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Eanes diz que uma democraciazinha sossegada não é uma democracia

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Tiago Petinga / Lusa

O antigo presidente da República, António Ramalho Eanes

O antigo presidente da República, António Ramalho Eanes

O ex-Presidente da República António Ramalho Eanes afirmou neste sábado que a sociedade “está um pouco crispada artificialmente”, mas salientou que a “democraciazinha muito sossegada” que alguns quererão não é uma verdadeira democracia.

“A sociedade está um pouco crispada artificialmente. É necessário olhar para o que é a democracia. É uma regime de crise permanente, de ideias, interesses e valores”, disse o antigo chefe de Estado à margem da dupla cerimónia de homenagem de que foi alvo em Castelo Branco e Alcains.

“O grande mérito da democracia é que essa crise é dinâmica, cria impulsos de modernização, estímulos e liberdade”, acrescentou Eanes.

“Por vezes tenho a impressão que alguns portugueses parece que queriam uma democraciazinha muito sossegada. Isso não é democracia”, sustentou Eanes.

Para o antigo Presidente da República, a democracia é o jogo do confronto, da discussão, da defesa e do ataque.

“É a sociedade em movimento, a expressar aquilo que são as suas forças. O que me custa e que não gosto é que haja uma certa crispação na vida politica portuguesa”, concluiu.

Eanes assinalou ainda que há uma certa tendência dos portugueses para se queixarem dos políticos e, “com alguma razão”.

Contudo, adiantou que também os portugueses têm que entender que devem ter uma relação diferente com os políticos, para que estes possam ter uma atuação diferente.

“Uma atuação só através do voto de quatro em quatro anos não é suficiente. Isso produz uma democracia eleitoral, mas nós não queremos isso”, defende Eanes.

“Queremos uma democracia que seja de participação, de deliberação e de libertação. E, isso só se faz com a participação efetiva de todos na vida politica”, concluiu.

António Ramalho Eanes nasceu em Alcains, a 25 de Janeiro de 1935.

Oficial militar e ex-político português, o então General Eanes foi o 16.º Presidente de Portugal, entre 14 de julho de 1976 a 30 de setembro de 1982, sucedendo a Costa Comes e antecedendo Mário Soares.

Em 1975, na altura com a patente de Tenente-Coronel, dirigiu as operações militares do Golpe de 25 de Novembro contra a facção mais radical da esquerda política do MFA.

Venceu as eleições presidenciais de 1976 com 61% dos votos, batendo Otelo Saraiva de Carvalho e Pinheiro de Azevedo. Em 1980 foi reeleito com 56% dos votos, vencendo o candidato apoiado por PSD, CDS e PPM, general Soares Carneiro.

ZAP / Lusa

2 Comments

  1. Oh Sr. General, lembra-se da democraciazinha que originou o PRD? E o que foi feito do PRD poucochinho depois? A Srª sua Exma Esposa empenhou-se… Como sabe a democracia deve ser intestina, camarada! Custa-lhe discriminar a estratificação de grupos de eleitores dispersada nas “consciências” do voto por valores de senso comum? A quem pretende apontar? A mensagem implícita não chega a todos meu caro general! Sabe que a democracia no seu tempo também teve umas forças “muito democráticas” ditas “populares”, dedicadas a crimes de sangue e assaltos… E em política, ou actos de mera cidadania, há silêncios demasiado longos, fora de contratempo que não sendo ruído, deitam por terra as notas seguintes… A cada vez, por melhor que soem!

  2. A História reserva lugares a personalidades por vezes incompreendidas no seu tempo. Mais que as simpatias, que esta personalidade não gerava amiúde, o exemplo que deixou, humano e complexo, obriga-me e a outros como eu que nunca o aceitaram no calor dos acontecimentos, a respeitá-lo e ouvi-lo hoje, pela forma como entende e o afastamento com que observa os factos “acessórios”, prendendo-se com a essência relevante. Sobre os erros e maus entendimentos do seu percurso acredito que foram fruto de uma visão honesta e empenhada. É uma personalidade respeitável e a ouvir! Mesmo que não se simpatize….

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