estão esgotados, todos! E estamos a falar de estrangeiros que vêm a Portugal. O conceito do retiro é: parar para reflectir e tomar decisões. E a pandemia criou o quê? O mesmo conceito. As pessoas andam numa busca espiritual, ou seja, de perceber quem a própria pessoa é, procuram um encontro consigo mesmas.

ZAP – Que respostas apresentas a quem desconfia destas experiências, ou até despreza?
Mário – A melhor resposta é dando o exemplo. E o meu exemplo são os resultados que apresento. E tenho milhares de resultados para apresentar. Milhares de processos de transformação. Mas há que ter noção de que isto não é só fechar os olhos, respirar e já está. É preciso trabalho. E chegou o momento de arregaçar as mangas, aumentar o compromisso ao nível da nossa alma e trabalhar, unindo o nosso propósito a tudo o que fazemos.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

4 Comments

  1. Pois, o texto desta “notícia” é um anúncio publicitário que não li até ao fim…
    Não sabia que o ZAP publicava publicidade comercial mascarada de notícias…

  2. Tenho um frigorifico velho com congelador para vender. Se alguem quiser para experiementar o frio que dia!!!

    sem entrega e sem garantia claro eheheh

  3. ZAP: Ó Mário… tem medido a temperatura?
    MÁRIO: De quando em vez. Como andava um pouco febril, resolvi iniciar esta ideia do gelo e do frio…

    ZAP: Que tal tem sido a experiência?
    MÁRIO: Refrescante.

    ZAP: Novos projetos a caminho?
    MÁRIO: Estou com várias ideias para o mundo dos futuros empreendedores. Tenho uma ideia para um pitch cujo tempo disponível para apresentar a ideia é definido pelo tempo que o investidor demora a beber uma bujeca. Parece-me uma ideia interessante. Tudo rola melhor quando o investidor já vai no 10º pitch. Por um lado, o empreendedor tem mais tempo para apresentar a sua ideia. Por outro, o investidor já não está bem em si. É nessa altura que se dão os grandes casamentos para a vida… ou os primeiros passos de futuros divórcios.

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