Sozinho e à espera de um telefonema: todos evitam Antonov, em Washington

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Maxence / Flickr

Embaixada da Rússia nos EUA

Antonov tenta falar com os americanos, não consegue; gostava de falar com Putin mas não consegue. Antonov é o embaixador da Rússia nos EUA.

Desde que a guerra na Ucrânia começou, algum dos nossos leitores pensou na situação do embaixador da Rússia nos Estados Unidos da América?

Eis o estranho caso, não de Benjamin Button, mas de Anatoly Ivanovich Antonov. Sim, ele mesmo: o embaixador da Rússia nos Estados Unidos da América.

As conversas entre Antonov e Vladimir Putin são fáceis de serem resumidas: não existem.

O portal Politico indica que o embaixador da Rússia não fala com o presidente da Rússia…desde que se tornou embaixador em Washington, há cinco anos.

Mesmo com a “operação militar especializada” – expressão utilizada em Moscovo e também em Washington, por Antonov – a decorrer, não surgiu qualquer conversa entre os dois. O embaixador suaviza esse silêncio: não fala directamente com Putin mas diz que tem sempre uma linha directa para falar com alguém do Kremlin.

Vladimir Putin, aparentemente, continua sem querer falar com o representante do seu país nos EUA; mas dentro do território dos EUA o cenário não é diferente. “Ninguém quer falar com ele”, lê-se no Politico.

Nas últimas semanas, Anatoly Antonov nunca conseguiu ter uma reunião com altos funcionários da Casa Branca e do Departamento do Estado. Os legisladores dos EUA nem o querem ver. No geral, tem sido ignorado.

Na verdade, a maioria dos responsáveis do Governo norte-americano nunca foi muito cordial com o embaixador russo. Por isso, estas “negas” não são surpreendentes, sobretudo no contexto bélico que atravessamos.

Anatoly Antonov tem sido ignorado e está sozinho. A sua embaixada está cada vez mais vazia. O vice-embaixador Sergey Trepelkov foi expulso, por coincidência, no dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia. Há cada vez menos funcionários no local e até o cozinheiro estará quase a ser expulso pelo Governo dos EUA.

Continua à espera de um telefonema para saber o que fazer a seguir. “Mas francamente, ele não sabe o que vai acontecer, porque ele não sabe quais serão os próximos passos de Moscovo”, declarou um especialista em assuntos russos, que preferiu manter anonimato.

Mas, afinal, o que Antonov diz sobre a guerra? “Falar sobre invasão russa à Ucrânia é uma perspectiva muito estreita. Estamos a falar sobre mudar a ordem mundial que foi criada pelos Estados Unidos da América, pelos países da NATO, após a dissolução da União Soviética”, respondeu o próprio embaixador.

Antonov fica incomodado quando vê imagens de pessoas a chorar e de corpos na rua, no conflito. E tem noção de que a Ucrânia “tem o direito de ser um país soberano”; mas reforça: “Não queremos qualquer ameaça vinda desse território. Não queremos que esse país se torne membro da NATO. Não queremos que os Estados Unidos ou outros países da NATO usem esse território contra a Federação Russa”.

Apesar do contexto actual, o embaixador russo continua a acreditar que Rússia e EUA “devem ser parceiros”, apesar de não o serem nesta fase. “É uma pena”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

3 Comments

    • Nisto concordamos. Ia escrever o mesmo. Já se antecipou…
      Em todo o caso, aquilo que é verdadeiramente dramático é que até o cozinheiro estará prestes a ser expulso. O que é uma chatice: O Senhor Embaixador, lá terá que expor a sua condição de privilegiado face a todo o povo russo e ir ao Mc (o original, não a cópia barata!)

  1. Mas querem eles próprios se instalar junto às fronteiras da NATO, compreende-se! Desde que qualquer meio (neste caso o mais radical), lhes dê oportunidade de roubar território, tudo bem e legal para eles!

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