Eiffel morreu há 100 anos. Além da famosa torre em Paris, deixou duas pontes em Portugal

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ZAP // Roberto Santorini / Wikipedia

Ponte Eiffel, Viana do Castelo

Esta sexta-feira celebrou-se em França o aniversário da inauguração da Torre Eiffel, no dia 31 de Março 1889 — que em 2023 coincide com o 100º aniversário da morte de Gustave Eiffel, o autor do monumento que se tornou o símbolo de Paris e um dos mais conhecidos em todo o mundo.

Além da famosa Torre Eiffel, Gustave Eiffel construiu uma série de outros edifícios e estruturas por todo o mundo, tais como a estação ferroviária de Budapeste, na Hungria, o observatório de Nice, no sul de França, e a estrutura da estátua da Liberdade em Nova Iorque.

A obra do engenheiro francês está presente em Portugal em duas icónicas construções em ferro: a Ponte Dona Maria Pia sobre o rio Douro, na cidade do Porto, e a Ponte Rodo-Ferroviária de Viana do Castelo, mais conhecida como Ponte Eiffel.

A construção da Ponte Dona Maria Pia foi determinante no percurso de Eiffel e também um marco importante na evolução da engenharia civil.

Depois de um concurso público, a então Companhia Real dos Caminhos de Ferro adjudicou em 1875 a construção desta ponte à companhia Eiffel, fundada pouco mais de dez anos antes. Construída no tempo record de dois anos, aquela que foi a primeira ponte de ferro do Porto foi inaugurada em 1877.

Uma ponte que foi uma revolução

A construção, que surge na época da revolução industrial, da arquitectura metálica e do desenvolvimento dos caminhos-de-ferro, veio responder à necessidade de estender o caminho-de-ferro de Lisboa até à cidade do Porto, quando outrora parava na outra margem do Douro, em Vila Nova de Gaia.

Por ser uma das suas primeiras obras importantes, Gustave Eiffel supervisionou pessoalmente a construção da ponte Maria Pia, apoiando-se no engenheiro Emile Nouguier bem como em Théophile Seyrig, sócio maioritário da empresa de Eiffel e engenheiro que concebeu o projecto dessa infra-estrutura.

Pouco depois da inauguração da ponte Maria Pia, rompeu-se o contrato entre Gustave Eiffel e Theophile Seyrig, que reclamava a paternidade da sua construção. Alguns anos mais tarde, em 1881, Seyrig venceria Eiffel no concurso para a construção da ponte Dom Luís no Porto, muito parecida com a ponte Maria Pia.

Verity Cridland / Wikipedia

Ponte Dona Maria Pia, Porto

Com o seu arco de 160 metros, a sua estrutura elegante e aparentemente leve, a ponte Maria Pia foi uma revolução na engenharia, nomeadamente com a utilização de novos materiais, mas não só, diz à RFI o arquiteto Domingos Tavares.

“Um dos problemas grandes que a Ponte Maria Pia teve — e continua a ter — é o da conservação, por causa do problema das ligações. Ora, a ponte em aço é toda ela soldada e isto é um avanço tecnológico que resulta da experiência da ponte do caminho-de-ferro”, explica o professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.

“O caminho-de-ferro tem esta particularidade que é o ritmo da marcha do comboio por causa do motor da máquina que trabalha na base de um ritmo homogéneo. Isto provoca vibrações que são coincidentes e que se multiplicam. Por isso, a Ponte Maria Pia traz-nos um avanço muito interessante. Mostrou que era preciso construir de outra maneira”, considera o arquitecto.

‘Ex-líbris’ de Viana do Castelo

Uma das principais pontes que Eiffel construiu, logo a seguir à Ponte Maria Pia, foi a que ficou conhecida como a ‘Ponte Eiffel’ em Viana do Castelo.

Com dois tabuleiros — o inferior para a circulação ferroviária e o superior para a passagem rodoviária — esta ponte foi inaugurada em 1878 e foi também uma inovação.

Com os seus mais de 700 metros de comprimento, era uma das maiores da época, e o seu modo de construção foi considerado inédito até então, como explica Rui Faria Viana, diretor da biblioteca municipal de Viana do Castelo e autor do livro ‘a travessia do rio Lima em Viana do Castelo’.

“A forma como esta ponte foi construída, designada de ponte empurrada, é uma tecnologia que começa a ser usada no final do século XIX e princípio do século XX”, explica Rui Faria Viana.

Ponte Eiffel, Viana do Castelo

“É um método em que a construção é feita a partir de uma das margens e portanto a sua montagem realiza-se depois sobre uma plataforma que permite o facto de ser lançada para a margem seguinte”, acrescenta o diretor da biblioteca municipal de Viana.

“Esta é uma tecnologia que permite também que a obra seja muito mais segura, muito mais rápida e que o transporte dos materiais seja também muito mais rápido”, explica o estudioso.

Com o passar do tempo, a Ponte Eiffel tornou-se um ‘ex-líbris’ da cidade e acabou por “fazer parte da paisagem” de Viana do Castelo. Quase 145 anos depois de ter sido inaugurada, continua em funcionamento.

O mesmo não acontece com a Ponte Maria Pia, que, apesar de ter sido classificada monumento nacional em 1982 e de ser neste momento candidata a património da Humanidade, tem um destino incerto, depois de ter encerrado em 1991.

// RFI

3 Comments

    • Caro leitor,
      Há em Portugal várias pontes de ferro construídas pela empresa de Gustave Eiffel, como é o caso da Ponte Ferroviária sobre o rio Coura, Caminha.
      No entanto, apenas são atribuídas ao próprio Gustave Eiffel a autoria da ponte Dona Maria Pia sobre o rio Douro, no Porto, e da Ponte Rodo-Ferroviária sobre o Rio Lima, em Viana do Castelo.

  1. A Ponte Ferroviaria Que Liga Santo Amaro De Oeiras, A Oeiras, Um Breve Percurso, Foi Também, Construida Por Gustave Eiffel. Existe Uma Placa A Assinalar O Facto.

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