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Em ano de pandemia, mais de 23 milhões de crianças ficaram sem vacinas

Os números relativos a 2020 mostram um decréscimo de vacinas administradas sobretudo no Sudoeste Asiático e no Mediterrâneo Oriental. Para a Organização Mundial de Saúde, a atual crise sanitária está a expor crianças a “doenças terríveis” que podem ser facilmente prevenidas, tais como o sarampo, a poliomielite ou a meningite.

Caso ainda existissem dúvidas de que a pandemia da covid-19 atingiu com especial força os países mais desfavorecidos, agravando, assim, as desigualdades existentes, a Organização Mundial de Saúde e a UNICEF acabam de as dissipar com um novo relatório relativo à vacinação infantil em 2020.

Segundo o documento, no ano em que a pandemia transformou o mundo como o conhecíamos, cerca de 23 milhões de crianças ficaram por vacinar. Trata-se de um aumento de 3,7 milhões face ao ano de 2019 e a maior quebra nos programas de vacinação mundiais desde 1970.

Os dois organismos estimam que das 23 milhões de crianças, 17 milhões viram-se impedidas de tomar qualquer vacina durante 2020. Face ao ano anterior, mais de 3,5 milhões de crianças falharam a primeira dose da vacina tripa que protege contra a difteria, o tétano e a tosse convulsa (DTP-1), enquanto mais três milhões falharam a primeira dose da vacina contra o sarampo.

De acordo com o relatório, as crianças mais atingidas vivem em zonas de conflito, em zonas periféricas com poucos serviços essenciais, ou em habitações informais ou bairros de lata.

O flagelo tem maiores dimensões na região do Sudoeste Asiático e do Mediterrâneo Oriental. Em termos de países, a índia, o Paquistão e a Indonésia destacam-se pela negativa, já que são as nações onde mais aumentou o número de crianças que ainda não recebeu a primeira dose da vacina DTP-1. O situação é especialmente grave na índia, onde esse número mais do que duplicou, passando para mais de três milhões de crianças em 2020.

No continente africano, Moçambique é quem mais que sobressai, já que em 2020 cerca de 186 mil crianças não foram vacinadas com a primeira dose da DTP-1 – em 2019 foram 97 mil. Um lugar abaixo na tabela (em quinto da classificação mundial) está Angola que passou de 399 mil crianças sem vacinação contra a DTP-1 em 2019 para 482 em 2020.

Para Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, “numa altura em que os países reclamam vacinas contra acovid-19, temos recuado noutras imunizações, deixado as crianças expostas ao risco de doenças terríveis mas que podem ser prevenidas, como o sarampo, a poliomielite ou a meningite.”

“Os surtos de doenças múltiplas podem ser catastróficos para as comunidades e sistemas de saúde que já lutam contra a covid-19, tornando mais urgente que nunca investir na vacinação infantil e assegurar que todas as crianças sejam alcançadas”, disse, citado pelo Público.

Num balanço provisório, é já possível afirmar que os países de rendimento médio vivem atualmente com uma tendência de crescimento no que respeita a crianças não imunizadas. A índia, por exemplo, debate-se com uma queda de 91% para 85% no que concerne à cobertura da vacina contra a difteria, o tétano e a tosse convulsa.

No continente americano, a cobertura também decresceu de 91% para 82% ­- com números de 2016, apesar da principal justificação para os números, neste contexto geográfico, ser a desinformação, a instabilidade politica e as insuficiências da financiamento, avançam a Organização Mundial de Saúde e a UNICEF.

ARM, ZAP //

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