“À espera de um massacre”. Elite russa não terá planos de paz com a Ucrânia

Atef Safadi / EPA

A elite russa não terá planos de paz com a Ucrânia, pelo que as atuais negociações entre os dois países não deverão levar a nada em concreto.

A mais recente ronda de negociações na Turquia, entre responsáveis russos e ucranianos, sobre a guerra na Ucrânia, ficou marcada por um anúncio que poderia ser importante: a Rússia avisou que ia reduzir “radicalmente” a atividade militar perto de Kiev e de Chernihiv.

Foi um primeiro passo importante, mas outras regiões ucranianas continuam a lutar desesperadamente contra a invasão russa. Os especialistas mostraram-se apreensivos, temendo que as tropas fossem redistribuídas para o sul, onde o Kremlin expandiria a sua ação militar.

Muitos entendem que a recente ronda de negociações não deu em nada e terá sido em vão, com promessas vagas.

Recentemente, Medvedev publicou um texto sobre uma guerra impiedosa contra o “ucranianismo profundo”, que lembra o famoso discurso de “guerra total” de Goebbels, no dia 18 de fevereiro de 1943.

Medvedev fala do ataque a uma maternidade de Mariupol e do massacre em Bucha como casos “falsos” e produto “da cínica imaginação da propaganda ucraniana“.

Segundo o ex-presidente russo, há organizações não-governamentais e organizações governamentais geridas pelos “Governos ocidentais” a “cozinharem” estas alegadas mentiras por “grandes quantidades de dinheiro”. A sua intenção é “desumanizar a Rússia” e “denegrir” o país, defende.

Mas esta alegada desinformação também é uma prova de que o “ucranianismo profundo, alimentado pelo veneno anti-russo, é uma grande mentira”, refere Medvedev na publicação.

O portal The Insider realça uma teoria de que há neste momento uma “fação da paz” e uma “fação da guerra” na Rússia.

A primeira acredita que Zelenskyy é o devido Presidente do país e que devem ser perseguidas negociações de paz com a Ucrânia. A segunda fação, por sua vez, acredita na ‘desnazificação’ da Ucrânia e rejeita negociações.

Num artigo publicado no Nezavisimaya Gazeta, Dmitri Belousov, um dos chefes do Centro de Análise Macroeconómica e Previsão de Curto Prazo (CMASTF), defende que não há “fação da paz” na Rússia. Pelo contrário, há uma “fação de vítimas” que não tem qualquer influência sobre Putin ou sobre o Conselho de Segurança.

Belousov fala em dois cenários: um de “longo inverno”, caso as negociações de paz avancem, e outro de “conflito militar prolongado”.

Outra teoria sugere que a eventual existência de uma “fação da paz” não é mais do que uma “manobra estalinista” de Vladimir Putin.

Quando o Presidente russo identificar aqueles que estão demasiado felizes com o cessar-fogo que se aproxima, irá rapidamente enviar os serviços especiais e transformá-los em “traidores da nação”, explica o The Insider.

“O Kremlin vai invadir o leste da Ucrânia nos próximos dias. Um massacre está a chegar. A partir daí, o Kremlin reiterará as suas exigências através de negociações”, acrescenta o site russos de jornalismo de investigação.

Daniel Costa, ZAP //

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