Eis as primeiras amostras marcianas dignas de viajarem para a Terra

As primeiras amostras marcianas a serem enviadas para a Terra serão provenientes da Cratera Jezero, onde o rover Perseverance tem explorado o chão da cratera e o antigo delta na vizinhança.

A localização da cache inicial de amostras, chamada “Three Forks“, é plana e livre de obstáculos – um local ideal para a aterragem e operações de recolha pela campanha MSR (Mars Sample Return).

A campanha MSR é constituída por várias missões que vão enviar para a Terra as primeiras amostras cientificamente selecionadas da superfície de outro planeta.

O primeiro passo da campanha já está em curso – desde que o Perseverance aterrou na Cratera Jezero em 2021, o rover já explorou mais de 13 quilómetros e recolheu 14 amostras de rochas e ar marciano.

O plano é largar 10 tubos de amostragem em “Three Forks”.

“Nunca antes uma coleção de amostras de outro planeta foi recolhida e colocada para envio à Terra”, diz Thomas Zurbuchen, administrador associado da NASA para a ciência.

“A NASA e a ESA reviram o local proposto e as amostras de Marte que serão colocadas neste local já no próximo mês. Quando esse primeiro tubo estiver à superfície, será um momento histórico na exploração espacial“, acrescenta Thomas.

Ambas as agências aprovaram planos para dar início ao estabelecimento de um depósito de amostras à superfície de Marte e para completar a operação até ao início de 2023.

“A escolha do primeiro depósito em Marte torna esta campanha de exploração muito real e tangível. Agora temos um lugar para revisitar com amostras à nossa espera”, diz David Parker, diretor de Exploração Humana e Robótica da ESA.

“O facto de conseguirmos implementar este plano no início da missão é uma prova da competência da equipa internacional de engenheiros e cientistas que trabalham para a campanha MSR”, acrescenta.

Novos planos para o futuro

A Europa está a explorar Marte de mãos dadas com a NASA. Os próximos passos para enviar amostras de Marte para a Terra em 2033 foram acordados em julho, após uma revisão da campanha por um conselho independente.

No dia 19 de outubro, as agências espaciais aprovaram o plano de depositar a primeira cache de amostras à superfície.

Uma reconfiguração da campanha inclui agora dois helicópteros de recuperação de amostras em vez de um rover adicional.

Uma recente avaliação da fiabilidade do Perseverance e da sua esperança de vida aumentou a confiança de que o rover será capaz de entregar amostras ao SRL (Sample Retrieval Lander) da NASA em 2030.

Até o primeiro depósito ser estabelecido, o Perseverance está a recolher duas amostras de cada rocha marciana – uma a ser deixada à superfície como parte do depósito de amostras, e uma segunda que é mantida dentro da barriga do rover para ser diretamente transferida para o SRL.

A ESA dará assistência robótica com o STA (Sample Transfer Arm). O braço robótico de 2,5 metros vai recolher os tubos cheios de material precioso de Marte e transferi-los-á para um foguetão para lançamento até órbita marciana.

No caso do Perseverance não ser capaz de trazer os tubos de amostragem para o braço robótico da ESA em 2030, então dois pequenos helicópteros libertados pelo “lander” irão buscá-los.

“O primeiro depósito de amostras marcianas pode ser considerado como um grande passo de mitigação de riscos para a campanha MSR”, assinala David.

O europeu ERO (Earth Return Orbiter) será então a primeira nave espacial interplanetária a capturar amostras em órbita marciana e a fazer uma viagem de regresso à Terra.

Diversidade marciana

Os cientistas europeus fazem parte de uma equipa internacional que dá conselhos sobre as amostras a escolher para o envio e os melhores métodos de análise a utilizar quando chegarem à Terra.

A comunidade científica concluiu que as rochas ígneas e sedimentares encontradas até agora constituem um caso cientificamente convincente para a viagem.

Os cientistas estão muito entusiasmados com a diversidade da recolha de amostras e com a complexidade das amostras individuais.

“Trazer estas amostras para os nossos laboratórios permitir-nos-ia alcançar uma ciência revolucionária e compreender a área específica de Jezero”, diz Gerhard Kminek, cientista líder da MSR na ESA.

“Poderíamos também aprender mais sobre as condições ambientais em Marte numa altura em que a vida emergiu na Terra e talvez no Planeta Vermelho”, acrescenta Gerhard.

O trabalho do Perseverance está longe de estar concluído após o seu primeiro depósito de amostras. A seguir, o Perseverance seguirá até ao topo do delta para recolher muitas mais amostras de rocha e poeira marciana.

// CCVAlg

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