“Enganámo-nos, mas fizemos o nosso melhor”. Boris Johnson pediu desculpa às vítimas da covid

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O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson

O ex-primeiro-ministro britânico, Boris Johnson

Ex-primeiro ministro britânico pediu desculpas “pela dor, perda e sofrimento das vítimas” e confessou: “Em retrospetiva, há muitas coisas que poderíamos ter feito de forma diferente” para lidar com a pandemia.

O antigo primeiro-ministro britânico Boris Johnson pediu desculpa esta quarta-feira, mas defendeu a gestão da pandemia de covid-19, argumentando que o Governo “errou em algumas coisas”, mas fez o melhor que pôde.

No primeiro de dois dias de audições durante um inquérito público, em Londres, Johnson começou o depoimento com um pedido de desculpas “pela dor, perda e sofrimento das vítimas da covid”.

A declaração foi interrompida por quatro pessoas que se levantaram no tribunal e seguraram cartazes onde se lia “Os mortos não podem ouvir as suas desculpas”, as quais foram escoltadas para fora da sala pelos seguranças.

Johnson chegou ao local do inquérito muito cedo, várias horas antes da hora prevista para depor, evitando um protesto de familiares das vítimas à porta do edifício na capital britânica.

Questionado sobre se considera que algum dos seus erros era evitável, Johnson sublinhou: “Em retrospetiva, há muitas coisas que poderíamos ter feito de forma diferente”.

“Inevitavelmente, no decurso da tentativa de lidar com uma pandemia muito, muito difícil, em que tivemos de contrabalançar efeitos nocivos para ambos os lados da decisão, podemos ter cometido erros”, reconheceu.

“Inevitavelmente, enganámos-nos em algumas coisas. Penso que, na altura, estávamos a fazer o nosso melhor”, acrescentou.

Da festa ilegal às revelações do inquérito

Boris Johnson renunciou ao cargo em meados de 2022, após múltiplos escândalos éticos, incluindo a revelação de que ele e membros da sua equipa organizaram festas na residência oficial do primeiro-ministro em Downing Street em 2020 e 2021, desrespeitando as restrições de confinamento impostas pelo Governo.

Nas últimas semanas, antigos colegas e assessores retrataram a administração de Johnson de forma negativa, nomeadamente sobre a indecisão sobre a tomada de medidas e o atraso dos confinamentos. Mensagens escritas partilhadas na altura aludem a um ambiente de trabalho tóxico e machista.

O inquérito público revelou que o ex-primeiro-ministro estaria “obcecado com a aceitação do destino por parte das pessoas mais velhas” e que terá chegado a perguntar aos cientistas se um secador no nariz elimina a Covid-19, segundo Dominic Cummings, ex-chefe de gabinete de Johnson.

Nas mensagens privadas trocadas entre Boris Johnson e o ex-diretor de comunicações do primeiro-ministro, Lee Cain, a 15/10/2020, Johnson afirma que a pandemia da covid-19 era apenas “a maneira da natureza lidar com as pessoas idosas” e que “já não acreditava” que o Sistema Nacional de Saúde do país estivesse sobrecarregado.

Numa outra nota de dezembro lê-se que Johnson concordou com o Chefe da Bancada Conservadora, Mark Spencer, quando este disse “devemos deixar que as pessoas idosas se contaminem e proteger os outros”.

O Reino Unido registou um dos números mais elevados de mortes de covid-19 na Europa, mais de 232.000 pessoas, de acordo com as estatísticas oficiais.

Johnson concordou no final de 2021 em realizar o inquérito público após forte pressão das famílias enlutadas, liderado pela juíza aposentada Heather Hallett, o qual deverá levar três anos para ser concluído, embora relatórios provisórios sejam esperados a partir do próximo ano. O inquérito está dividido em quatro fases, estando a fase atual centrada na tomada de decisões políticas. A primeira fase, que terminou em julho, analisou o grau de preparação do país para a pandemia.

Johnson não entregou cerca de 5.000 mensagens WhatsApp ao longo de várias semanas importantes entre fevereiro e junho de 2020, alegando problemas técnicos.

“Não retirei nenhuma mensagem do meu telemóvel”, garantiu.

ZAP // Lusa

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