Uma estreia: Energia solar transmitida do Espaço para a Terra pela primeira vez

(dr) Caltech

O interior da experiência espacial MAPLE (Microwave Array for Power-transfer Low-orbit Experiment)

A energia solar espacial é, há muito tempo, considerada como uma espécie de Santo Graal para a comunidade científica.

A energia solar representa, atualmente, 3,6% da produção mundial de eletricidade, o que faz dela a terceira maior fonte do mercado das energias renováveis, seguida da energia hidroelétrica e da eólica.

Os cientistas prevêem que as energias renováveis representem 90% do mercado energético em meados do século, sendo a energia solar responsável por cerca de metade. No entanto, é preciso ultrapassar vários desafios e questões técnicas.

O principal fator limitador da energia solar é a intermitência, o que significa que só se pode recolher energia quando há luz solar suficiente.

Para resolver este problema, a comunidade científica passou várias décadas a investigar a energia solar baseada no Espaço (SBSP), em que os satélites em órbita recolheriam energia 24 horas por dia, durante 365 dias por ano. Sem interrupções.

Recentemente, uma equipa de investigadores do Projeto de Energia Solar Espacial (SSPP) do Caltech anunciou que o seu protótipo espacial, denominado Space Solar Power Demonstrator (SSPD-1), recolheu luz solar, converteu-a em eletricidade e transmitiu-a para recetores de microondas instalados num telhado do campus do Caltech em Pasadena, Califórnia.

“Tanto quanto sabemos, nunca ninguém demonstrou a transferência de energia sem fios no Espaço, mesmo com estruturas rígidas dispendiosas. Nós estamos a fazê-lo com estruturas leves e flexíveis e com os nossos próprios circuitos integrados. É a primeira vez“, afirmou Ali Hajimiri, professor de engenharia eletrotécnica e engenharia médica e co-diretor do SSPP.

Segundo o Science Alert, a experiência – conhecida por Microwave Array for Power-transfer Low-orbit Experiment (ou MAPLE) – é um dos três projetos de investigação que estão a ser levados a cabo a bordo do SSPD-1.

A plataforma é constituída por uma série de transmissores de microondas flexíveis e leves, controlados por chips eletrónicos personalizados. O equipamento foi construído utilizando tecnologias de silício de baixo custo concebidas para recolher energia solar e transportá-la para as estações recetoras em todo o mundo.

Em comunicado, a equipa esclarece que a configuração da transmissão foi criada para minimizar a quantidade de combustível necessária para os enviar para o Espaço e que o design foi estrategicamente pensado para ser suficientemente flexível para que os transmissores pudessem ser dobrados num foguetão.

“Da mesma forma que a Internet democratizou o acesso à informação, esperamos que a transferência de energia sem fios democratize o acesso à energia. Não será necessária qualquer infraestrutura de transmissão de energia no terreno para receber esta energia, o que significa que podemos enviar energia para regiões remotas e áreas devastadas pela guerra ou por desastres naturais“, referiu Hajimiri.

A energia solar espacial tem o potencial de produzir oito vezes mais energia do que os painéis solares localizados na superfície da Terra.

Quando o projeto estiver totalmente concluído, o Caltech espera instalar uma série de naves espaciais modulares que irão recolher a energia solar, transformá-la em eletricidade e convertê-la em microondas que podem ser transmitidas sem fios para qualquer parte do mundo.

Embora seja ainda bastante dispendiosa, esta tecnologia traz esperança aos cientistas, que acreditam cada vez mais na energia renovável potencialmente ilimitada, com painéis solares no Espaço capazes de recolher luz solar independentemente da hora do dia.

Liliana Malainho, ZAP //

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