Erwin Rommel era um dos oficiais nazis favoritos de Hitler e a sua carreira e as lendas que à sua volta se construíram inspiraram muitos livros e filmes. Rommel planeou conquistar o Norte de África a partir de uma gruta no Egito e perdeu. Agora, o país reabriu o museu em sua honra.
O museu está instalado no exato local de onde Erwin Rommel comandou o corpo expedicionário alemão enviado para o Norte de África – o Afrika Korps – com o objetivo de ajudar as tropas de Mussolini a conter o avanço dos britânicos no território: uma caverna do tempo dos romanos numa colina de Marsa Matruh, cidade turística à beira do Mediterrâneo, a 500 quilómetros do Cairo, a capital.
Agora, foi reaberto pelo 75º aniversário das batalhas de El Alamein, que ditaram o princípio do fim do Eixo em África, cenário de guerra em que este general, um dos favoritos de Hitler, cimentou definitivamente a sua popularidade e ganhou o “cognome” por que ficaria conhecido graças aos seus audaciosos ataques surpresa – Raposa do Deserto.
Segundo o Público, que cita o El Mundo, o ministro das Antiguidades egípcio, Khaled al Anani, disse que este era “um ato cheio de simbolismo”, evocando o aniversário e o facto de a gruta – que os romanos usavam para armazenar cereais e que agora guarda artefactos militares e objetos pessoais do homem que o Führer nomeou marechal de campo e depois forçou ao suicídio – ter estado fechada boa parte da última década.
O material exposto, esclarece Al Anani, “foi cedido pela família Rommel, pela polícia local e pelo Ministério das Antiguidades”.
O herói que duvidava de Hitler
Quando estava no terreno, perante as dificuldades crescentes no abastecimento e a exaustão que afetava há muito os soldados ali deslocados, Rommel, que obtivera vitórias importantes no Norte de África, pediu a Berlim que autorizasse a retirada das tropas.
Em vez de aceitar o pedido, Hitler deu ordens para que atacassem o Cairo e o Canal do Suez no Verão de 1942, acabando os britânicos por travar as forças italo-alemãs em El Alamein, em combates duríssimos. O Führer acabou por determinar que regressassem a casa em Março do ano seguinte.
Rommel foi então colocado em França, com o encargo de proteger a linha de costa. Mas Hitler e outros oficiais discordaram dos seus planos, ignorando, por exemplo, quando o general defendeu que um ataque aliado se faria, muito provavelmente, tendo as praias da Normandia por entrada – acabaram por pôr em causa a “muralha” alemã.
Perante isto, Rommel começou a duvidar do discernimento de Hitler e da sua capacidade para estabelecer um acordo com as potências aliadas. Depois dos desembarques da Normandia, em Junho de 1944, aliás, chegou a dizer ao líder do III Reich que a guerra estava perdida e que era preciso encontrar uma solução para a paz.
Conhecedora da sua opinião, a oposição a Hitler, clandestina, naturalmente, propôs ao general que dirigira o Afrika Korps assumir o cargo que pertencia ao ditador nazi na eventualidade de este vir a ser deposto, mas sem nunca revelar que tencionava assassiná-lo.
Rommel, conta a História, não rejeitou a proposta, mas nunca teria concordado com tal plano – executar alguém por motivos políticos era algo que nunca aceitara, nem às ordens de Hitler (que o diga o capitão britânico Roy Wooldridge, capturado durante uma missão de reconhecimento na Normandia, que foi salvo pelo general de um pelotão de fuzilamento e enviado para um campo de prisioneiros, não sem que antes Rommel lhe oferecesse uma farta refeição, uma cerveja e um maço de cigarros, depois de perceber que o militar nada diria sobre os planos aliados).
Em Julho de 1944, o carro onde seguia foi atingido durante um bombardeamento aéreo, o que lhe provocou graves ferimentos na cabeça. Estava ainda a recuperar em casa quando dois oficiais lhe bateram à porta.
Acusado de conspirar para matar o Führer – alegavam que fora cúmplice da tentativa de homicídio falhada de Von Stauffenberg, a 20 de Julho -, os militares deram-lhe a escolher entre um julgamento público, com a pena de morte como desfecho certo e a sua família enviada para um campo de prisioneiros, e um suicídio discreto com a garantia de que a sua mulher e o seu filho não seriam perseguidos.
Desta vez sem surpresas, Rommel escolheu a segunda hipótese, sem deixar claro que papel tivera no golpe contra Hitler. Tomou veneno e foi enterrado com todas as honras militares.
Foi Manfred, o filho que na altura tinha 15 anos, que doou boa parte dos objetos pessoais que agora se podem ver no renovado museu. Lembra-se bem, disse em 2011, da última e breve conversa com o pai, antes de Rommel entrar no carro com os dois oficiais que deveriam levá-lo a Berlim: “Estarei morto dentro de um quarto de hora“, disse-lhe, antes de se despedir.
The Desert Fox, filme de 1951 dirigido por Henry Hathaway, concentra-se precisamente nestes conturbados últimos meses do general que os aliados temiam e, aparentemente, respeitavam. E, passados poucos mais de cinco anos do fim do conflito, não foge a retratá-lo, em parte, como um herói.
Erwin Rommel foi, além de um militar brilhante, uma figura no mínimo controversa, mas isso não parece inquietar os egípcios. Não há vestígios de qualquer desconforto nas notícias dos meios de comunicação regionais em língua inglesa sobre a reinauguração deste museu dedicado a um general que esteve entre os eleitos de Hitler.