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Empresa portuguesa na linha da frente do novo sistema europeu de mísseis

Atef Safadi / EPA

O projeto que visa o reforço da defesa da União Europeia através de um novo sistema de mísseis vai contar com inteligência artificial (IA) desenvolvida pela empresa portuguesa Critical Software.

Numa altura em que os mísseis e as ameaças que daí advêm estão na ordem do dia, a Critical Software vai estar na linha da frente da Defesa da Europa.

A empresa portuguesa, sediada em Coimbra, faz parte de um consórcio de 26 entidades, que fazem o projeto BEAST (Boosting European Advanced Missile System Technologies, no original em inglês).

À Lusa, a tecnológica portuguesa esclareceu que a sua contribuição visa a conceção de “uma plataforma de operações de aprendizagem automática com o objetivo de automatizar a implementação de modelos de IA no software principal do sistema de mísseis”.

“Esta plataforma procura simplificar os fluxos de trabalho, reduzir os erros humanos e acelerar o desenvolvimento e a atualização de componentes baseados em IA”, adiantou.

Portugal inova na Defesa

João Pedro Mortágua, diretor de desenvolvimento de negócios da empresa, explicou que a intervenção da Critical Software passa por incorporar inteligência artificial nos mísseis – através de operações de machine learning (em que os sistemas aprendem através da análise de dados e da identificação de padrões) –, que considerou uma novidade na área da defesa.

O atual contexto geopolítico e de conflitos às portas da Europa ocidental preocupam, mas, segundo o diretor da Critical Software, tem sido muito favorável ao investimento em inovação tecnológica e ao desenvolvimento de sistemas de defesa europeus.

Face a potenciais ameaças como sejam os aviões de combate de quinta e sexta geração, dispositivos aéreos não tripulados (drones), guerra eletrónica ou mísseis de cruzeiro, o especialista advogou a necessidade de o continente europeu estar preparado para responder.

A ameaça é premente e há um aumento enorme da procura, quer da inovação, quer do investimento. O projeto BEAST vem nessa lógica de trabalhar em conjunto, com países europeus, em sistemas de defesa avançados, interoperáveis, modelares e de rápido desenvolvimento, que possam dotar a Europa de maior capacidade de defesa”, explicou João Pedro Mortágua.

E, depois, há a “ética”…

Naquele que é, até à data, o maior projeto da área da defesa militar em que a tecnológica portuguesa participa, João Pedro Mortágua fez questão de sublinhar o “código de ética bastante estrito” existente na empresa.

O desenvolvimento de um sistema que poderá permitir que as capacidades dos mísseis “sejam mais inovadoras e com maior autonomia”, levanta, segundo o especialista, engenheiro aeroespacial de formação, questões de ética e de segurança das populações que terão de ser observadas.

“Tudo isto tem de ser muito bem acautelado para garantir que, de facto, não há aqui riscos para as populações. Obviamente que a questão dos requisitos de segurança e fiabilidade tem de ser garantida. Portanto, o nosso papel é de grande inovação, mas também de grande rigor”, enfatizou João Pedro Mortágua.

Nós estamos do lado dos bons, ou seja, de quem defende. Para nós a defesa é, de facto, defesa, não é para criar ferramentas nem dotar países ou Estados-membros [da UE] com maneiras de matar pessoas de forma indiscriminada. Pelo contrário, é defender populações, é salvar vidas humanas. E, portanto, este projeto é muito nesta lógica da defesa dos cidadãos europeus e nada em promover ataques nem mortes”, vincou.

O projeto deve começar no último trimestre deste ano e tem um horizonte de desenvolvimento de três anos, até finais de 2028.

A Critical Software está presente no mercado com soluções tecnológicas em diversos domínios, desde a aviação à exploração espacial, passando pelo setor financeiro, transportes, energia ou saúde, entre outros.

ZAP // Lusa

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