A Ilha de Hart, no Bronx, Nova Iorque, vai ser transformada num parque público ainda em 2023. Objetivo é partilhar a história da ilha onde a cidade norte-americana enterra mais de 1000 pessoas por ano.
Durante o século XIX, os 53 hectares que formam a Ilha de Hart, no Bronx, em Nova Iorque, já abrigaram de tudo um pouco – hospitais e sanatórios, escolas e reformatórios, prisões, bases militares e até um centro de reabilitação de drogas.
Mas já há mais de 150 anos que constituem o maior cemitério público dos EUA. Com cerca de 1000 enterros por ano, o seu solo conta já com os restos mortais de mais de um milhão de nova iorquinos.
Depois de muitos esforços, a ilha irá, no decorrer de 2023, tornar-se um parque aberto ao público, que contará com visitas guiadas realizadas por guardas-florestais.
Devido a restrições impostas pelo Departamento de Correção de Nova Iorque, que geria o espaço, as visitas foram sempre dificultadas.
Mas desde 2019, ano em que a cidade transferiu a gestão do cemitério para o Departamento de Parques e Recreação, têm sido feitos esforços para facilitar o acesso ao público, com o objetivo de dar a conhecer a história da ilha.
Segundo a comissária do departamento, Sue Donoghue, a abertura de Hart marca um novo começo na história da ilha.
“Durante décadas, a ilha Hart foi incompreendida e estigmatizada. Mas hoje é um novo dia”, afirma, em declarações ao New York Times, a comissária, que tem contado com o apoio da Hart island Project, uma organização sem fins lucrativos liderada por Melinda Hunt que tem procurado facilitar a abertura da ilha ao público.
“Trata-se de voltar a ligar a ilha às pessoas de todo o mundo que têm um ente-querido lá enterrado, dando-lhes uma voz”, afirmou a artista visual à CBC.
A maneira mais eficaz de abrir o espaço ao público está ainda por decidir, e a implementação de novos meios e rotas de transporte, partindo do Bronx, é uma possibilidade.
Apesar da abertura ao público, o acesso à ilha manter-se-á limitado nos dias de enterros, sendo exclusivo às famílias dos falecidos.
Marjorie Velásquez, membro do Conselho de Nova Iorque, reforça que uma das prioridades do projeto passa por honrar e respeitar os mortos que jazem na ilha.
“Tem de ser um local onde possamos todos refletir sobre o valor da vida e sobre as nossas prioridades e relembrar-nos que nenhum de nós escapa à morte. Acabamos todos juntos”, acrescentou Velásquez.
O cemitério tem recebido nos seus campos cada vez mais indivíduos de variados contextos sociais e económicos, facto que, de acordo com o Washington Post, se deve não só ao grande aumento dos custos dos enterros privados, mas também a um declínio da afiliação religiosa no país norte-americano.
A epidemia do HIV, na década de 80, e a mais recente crise sanitária provocada pela covid-19 também potenciaram o aumento de enterros em massa no espaço.