É o primeiro rei a ser descoberto em mais de 100 anos, desde o famoso Tutankhamon. “Uma das descobertas arqueológicas mais importantes dos últimos anos”, diz o governo egípcio.
Governou há cerca de 3500 anos, morreu na casa dos 30 anos e a sua múmia foi descoberta em 1881, mas o seu túmulo só foi encontrado agora, a pouco mais de dois quilómetros a oeste do famoso Vale dos Reis, em Luxor, no sul do Egito.
O túmulo do faraó egípcio Tutemés II é o primeiro de um rei a ser descoberto em mais de um século, depois da descoberta do túmulo do rei Tutankhamon em 1922, confirmou o Ministério do Turismo e das Antiguidades do Egito esta quarta-feira.
É “uma das descobertas arqueológicas mais importantes dos últimos anos”, diz o governo egípcio.
Inundado, mas a salvo
Mais conhecido por ter casado com a rainha Hatshepsut, sua meia-irmã, e governado durante o século XV a.C., Tutemés II não foi encontrado, no entanto, nas mesmas condições que o Rei Tut, que, por sua vez, estava intacto e rodeado de tesouros.
O enterro, descoberto por investigadores britânicos e egípcios no local onde estão as tumbas reais e nobres do Reino Novo do Antigo Egito, foi inundado logo após a morte de Tutemés II, o quarto e, até agora, último rei desaparecido da XVIII Dinastia egípcia.
No entanto, “o túmulo não foi roubado”. Após a inundação, todo o seu conteúdo foi recolocado, ainda durante a antiguidade, e “o enterro foi retirado totalmente”, inclusive peças de mobiliário inéditas do rei, confirmou o egiptólogo da Universidade de Cambridge e co-líder da equipa responsável pela descoberta, Piers Litherland, ao Live Science.
Com 29 metros de comprimento, o túmulo inclui uma câmara funerária com 5,3 por 5,2 por 3,4 metros.
O túmulo foi inicialmente encontrado em outubro de 2022, exatamente 100 anos depois da descoberta do último túmulo de um faraó, mas só no início de 2025 é que a cerâmica com o nome de Tutemés II permitiu confirmar a sua identidade.
Um dos fragmentos de cerâmica, um vaso de alabastro, continha natrão, um mineral composto por carbonato de sódio e usado no embalsamamento para solidificar a ligação ao faraó, que “confirma que houve um enterro inicial no túmulo”, disse Litherland.
Entre os fragmentos recuperados encontram-se “restos de gesso com inscrições azuis, motivos estelares amarelos e partes do Livro de Amduat, um texto religioso fundamental associado aos túmulos reais do antigo Egito”, adianta o Ministério.
Os arqueólogos acreditam que alguns objetos de sepultura podem ter sido transferidos para outro túmulo. Uma múmia reenterrada em Deir el-Bahari, nas proximidades, foi identificada por alguns como sendo Tutemés II, embora a sua idade avançada ponha em dúvida esta identificação.
“Estou muito cético”
A descoberta despertou muito interesse, mas nem todos os egiptólogos estão convencidos, nomeadamente pela ausência de outros túmulos reais na área.
Alguns argumentam que a localização do túmulo fora do Vale dos Reis levanta questões, nomeadamente por não terem sido encontrados outros túmulos reais na área.
“Estou muito cético e precisaria de ver mais pormenores para apoiar essa identificação”, disse Thomas Schneider, professor de Egiptologia e Estudos do Próximo Oriente na Universidade da Columbia Britânica, que aponta para a possibilidade mais forte de Tutemés II tenha sido enterrado no interior do próprio vale. O túmulo foi descoberto numa área “surpreendente para o túmulo de um rei”, uma vez que não há outro enterro de um faraó nas proximidades, diz o especialista.
O debate mantém-se aceso: afinal, quem foi o primeiro faraó a ser enterrado no Vale dos Reis?
Dado que Tutmés II era filho de Tutmés I e que o túmulo recém-descoberto está localizado a oeste do vale, é mais provável que Hatshepsut tenha sido a primeira faraó enterrada no Vale dos Reis, disse Filip Taterka, professor de Egiptologia no Instituto de Culturas Mediterrânicas e Orientais da Academia Polaca de Ciências.
Embora não esteja bem documentado, sabe-se que Tutemés II protagonizou campanhas militares na Núbia e no Mediterrâneo oriental. O seu curto reinado, que possivelmente durou menos de cinco anos, foi seguido pela ascensão da sua esposa Hatshepsut, que se tornou um dos mais famosos faraós do Egito.