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Em breve, o seu chefe poderá ser um algoritmo (ou já é)

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ZAP // Pixabay

Já pensou que, em breve, o seu chefe poderá ser um algoritmo, se é que já não o é? Os algoritmos assumem, cada vez mais, funções de gestão.

Já há algum tempo que convivemos com a ideia de que, um dia, os trabalhadores serão substituídos por robôs, mas não é apenas a mão de obra que caminha para a automatização – os patrões também!

Vivemos num tempo em que se vê os algoritmos a ganharem força, nomeadamente a assumirem funções como a triagem de candidaturas de emprego, delegação de trabalho, avaliação do desempenho dos trabalhadores e, no limite, na decisão de despedimento ou contratação.

Acredita-se que, à medida que os sistemas de vigilância e monitorização se tornam cada vez mais sofisticados, aumentará a capacidade de os gestores serem algoritmos, particularmente em áreas em que a tecnologia utilizada pode rastrear os movimentos dos trabalhadores.

Do ponto de vista do empregador, há várias vantagens em transferir tarefas dos humanos para algoritmos, uma vez que, assim, reduz os custos empresariais, automatiza as tarefas que demoram mais tempo a serem concluídas pelo comum mortal.

Os sistemas de Inteligência Artificial podem também descobrir formas de otimizar as organizações empresariais, explica o investigador português Tiago Vieira, estudante de doutoramento no European University Institute, num artigo no The Conversation.

Porém, nem tudo serão vantagens. Para alguns jornalistas, investigadores e políticos, há o risco de ocorrer o preconceito algorítmico, ou seja, quando o algoritmo avalia, por exemplo, um currículo, poderá beneficiá-lo em determinados aspetos em detrimento de outros.

É colocado em cima da mesa o problema da transparência, uma vez que os algoritmos clássicos são programados para tomarem decisões com base em instruções passo a passo e apenas dão resultados programados.

Já os algoritmos de machine learning, por sua vez, aprendem a tomar decisões autonomamente depois de analisarem muitos dados de formação, o que os torna mais complexos à medida que se desenvolvem.

Quando falamos em despedimentos, colocam-se outras questões, uma vez que não se consegue determinar se a decisão do algoritmo de despedir o funcionário foi tendenciosa, corrupta ou arbitrária.

Se estivéssemos perante qualquer um dos casos, como é que um funcionário provaria que o seu despedimento era resultado de motivações ilegais?

Os algoritmos cortam a função humana crítica da relação laboral.

O filósofo Jean-Jacques Rousseau dizia que o ser humano tem um “sentido natural de pena” e “repugnância inata a ver o seu semelhante sofrer”.

Embora tenhamos a noção que nem todos os patrões humanos são compassivos, também temos noção de que há 0% de hipóteses de que os patrões algoritmos o sejam!

Como ter um resultado positivo quando do outro lado existe um algoritmo como patrão?

No decorrer do case study realizado por Tiago Vieira e Robert Donoghue, investigador de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Bath, foi observado o nível de irritação demonstrado pelos trabalhadores da Amazon quando se vêem perante a incapacidade do algoritmo aceitar os seus apelos.

Outra conclusão do estudo é que algoritmos concebidos para maximizar a eficiência são indiferentes às emergências de cuidados infantis. Não têm, igualmente, tolerância para com aqueles trabalhadores que se movem lentamente, quando se encontram em processo de aprendizagem da função que vão desempenhar.

Os mesmos algoritmos não negoceiam para encontrar uma solução que ajude um trabalhador que tenha uma deficiência ou que esteja a travar uma luta com algum tipo de doença.

Posto isto, os trabalhadores que tenham um algoritmo como patrão, enfrentam alguns riscos, sendo, por isso, o material de estudo dos investigadores e criadores de software que tentam promover boas condições de trabalho.

Algumas potenciais soluções para esta questão é existirem avaliações regularmente de como os algoritmos afetam os trabalhadores e dar-lhes uma explicação de como esta tecnologia está a ser utilizada.

Teresa Campos, ZAP //

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