O grande buraco que se abriu na camada do ozono no ano passado pode ter sido desencadeado por temperaturas recordes, durante o inverno, no oceano Pacífico Norte, indicam novas análises.
O enorme buraco, que se formou sobre o Ártico, acabou por se fechar no início da primavera, mas há a possibilidade de se voltar a formar com mais frequência no futuro.
Através da colocação de dados de satélite numa série de simulações, os investigadores descobriram que as altas temperaturas da superfície do mar no Pacífico Norte têm o poder de diminuir a temperatura dos ventos de oeste do Ártico.
Esses ventos fortes sopram do inverno para a primavera e, de acordo com os modelos atmosféricos, se arrefecerem durante um longo período de tempo, podem desencadear a formação de nuvens polares. No Polo Norte e no Polo Sul, as nuvens na estratosfera são um ingrediente chave no processo de destruição da camada de ozono.
Yongyun Hu, cientista da Universidade de Pequim, na China, refere que os “resultados sugerem que é provável que ocorra uma perda severa de ozono num futuro próximo, desde que as anomalias da temperatura da superfície do mar no Pacífico Norte ou outros processos dinâmicos sejam suficientemente fortes”.
De acordo com o estudo, publicado na revista Advances in Atmospheric Sciences, as ondas planetárias que fluem entre o oceano e a atmosfera no hemisfério norte são muito mais fortes do que no hemisfério sul, o que significa que os seus ventos de inverno são geralmente muito quentes para que as nuvens polares se formem na estratosfera.
Contudo, quando a superfície do Pacífico Norte fica mais quente do que o normal, estudos anteriores indicam que algumas ondas planetárias podem ficar mais fracas, reduzindo a temperatura do vórtice estratosférico.
É este fenómeno que os cientistas pensam ter ocorrido na primavera de 2020. Quando um buraco começou a formar-se na camada de ozono do Ártico naquela primavera, os investigadores notaram um enfraquecimento associado de uma onda planetária chamada “número de onda-1”.
Segundo os investigadores, uma redução na força do número de onda-1 é, provavelmente, o principal fator que levou aos ventos excecionalmente frios que sopraram sobre o Ártico entre fevereiro e abril de 2020. Sem esse enfraquecimento da onda, o buraco nunca se teria formado.
“A formação do registo de perda de ozono do Ártico na primavera de 2020 indica que as substâncias que destroem o ozono ainda são suficientes para causar a destruição severa do ozono na primavera na estratosfera do Ártico”, explicou Hu.
“Os resultados sugerem que é provável que ocorra uma perda severa de ozono num futuro próximo, desde que as anomalias da temperatura da superfície do mar no Pacífico Norte ou outros processos dinâmicos sejam suficientemente fortes”, acrescenta ainda.
Para já, os especialistas não conseguem garantir se os picos específicos nas temperaturas dos oceanos se devem à variabilidade natural ou são resultado do aquecimento global causado pelo homem.
Porém, escreve o Science Alert, como os oceanos do Planeta absorvem cada vez mais calor com as mudanças climáticas, é possível que a camada do ozono do Ártico esteja destinada a mais buracos.